Dar visibilidade a diversas produções feitas por mulheres no território das artes visuais. Esta foi a diretriz que norteou a curadoria da mostra "Narrativas Femininas - Sou Aquilo que Não Foi Ainda", assinada por Uiara Azevedo junto à curadora independente Marci Silva, aliada à assistência curatorial de André Murta. A iniciativa integra o programa Arteminas, da Fundação Clóvis Salgado, onde a exposição pode ser vista, no Palácio das Artes. Pintura, escultura, desenho, bordados e novas formas de trabalhar objetos marcam a produção expressiva das várias gerações de criadoras.
"Pensamos em reunir essas mulheres através de suas criações, tanto pela multiplicidade dos suportes utilizados por elas, como pelas suas historias e pesquisas. Quando adentramos no que Teresinha Soares (artista e escritora mineira, 1937, Araxá - MG) escreveu em seus poemas, 'Sou aquilo que não foi ainda'’ nos diz que ainda existe um longo caminho a percorrer. Proporcionar este espaço especialmente para as artistas emergentes é dar lugar para que possam se posicionar e serem vistas. Buscamos explorar conceitos dos processos de cada uma, assim como a possível troca entre elas", explica Uiara, que é gerente de Artes Visuais da FCS.
"A mostra parte das urgentes reflexões sobre a visibilidade feminina na arte, na democratização deste espaço nas academias, nas instituições e na mídia. Na preocupação com um maior equilíbrio entre mulheres e homens artistas nos cenários da arte e da cultura", acrescenta ela, sobre o objetivo da empreitada. "A ocupação das artistas propõe um recorte contemporâneo da produção local, sem caráter retrospectivo ou histórico. A proposta dessa exposição é ampliar o conhecimento sobre a produção emergente em Belo Horizonte e romper certo silêncio no que diz respeito à arte produzida por mulheres".
Uiara também lembra que, pela primeira vez em sua historia, o Palácio das Artes tem suas paredes grafitadas fora das galerias. Assim, na galeria aberta Amilcar de Castro, a artista Ártemis Garrido (natural de Ilhéus/BA), mas que vive aqui, onde produz grande parte de seu trabalho) grafita o retrato de Maria. "Mas trata-se de Maria da Penha, moradora de rua que, apesar de ter dormido várias vezes em frente a Fundação, nunca se sentiu pertencente a essa Instituição, e que agora tem o seu rosto estampado em caráter de protagonismo". Nâo só.
Tem também trabalho de Juliana Gontijo, "artista mineira e mais jovem no acervo de mulheres da Fundação Clóvis Salgado". Uiara conta que ela criou, na PQNA Galeria Pedro Moraleira, o sit especifiq (o termo sítio específico faz menção a obras criadas de acordo com o ambiente e com um espaço determinado) "Rompe Mato" (doada para o acervo FCS neste ano), que leva os seguintes dizeres: "É preciso ter vista forte, romper mato, virar onça..". "Mostrando ao publico toda a potência da criação dela", conclui Uaira.
Também integram a mostra: Carolina Bortura, Guilia Puntel e Julia Panadês (Galerias Genesco Murta e Arlinda Corrêa Lima), da exposição coletiva Híbrida, com linguagens e propostas características do universo contemporâneo; Isabel Saraiva, Maria Clara Cheib e Amanda Vilaça (Galeria Aberta Amílcar de Castro), com a exposição "Efêmera", evidenciando a potencialidade do grafite; os coletivos As Bordadeiras do Curtume e Bordadeiras da Vila Mariquinhas, além das artistas Ana do Baú, Ana Ribeiro, Cássia Macieira, Clemência, Dida, Dionisia, Dona Enedina, Dona Irene, Dona Isabel, Eva, Geralda Batista, Ivanete, Maria de Lourdes, Maria Lira, Mariquinhas, Noemisa, Rosana, Vicentina Julião, Zefa e Zezinha (Galeria Mari’Stella Tristão), revelando o potencial da arte popular na exposição Assim, como acontece; e nomes como Aretuza Moura, Arlinda Corrêia Lima, Fatima Pena, Fayga Ostrower, Juliana Gontijo, Mabe Bethônico, Marcia Xavier, Marina Nazareth e Yara Tupynambá (PQNA Galeria Pedro Moraleida), reunidos na exposição Acervo FCS Mulheres.
O período expositivo vai até 8 de março de 2020.