Tetê Mattos, 53, entrou em uma livraria de Niterói, no Rio de Janeiro, e se deparou com “A Onda Maldita” (1992), escrito por Luiz Antonio Mello. Candé Salles, 43, se mudou para o apartamento de Marina Lima e passou a observar a compositora bem de perto, separados apenas por uma lente.

Ao perceber o impacto que a morte do vocalista Chorão (1970-2013) despertou em Santos, no litoral paulista, Felipe Novaes, 29, teve um clique. Paulo Fontenelle, 45, recebeu um convite irrecusável quando Evandro Mesquita, por curiosidade, aprendia a operar um programa de edição.

Embora tenham se passado em momentos e lugares distintos, os acontecimentos descritos deram a partida para uma tendência em alta no cinema brasileiro. Em 2020, serão lançados filmes sobre as trajetórias de Marina Lima, de Chorão, da banda Blitz e da rádio Fluminense FM.

Alguns deles já foram exibidos em festivais, caso de “Chorão: Marginal Alado”, que faturou o prêmio do público de melhor documentário brasileiro na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Outros têm data de estreia confirmada. “Uma Garota Chamada Marina” está programado para o dia 27 de janeiro, e “Blitz, o Filme”, para 10 de fevereiro, ambos no canal Curta!.

Emissora

Já “A Maldita”, realizado graças a um edital da Riofilme, chega primeiro à tela do Canal Brasil, o que, de acordo com a diretora e roteirista Tetê Mattos deve ocorrer em breve. O título do documentário remete ao nome pelo qual a rádio Fluminense FM, responsável por catapultar nomes do rock nacional na década de 80, ficou conhecida entre os fãs.

Mas, para desvendar o mistério do apelido, o espectador terá que assistir à película. “Essa história é contada no filme, têm que ver para descobrir”, confirma Tetê. O interesse da cineasta pela história teve origem no encontro com “A Onda Maldita”, mas ela esclarece que seu filme não é baseado no livro de Antonio Mello.

A publicação apenas acendeu a faísca de um desejo antigo: “contar histórias relevantes que trazem orgulho para Niterói”, sua cidade natal e de onde a emissora passou a veicular músicas de artistas iniciantes a partir de 1982. O primeiro desdobramento foi um curta-metragem finalizado em 2007.

Com o longa, Tetê pretendeu dar conta de diferentes espectros dessa trajetória. A narrativa foi estruturada a partir de cartas enviadas pelos ouvintes que a produção do filme conseguiu resgatar. “A nossa maior preocupação não foi contar a história, mas entrar no universo da rádio”, esclarece Tetê. Há, ainda, um bloco dedicado a ouvir o time inteiramente feminino de locutoras montado pela emissora.

Selma Boiron foi a primeira a colocar a rádio no ar. Monika Venerabile, Mylena Ciribelli e Lia Easter também deram depoimentos. “Quando a rádio investe nessas mulheres, ela reafirma sua ousadia, dinâmica e irreverência”, diz Tetê.

Pelas ondas d’A Maldita passaram sucessos de bandas como Blitz, Barão Vermelho, Legião Urbana e Paralamas do Sucesso. BNegão, Arrigo Barnabé e o jornalista Tom Leão relembram essa ascendência no longa. “A rádio contribuiu para a formação cultural de uma geração”, aponta Tetê.

Blitz

Paulo Fontenelle chega à mesma conclusão. Porém, o seu alvo é a Blitz, objeto do documentário dirigido por ele. “A Blitz sintetiza a história de uma geração, que também estava no teatro, com o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, e nas artes plásticas. Eram jovens que gostavam de ir para a praia e que substituíram a linguagem anterior, de subversão contra a ditadura, por temas do dia a dia, curtição, paz e amor”, avalia Fontenelle.

“Blitz, o Filme” começou a nascer quando o editor Bruno Miod dava aulas sobre seu ofício para Evandro Mesquita, interessado em colocar no telão de casa fotos de suas viagens. A sugestão de um longa-metragem acabou no convite para Fontenelle, que aceitou de pronto. “Não é uma abordagem mítica da banda, entendi que o importante era ser menos iconográfico e apostar no sentimento”, diz Fontenelle.

Livre

Candé Salles e Marina Lima começaram como amigos e depois namoraram. “Hoje, voltamos ao patamar da amizade”, brinca Salles. O sentimento de amor entre eles permanece. Uma prova é “Uma Garota Chamada Marina”, que revela intimidades da cantora. “O que me encanta na Marina é a liberdade”, elogia Salles.

A fascinação do diretor Felipe Novaes por Chorão, protagonista de seu documentário, tem a ver com “as contradições do personagem”. “Ele foi um tipo de rockstar que não surge mais”, diz Novaes. A “jornada psicológica” do longa ouviu Champignon, Marcelo Nova, Serginho Groisman, João Gordo e outros. “É uma visão sobre o Chorão, um filme não resume a vida de ninguém”, diz Novaes.