Mais de 300 anos se passaram entre o dia da morte de Zumbi dos Palmares e a inclusão da data como efeméride no calendário escolar, ocorrida no ano de 2003, quando Lula era presidente da República. A partir de 2011, no primeiro mandato de Dilma Rousseff, foi instituído oficialmente o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, justamente para homenagear o histórico líder quilombola, assassinado em 1695.
 
O que era para ser um dia se transformou em uma semana com o Festival Somos Todos Black, que inicia nesta terça-feira (20) sua terceira edição na capital mineira. A iniciativa oferece atividades culturais gratuitas, que se relacionam com a negritude e colocam a discussão no âmbito da sociedade contemporânea. Gastronomia, música e literatura têm presença garantida. O músico Sérgio Pererê, 42, uma das atrações, admite ter sentimentos contraditórios.
 
“Olha só, é uma coisa complexa o que eu vou falar. Existe um processo de passo a passo, quase didático, que faz com que a gente precise ter um dia da consciência negra, mas, ao mesmo tempo, é triste que esse tipo de ação precise existir para atingirmos os próximos passos, até que tenhamos um estágio de equidade”, explica Pererê. Com uma larga bagagem e trajetória iniciada em disco a partir de “Linha de Estrelas”, de 2005, o compositor leva ao público faixas de seu mais recente trabalho.
 
Lançado em 2018, “Cada Um” trouxe novos desafios para Pererê. “Esse álbum tem causado um questionamento das pessoas, no sentido de que me distancio um pouco da cultura popular, ele não tem tambores nem relação com o congado, é mais pop, mas, na verdade, eu o considero o mais africano da minha carreira”, afiança. O artista justifica a afirmação com experiências colhidas na própria pele. Em 2016, ele foi pela última vez a Angola. Antes, esteve em Moçambique e na África do Sul.
 
“Pude entender uma África mais contemporânea, para além daquela saudosista e mística que sempre nos remete a uma religiosidade tribal. Por isso digo que esse é o trabalho mais africano e negro que já fiz”, reforça. “Tudo Mudou”, do novo disco, utiliza elementos do funk carioca. A música está garantida em setlist, ao lado de “Costura da Vida”, “Aroeira” e “Woman”. “Vai ser um show dançante”, diz Pererê.
 
No mesmo clima, Flávio Renegado, 36, comemora no palco dez anos de carreira e revisita o inaugural “Do Oiapoque a Nova York”, que agora ganha as plataformas digitais. “Quando o lancei, não existia essa tecnologia”, conta Renegado, que vê uma importância do festival para além da música. “É um movimento de protesto e reafirmação da cultura dos menos favorecidos”, afiança.
 
A força feminina será contemplada com o espetáculo das Negras Autoras. “Nossas canções trazem a temática da mulher negra, do feminino e do feminismo. Acreditamos na alegria como agente transformador. É com luta e também com sorrisos que abrimos caminhos”, avalia Elisa de Sena, uma das integrantes do coletivo. 
 
Programação
 
Terça (20): Intervenções na Cidade Administrativa, das 8h às 17h15; e em frente ao Sesc Palladium, às 18h
 
Quarta (21): Roda de conversa e lançamento do livro “O Que É Encarceramento em Massa?”, de Juliana Borges, na av. Afonso Pena, 2.925, às 19h
 
Quinta (22): Debate “Sabedoria de Mulher Preta”, na av. Afonso Pena, 2.295, às 19h 
 
Sábado e domingo (24 e 25): Shows na rua Guaicurus, dia 24 a partir das 14h; e no dia 25 a partir das 10h