Luto

Morre o produtor cultural mineiro Palhano Júnior

O corpo do também marchand está sendo velado na noite desta terça-feira, clubes da cidade e artistas lamentaram a perda

Por Patrícia Cassese
Publicado em 18 de agosto de 2020 | 18:45
 
 
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O corpo do marchand e produtor cultural mineiro (de Lavras) Palhano Júnior, ex-diretor do Departamento Cultural e Artístico (DCA) do Minas Tênis Clube, está sendo velado nesta terça-feira, dia 18, até as 20h, no salão da Metropax, localizado na avenida do Contorno 3.000, no Santa Efigênia. Evidentemente, dentro das orientações das autoridades sanitárias, em função da pandemia do novo coronavírus, apenas familiares e amigos mais próximos serão autorizados a entrar. Palhano Júnior morreu na tarde desta segunda-feira, em decorrência de uma infecção urinária e de um choque séptico. 
 
O Minas Tênis Clube emitiu um comunicado à imprensa lamentando a morte e se solidarizando com a família.  “Palhano foi um precursor da área da cultura numa época em que Belo Horizonte era ainda muito provinciana e com poucos espaços culturais. Visionário e pioneiro, Palhano Júnior abriu as portas para artistas como o pintor ítalo-brasileiro Amadeo Luciano Lorenzato, promovendo sua primeira mostra individual. Por toda a arte e cultura que trouxe para o convívio do Minas Tênis Clube, só temos a agradecer Palhano Júnior”, afirma André Rubião, diretor de Cultura do Minas.
 
No Facebook, o Pampulha Iate Clube lembrou que Palhano Junior foi um dos maiores promotores e incentivadores da cultura no país. "Durante 12 anos esteve à frente do Projeto Quarta Cultural do PIC, criado na década de 80, na gestão do então presidente Félix Ricardo Gonçalves Moutinho. Uma vez por semana, Palhano Junior, como Diretor Cultural do Clube, trazia nomes consagrados da música clássica e erudita que se apresentavam ao público, que lotava os salões do PIC Cidade, em concertos emocionantes e inesquecíveis".
 
O compositor e professor Andersen Viana lembrou que teve o privilégio de conhecer Palhano por ocasião do seu primeiro recital de flauta e piano aos 18 anos, no auditório do Minas Tênis Clube. "Uma grande perda para a arte e cultura de Minas e do Brasil. Sua gentileza e atenção à arte e à cultura, bem como aos artistas, foi sempre sua marca registrada. Que as novas gerações possam se inspirar neste exemplo ímpar de Minas, assim como os heróis gregos nos inspiram até hoje".
 
"Um incentivador nato da cultura.Tantos talentos apadrinhou, elevou, fez brilhar e até nascer. Cantor, ator, produtor cultural, um artista na autenticidade. Viveu para e pela arte. As gerações vão construindo histórias, deixando suas marcas, seu exemplo. Mas, sempre nos surpreenderemos com as despedidas. Deve ser porque certas canções são eternas e é um paradoxo, sabê-las interrompidas aos nossos olhos", disse a jornalista e escritora Márcia Francisco.
 
Confira, a seguir, texto do crítico de música erudita José Carlos Buzelin, especialmente escrito para o Magazine. 
 
"'Ora direis, ouvir estrelas? Por certo perdestes o senso', diria Olavo Bilac, na retórica romântica da antologia poética brasileira. Apego-me  à delicadeza sutil  de sutil intenção, em que tudo é possível aos que se dedicam à beleza, extasiado de imorredouras lembranças, para afirmar  o que diz a oração... Não só ouço, como entendo o firmamento em festa, para receber mais uma das luzes que ornamentam o céu. O mesmo céu que empolga-nos, na medida em que possamos ouvir as estrelas, ainda que tenhamos de perder o senso. E o que é o senso, senão a ilogicidade de uma lógica apenas terráquia, inexpressiva, paupérrima, diante do que se passa no coração  que chora. Que chora a perda de um amigo!
Não tenho a pretensão de emoldurar  a  dor, senão por lágrimas. Mas, de retê-las na alma que, deveras, é  eterna! Assim como eterna será a recordação que guardo de José Palhano Junior, o mais profícuo empreendedor da arte erudita, entre nós. Autor e realizador de arrojados projetos, levando ao público, semanalmente, espetáculos do mais elevado rigor, em que celebridades pisavam os simples espaços de clubes, tais como o Minas Tênis e o Pampulha Iate. Sempre franqueados ao público, tais momentos se tornaram inesquecíveis, cujos aplausos reproduzidos na lembrança compõem sua constatação através de fonográficas memórias de tantos intérpretes, ali consagrados, na sua maioria. Eis o objetivo de Palhano! Nada menos que valorizar veteranos e lançar jovens ao exercício da mais divina das artes: a música. Jamais se descuidou dos artistas plásticos, levando a efeito primorosas exposições, em que a pintura e a escultura passaram a desfrutar de galerias por ele concebidas, a exemplo das mais cogitadas em todo o  mundo. Palhano não morreu, ficou encantado. Mais encantado!", encerra Buzelin.

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