No festival Canto Aberto, de 1992, a cidade mineira de Três Pontas assistiu a uma apresentação que ficou cravada na memória de Isabela Morais, 31, nascida no município do sul de Minas. Naquela ocasião, a cantora Ber, mãe de Isabela, levou ao palco uma parceria com Gileno Tiso, irmão de Wagner Tiso.
As coincidências se somavam. Enquanto o festival completava dez anos de vida, fazia uma década que morrera Elis Regina (1945-1982), a homenageada da música “Cantar Elis”. O poema, que deu origem à canção, é a mais remota lembrança que Isabela tem de Elis. Porém, segundo consta, ela já ouvia a intérprete “desde a barriga da mãe”.
Isabela se lembra de, aos 4 anos, dormir com a camiseta do festival em que sua progenitora defendeu o legado da Pimentinha. Agora, é ela quem se atreve a revisitar os versos e gestos eternizados por aquela que, segundo críticos como Zuza Homem de Mello e Julio Maria, ainda é a maior cantora do Brasil.
“Desde muito novinha, nos bares e na banda do meu irmão, eu já cantava Elis. Fiquei conhecida na minha cidade como a menina que cantava ‘Como Nossos Pais’”, entrega Isabela.
A intenção do espetáculo “De Coisas Que Aprendi com Elis”, que retorna neste sábado (24) a Belo Horizonte depois de uma estreia com casa lotada no ano passado e temporada de sucesso no Rio, é “contar um pouco da história da música brasileira através da maior influência que eu tive enquanto intérprete”, resume Isabela. Outro ponto de sustentação é a relação da artista gaúcha com “a história política e social do país”, completa.
“Chega a assustar a atualidade de ‘Onze Fitas’ (Fátima Guedes). É, ao mesmo tempo, triste e forte que a violência descrita ali continue dizendo tanto sobre nós”, exemplifica Isabela. “Toda a obra da Elis foi feita durante o Estado de exceção. Ela cantou, mas não viveu a abertura política”, lamenta.
Repertório. No palco, desfilam clássicos de Ary Barroso, Chico Buarque e João Bosco. “Se eu não cantar ‘O Bêbado e a Equilibrista’ a galera pede o dinheiro de volta”, brinca Isabela. Alçada a hino da anistia durante a ditadura militar, a faixa integra o álbum “Elis, Essa Mulher” (1979), cuja flor que ilustra a capa serviu de inspiração para a cenografia do show.
“A flor é um adereço que aparece em diversos momentos da carreira da Elis. Ela tinha uma consciência ambiental muito forte para a época”, salienta. Para Isabela, o diferencial de Elis foi “colocar seu domínio técnico a serviço da emoção, com muita entrega e verdade”, conclui.
Serviço. “De Coisas Que Aprendi com Elis”, com Isabela Morais, neste sábado (24), às 21h, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro). De R$ 35 (meia) a R$ 90 (inteira)