A rádio Inconfidência está completando 40 anos em meio a um cenário de incertezas. Com o início do governo de Romeu Zema (Novo) e junto com as exonerações que com ele vieram, surgiram muitas especulações sobre o futuro da comunicação pública em Minas Gerais. E a situação em que se encontra a rádio não é recente.
Ainda no governo de Fernando Pimentel (PT), os trabalhadores da Inconfidência enfrentaram dificuldades. Houve paralisações das atividades no ano passado para exigir reajuste de salários e do tíquete alimentação, pagamento de abono e outras reivindicações. Recentemente, após a exoneração do então presidente da rádio, o jornalista e professor Elias Santos, o novo gestor, Ronan Scoralick, anunciou a demissão de outros funcionários comissionados, fato que gerou um clima de apreensão nos corredores da emissora. Outra demissão que chamou a atenção foi a do jornalista Múcio Bolivar. Ele produzia e apresentava o programa “Trem Caipira”, que estava no ar diariamente havia 28 anos.
O clima de incertezas vem a reboque da situação da Rede Minas. Recentemente, foram exonerados todos os que ocupavam cargos comissionados, o que tirou da TV mais de 70 pessoas. A rádio Inconfidência e a Rede Minas são vinculadas à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, comandada por Marcelo Matte.
Segundo a diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Lina Rocha, Marcelo Matte garantiu que não vai haver o fechamento da rádio. “No entanto, não houve um comunicado oficial. O que existem são boatos”, diz Lina, que também é uma das funcionárias da emissora.
O jornalista Tutti Maravilha, que comanda o programa “Bazar Maravilha”, chamou atenção para a importância da emissora. “Existe muita especulação, mas temos que tratar o assunto com o máximo de delicadeza possível. Temos que ter a noção do que representa a rádio Inconfidência para o Estado. Toda mudança gera insegurança, mas acho que o tempo vai destilando essas emoções”, pondera Tutti.
Diagnóstico
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais emitiu nota, afirmando que “o novo presidente da rádio Inconfidência, Ronan Scoralick, foi nomeado no último dia 15 de março e, desde então, vem trabalhando na elaboração de um diagnóstico geral da emissora, no intuito de compreender de forma detalhada a situação financeira e a grade de programação da rádio”. A partir desse diagnóstico, diz o comunicado, Scoralick apresentará ao secretário Marcelo Matte um planejamento orçamentário e estratégico para a gestão da emissora nos próximos anos, que também será divulgado para a imprensa e a sociedade em geral.
No texto, o órgão afirma que atua “no fortalecimento da função pública da rádio e na busca por uma maior sustentabilidade econômica da emissora”. “A construção de uma grade de programação de qualidade e a garantia de isenção do jornalismo passam necessariamente pelo planejamento adequado da instituição, que deve ser elaborado a partir de um diagnóstico e da definição de metas objetivas para os próximos anos”, conclui a nota.
Longa trajetória pela cultura de todos os mineiros
A rádio Inconfidência FM 100,9 foi fundada no dia 2 de fevereiro de 1979. Também conhecida como Brasileiríssima – a música brasileira ocupa 100% de espaço na grade –, apresenta ao público uma programação diversificada, genuinamente mineira em sua essência, promovendo, patrocinando e apoiando a cultura, a arte e o lazer.
A Inconfidência foi uma espécie de trincheira da diversidade da MPB num momento em que a indústria fonográfica baseou suas estratégias de divulgação em duas frentes: o sucesso comercial internacional e as monoculturas de estilos e gêneros nacionais, predominantes nas emissoras comerciais.
Fazem parte da programação o “Memória Nacional”, “Estúdio 100,9”, “Almanaque Brasil”, “Sambossa” e “A Noite Vai Ser Boa”, entre outros. Em 2017, passou a integrar a Estação da Cultura Presidente Itamar Franco, que engloba três órgãos do Estado: a Rádio Inconfidência, a Rede Minas e a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. A rádio atinge um raio de 100 km ao redor de Belo Horizonte.
Já a rádio Inconfidência AM 880 foi fundada no dia 3 de setembro de 1936, com o slogan: “A voz de Minas para toda a América”. Em 1938, a emissora foi a primeira do Brasil a transmitir de outro país a Copa do Mundo de futebol.