Por mais que várias bandas brasileiras insistissem, o rock português nunca teve uma real penetração no Brasil. Os Titãs e os Paralamas do Sucesso até tentaram dar um jeito para que o grupo Xutos & Pontapés se desse bem aqui. Mas nunca rolou muita coisa, além de poucos discos editados no Brasil.
Uma das mais importantes tentativas de trazer o rock luso para cá, aconteceu na gravadora WEA " talvez por influência do produtor português Paulo Junqueiro, que lá trabalhava " com algumas gravações. Os Titãs, por exemplo, fizeram uma versão, fraca, do hit do Xutos "Circo de Feras", em seu disco "As dez mais", de 1999.
Já o pop brasileiro, mais articulado e, por outro lado, sofrendo menos preconceito em função do sotaque, e ainda tendo a marca "Brasil" por trás, sempre teve penetração em Portugal. Artistas como Titãs, Gabriel O Pensador, e até Charlie Brown Jr., fazem sucesso lá na terrinha.
O Toranja é a mais nova tentativa de fazer o pop português pegar no Brasil. Por intermédio de uma das bandas nacionais mais prestigiadas do momento, Los Hermanos. A banda carioca teve seus shows em Portugal abertos pelo grupo, e resolveu então retribuir a dobradinha convidando-os para alguns shows aqui.
"Existem coincidências entre nós. Tanto assim, que nos demos bem, não houve nenhum tipo de problema", afirmou o tecladista dos Hermanos, Bruno Medina, a um jornal português. "Acho que ambas as bandas vêem o mercado da mesma forma e objetivam coisas parecidas".
No Brasil, o Toranja já se apresentou no Rio, em São Paulo e em Goiânia. Até acabar conquistando os fãs de Los Hermanos, que passaram a trocar suas músicas no E-Mule, no Soulseek e em vários outros programas p2p (aqueles de compartilhar arquivos). F
ormado por Tiago Bettencourt (voz, guitarra e piano), Ricardo Frutoso (guitarra), Dodi (baixo) e Rato (bateria), a banda ainda tem outras conexões com o Brasil.
O clip de "Quebramos os Dois", sucesso de seu novo disco " e o segundo lançado em Portugal pela Universal Music de lá " tem a participação especial de Ricardo Pereira, ator português que ficou famoso por aqui depois de participar da novela global "Como Uma Onda".
Em termos de som, o Toranja se revela uma banda afeita à mescla de som pop e esquisitices. O que já os coloca ao lado do Los Hermanos em muita coisa.
Dá para perceber, até em termos de qualidade de gravação, porque é que o Los Hermanos se enamoraram do Toranja: a aura de pop retrô, que surge nas músicas do grupo carioca com toques de MPB dos anos 70, invade o som do Toranja em vários momentos.
A grande diferença do grupo português, para a atual fase da banda de Marcelo Camelo, é que não há dúvidas de que o Toranja é um grupo de rock. As canções têm guitarras pesadas e letras fortes. Características que aparecem em "Ensaio", uma das melhores músicas do novo CD.
Em muitas músicas, os tons lembram o punk, o pós-punk e até o grunge. "Quebramos os dois", talvez seja a canção do momento em que as duas bandas mais se parecem. Uma balada soturna, tocada ao piano, com toques de jazz.
O Toranja talvez encontre alguma resistência no Brasil graças a um bom e velho motivo pelo qual o pop português ainda enfrenta narizes torcidos: os títulos de algumas músicas são estranhos, enigmáticos demais para quem está acostumado com a língua portuguesa falada por aqui.
Um preconceito que, levando em conta a qualidade do grupo, pode " e deve " ser deixado de lado.