Quando estreou o espetáculo “Lama” em 2018, o Teatro Andante esperava (e torcia) que os rompimentos de barragem se resumissem ao crime ambiental ocorrido na região de Mariana, em novembro de 2015. A partir desta quinta (14), entretanto, o espetáculo volta a se apresentar com gosto amargo: um novo rompimento de barragem, dessa vez na cidade de Brumadinho, ocorrido no fim de janeiro, agravado pela quantidade de mortos e desaparecidos. O espetáculo fica em cartaz até o dia 24 dentro da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança.
“Tudo ficou mais intenso. Por um lado, estamos muito impactados, abalados, porque a gente dedicou muito tempo à pesquisa. Por outro, nós entendemos que temos que falar disso na obra artística porque diz respeito a todos nós”, pondera Ângela Mourão, atriz, que divide a cena com Bruna Sobreira e Thiago Amador.
Com direção de Marcelo Bones, “Lama” surge do interesse do grupo por grandes desastres, sob a perspectiva de vidas interrompidas subitamente. Enquanto o grupo ainda ensaiava e explorava a temática, aconteceu o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. Dessa forma, o coletivo voltou sua atenção para as muitas histórias tristes naquele cenário de destruição e procurou montar um espetáculo que desse conta do ocorrido, sem deixar de ser teatro. Para garantir a diversidade de linguagem, o Andante trabalhou com nomes importantes: Sérgio Pererê, na trilha; Cláudio Dias na pesquisa temática e nos estudos da técnica de viewpoints; Ricardo Alves Júnior, no registro audiovisual; Tarcísio Ramos, na preparação corporal e Guiomar de Grammond no texto.
Depois de Brumadinho, o grupo atualizou a peça. “Algumas referências estão mudando, porque não seria possível não mencionar o que aconteceu. De toda forma, ao falar de Mariana estamos falando de Brumadinho e da situação da barragens em Minas. Estamos falando do rio Doce inteiro e de coisas que ainda não tiveram reparação”, diz Ângela.
Durante a temporada de duas semanas da peça, o grupo vai promover debates, encontros e atos com artistas, pessoas envolvidas com as duas tragédias e ativistas nas causas ambientais em Minas. “Queremos a ampliação dessas vozes que precisam ser ouvidas, exigindo reparação. Nós temos que parar, não podemos continuar dessa forma”, finaliza a atriz.
Agenda
O quê
“Lama”
Quando
De 14 a 24 de fevereiro. Quinta a domingo, às 20h.
Onde
Funarte (rua Januária, 68, centro).
Quanto
R$ 15 (antecipado).