O músico Pacífico Mascarenhas morreu nesta manhã (9), aos 88 anos. A informação foi confirmada por Carlos Ferreira Mascarenhas, conhecido como Lito, filho de Pacífico. A causa da morte e informações sobre velório e sepultamento ainda não foram divulgadas.
Pacífico, natural de Belo Horizonte, era conhecido como 'padrinho musical' de Milton Nascimento, por ter levado o cantor para o Rio de Janeiro, onde ele participou do disco do grupo Sambacana e estreou numa grande gravadora.
Outra contribuição incontornável de Pacífico foi para a bossa nova em território mineiro. Em entrevista a O TEMPO, em 2018, ele relembrou um caso inusitado com João Gilberto, Papa da Bossa Nova, quando os dois se encontraram no hotel Normandy, na rua dos Tamoios, no centro de Belo Horizonte.
“Eu tinha emprestado meu violão para o João, porque ele nunca trazia quando vinha fazer shows aqui. Era um violão com cordas de nylon, uma raridade. O pessoal da Bossa Nova usava porque era mais suave para tocar. Aí apareceu o cantor Pedro Matheus, que era cego, e ficou doido com o violão. Na mesma hora o João deu meu violão para ele”, contou, na ocasião.
Ruy Castro, um dos principais estudiosos da Bossa Nova, também vaticinava a contribuição de Pacífico. “Bem, João Gilberto criou a batida da bossa nova em Diamantina, não? E o Pacífico Mascarenhas, que, por acaso, estava lá, ao lado dele, foi um dos que primeiro entenderam o recado. Graças ao Pacífico, dois dos primeiros shows de João Gilberto depois de gravar ‘Chega de Saudade’ foram em BH, no Iate e no Automóvel Clube”, declarou a O TEMPO, em 2019.
Sucesso com a “Turma da Savassi”
Em 1958, o grupo Paulinho & Seu Conjunto colocou na praça a “Turma da Savassi”, um samba de breque de autoria de Pacífico Mascarenhas, compositor mineiro que, mais tarde, se enturmaria com João Gilberto, Papa da Bossa Nova.
A música era uma exaltação à patota de rapazes que tinha o hábito de se reunir em frente à famosa padaria Savassi, dos irmãos italianos Achille, Arturo e Angelo Savazzi. Ao abrasileirar o sobrenome, eles criaram um dos mais frequentados lugares da região, com direito a presenças ilustres como a do futuro presidente da República, Juscelino Kubitschek, o JK, também governador de Minas Gerais.
A fama levou ao hábito de se referir ao bairro Funcionários pela alcunha de seu mais célebre estabelecimento. A padaria datava da década de 1930, mas foi somente em 2006 que o bairro passou a se chamar oficialmente Savassi. Nessa época, já era conhecido pelos mineiros como espaço de boemia e muito comércio.
Repertório
Ao todo, Pacífico Mascarenhas compôs mais de 150 canções, tendo sido gravado por Milton Nascimento, Claudette Soares, Isaurinha Garcia, Tito Madi, Eumir Deodato, Tadeu Franco, Miele, Trio Irakitan, Os Cariocas, Paula Santoro, Célio Balona, dentre outros. Ele também foi o primeiro músico brasileiro a gravar um disco independente. Outro reconhecimento à sua obra é a estátua com a sua figura na sede do Minas Tênis Clube, localizada na rua da Bahia, bairro de Lourdes.
Aliás, o clube emitiu uma nota de pesar pela morte do artista.
"O Minas Tênis Clube sente com profunda tristeza a morte de Pacífico Mascarenhas (1935 - 2024), diretor Social do Minas por 30 anos, conselheiro nato do Clube e grande influenciador da cultura no Minas - criador, dentre tantas ações, das inesquecíveis Missas Dançantes - e na capital mineira.
Pacífico é referência da vida social em Belo Horizonte. Integrante da Turma da Savassi, nos anos 1950, grupo formado por jovens que cantavam e faziam serenatas para as meninas, Pacífico criou o conjunto Sambacana. Sua obra musical tem como principal característica a batida da Bossa Nova, subgênero do samba, da qual o minastenista foi responsável pela difusão em Belo Horizonte.
As canções de Pacífico Mascarenhas, lançadas em mais de 30 discos autorais, foram gravadas por Luiz Eça, Cliff Korman e Jorge Cutello, músico argentino, dentre outros. Sua generosidade musical fez com que artistas hoje consagrados, como Joyce Moreno e Milton Nascimento, surgissem para o grande público.
O trabalho do músico mineiro é reconhecido por meio de prêmios como o Troféu Pró-Música de 1995, 1996 e 2007; a Comenda do Mérito Artístico Rômulo Paes, concedida pela da Câmara Municipal de Belo Horizonte, em 1998; o Diploma de Honra ao Mérito da Ordem dos Músicos de Minas Gerais, em 2003; a Medalha Presidente Juscelino Kubistchek, em 2003."