Música

Muito mais do que mero barulho

Produtor, músico e compositor Barulhista comemora dez anos de carreira entre parcerias e projetos individuais

Por Gustavo Rocha
Publicado em 10 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Em 2006, durante a passagem de som de uma banda de amigos, um técnico pedia, um a um, para que os jovens artistas testassem seus instrumentos: “guitarrista”, “baterista”, “baixista”. Ao chegar a vez de Davidson Soares, com toda sua parafernália de objetos reaproveitados, a cabeça do técnico deu um nó, e ele emendou um “vai, barulhista!”.

Assim, nascia o nome artístico de um dos compositores e produtores mais prolíficos da cena de Belo Horizonte (e nacional). Em outubro, Barulhista comemora dez anos de seu primeiro trabalho solo, “Comecei a Ser”. Além do requinte de suas trilhas, talvez sua principal característica seja o trânsito entre diversos estilos musicais, sem estabelecer uma hierarquia de suas preferências. “Eu ouço João Gilberto, funk carioca, Stravinski e os passarinhos que cantam na minha varanda”, pontua ele. A assinatura visual de Barulhista é uma cadeira, pois, conforme explica, ele compõe “músicas para dançar sentado”.

Com sua polivalência, Barulhista acumula trabalhos com músicos importantes, como Thiago Delegado, Sérgio Pererê e Marcelo Veronez, com quem, inclusive, está em fase final de gravação de um novo disco. Barulhista é parceiro também de Richard Neves, tecladista do Pato Fu, e tem passagem pela banda instrumental mineira Constantina.

Histórico. Filho de pai baterista e de mãe cantora de coral de igreja evangélica, o artista sempre se viu cercado, desde a infância, pela música. “Lembro que um dos meus primeiros presentes foi um par de baquetas. Eu comecei a batucar, desde muito pequeno, em todos os lugares e nunca fui reprimido por meus pais por isso”, recorda. “Na minha casa, a gente escutava muita rádio, tudo o que tocava, desde as músicas de louvor até Led Zeppelin”, completa.

O interesse pelo ritmo e pela batucada seguiram firmes com Barulhista. Aos 12 anos, ele foi convidado para fazer seu primeiro show, na festa de aniversário de um dos amigos. Desde bastante jovem, ele demonstrava sua verve iconoclasta, pois tocou apenas latas e panelas. Embora tenha aprendido bateria com seu pai, o artista adotou o violão como seu instrumento, pela facilidade de transporte e também por sua característica acústica, sem necessidade de eletricidade para o funcionamento. “Ainda assim, usava o violão de forma percussiva, tirando sons de sua estrutura”, pontua Barulhista.

A curiosidade por outras sonoridades se transformou na marca do artista, que sempre teve no grupo mineiro O Grivo uma referência para seu trabalho. “Eles lidam com o som de um jeito que me interessa, mas mantêm uma pureza sonora que eu tendo a deixar mais popular”, compara, acrescentando o nome do também mineiro Babilak Bah entre os que admira.

Se antes sua rotina criativa envolvia gravadores de fita cassete e objetos peculiares para produzir novos sons, as explorações de Barulhista ganharam um forte aliado, uma vez que o artista começou a produzir com computadores. “A única diferença entre o piano e o laptop é o peso. O computador me possibilitou acelerar o processo. Antes era necessário procurar a fonte e gravar. Com o computador, eu tenho acesso direto. Comecei a fazer muitos discos”, diz.

 

O diálogo entre a trilha e a cena

Um terreno pelo qual Barulhista também se aventura é o teatro, já tendo criado trilhas originais para vários trabalhos, como os espetáculos “180 Dias de Inverno” e “Talvez Eu Me Despeça”, da Cia. Afeta; “A Tardinha no Ocidente”, da Primeira Campainha, e “Chão de Pequenos”, da Cia. Negra de Teatro, dentre outros.

O artista destaca sua criação para “Fauna”, do Quatroloscinco, que está circulando pelo Brasil com o projeto Palco Giratório. “É uma alegria ver minha trilha circular por cidades que eu nunca fui e, provavelmente, nunca irei”, destaca ele.

Barulhista gosta de participar de processos de criação com trilha desde o princípio. No espetáculo “19ª Conferência do Fim do Mundo”, a troca artística foi tamanha que ele assumiu um pequeno papel na peça. “Eu faço o rapaz do som, que liga os cabos, as caixas e microfones da conferência. Isso me coloca no meu lugar de fala de estar sempre invisível”, destaca.

Questionado se deseja repetir a experiência, Barulhista realça que depende da proposta e revela a ansiedade que a curta participação no trabalho provocou nele: “Encarar uma plateia e falar um texto é algo muito difícil para mim. É uma expectativa absurda até chegar o momento. A única facilidade é que o personagem se parece comigo”, pondera.

Acompanhe!

Prolífico, Barulhista lançou, ao longo de dez anos de carreira, 13 álbuns individuais. Para outubro, ele prepara mais um, desta vez um título dedicado às crianças, que se chamará “Barulhinho”

Para conhecer todos seus álbuns e outros trabalhos: www.barulhista.com

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