Nas “situações que deixam você sem palavras”, quando se “tem apenas uma noção das coisas”, “é aí que entra a dança”, definiu a coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009). Pois é exatamente a dança, uma das três artes cênicas criadas na Antiguidade (ao lado do teatro e da música), que conduz os passos da nova temporada “Fora de Série”, que estreia amanhã.
Encampada pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais há quatro anos, a iniciativa, como não poderia deixar de ser, oferece um par mais do que apropriado para a sua atual vedete. “Música e dança sempre viveram uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que coreógrafos criaram a partir de canções, houve diversos casos contrários, como nos mostra a histórica ‘A Sagração da Primavera’, do (compositor russo) Igor Stravinsky”, exemplifica o maestro Marcos Arakaki.
Além do quesito paridade, o regente aponta o tempo como mais uma prova da força dessa relação. “Existe uma ligação entre música sinfônica e dança desde as primeiras óperas, com balés e movimentos para entreter o público durante o drama. Isso sem falar no período barroco. As suítes instrumentais nada mais são do que um conjunto de danças com passos característicos, como o minueto”, destaca.
Repertório. Para a apresentação, a orquestra selecionou obras de quatro compositores de diferentes nacionalidades. O russo Ilitch Tchaikovsky (1840-1893) comparece com a suíte de “A Bela Adormecida”. Do norte-americano Aaron Copland (1900-1990) foi pinçada a peça “Rodeio: Quatro Episódios de Dança”. O Brasil é representado por Heitor Villa-Lobos (1887-1959) com sua “Danças Africanas”. E, por fim, “Danças do Balé Estância”, do argentino Alberto Ginastera (1916-1983), fecha os trabalhos da noite.
“O que há em comum entre essas composições, além da presença da dança, é que, durante o século XIX e parte do século XX, o viés nacionalista tomou conta, com as culturas locais sendo bastante exaltadas. Mesmo na obra do Tchaikovsky, os grandes temas da Rússia o guiam”, afiança Arakaki, que aproveita para destrinchar as demais peças.
“Copland se vale do folclore para nos remeter ao interior dos Estados Unidos. Villa-Lobos mostra a importância histórica das danças africanas na formação da nossa nação, cultura e ritmo. E o Ginastera retrata a vida do homem dos pampas, indo de uma dança suave, como se fosse a brisa tocando nas plantações, ao ritmo braçal, marcado, até encerrar com a celebração da colheita”, diz.
Serviço. “Fora de Série”, amanhã, às 18h, na Sala Minas Gerais (rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto). De R$ 46 (coro) a R$ 120 (balcão principal)
Ouça um trecho das “Danças Africanas”, de Villa Lobos: