Música

Neta de Mãe Menininha do Gantois, Mônica Millet é homenageada em BH

Show com José Izquierdo, chileno radicado na Bahia, integra o Festival LAB_rinto - desequilíbrios na escuta

Por O TEMPO DIVERSÃO
Publicado em 28 de maio de 2022 | 13:48
 
 
 
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Impossível não falar de Mônica Millet sem citar o seu DNA - afinal, a mestra de cultura popular, percussionista, compositora, produtora cultural, diretora musical e ativista da cultura popular afro-brasileira é neta de ninguém menos que Mãe Menininha de Gantois (1894 –1986), a icônica ialorixá que tanto lutou pela liberdade dos cultos religiosos, e cuja potência foi cantada por Maria Bethânia e Gal Costa, na célebre " Oração a Mãe menininha", de Dorival Caymmi. Independentemente da ascendência, da qual, claro, ela naturalmente muito se orgulha, Mônica Millet vem desenvolvendo uma rica carreira, na qual constam bons momentos compartilhados com nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Marisa Monte. Internacionalmente, gravou e fez turnê com Billy Cobhan, Larry Corel e Shizuoka, como lembra o material de divulgação da apresentação que ela realiza neste sábado, na capital mineira.

Sim, ela é a convidada do músico, compositor, arranjador, professor e investigador de saberes percussivos de matrizes africanas José Izquierdo em um show cujo repertório trilha o caminho dos tambores na América Latina, com destaque para a produção cultural dos ritmos e a origem nas religiões de matriz africana e blocos afro de Salvador.

Participam,ainda, Helaine de Jesus, Luiza Brina e Davi Fonseca. O show acontece às 20h, na Fundação de Educação Artística (Rua Gonçalves Dias, 320 - Funcionários). Os ingressos a R$10 (inteira) e R$5 (meia) podemser adquiridos na entrada do evento, com uma hora de antecedência. Confira, a seguir, trechos da entrevista concedida por ela ao Magazine.

Queria que começasse falando de sua relação com Minas Gerais e, em particular, Belo Horizonte... Bem, já fiz alguns shows em BH com Maria Bethânia, e eu gosto muito dos mineiros. Toquei muito tempo com Paulinho Braga, baterista. Aliás, tem muitos anos que não o vejo, mas é uma pessoa da qual trago muitas boas lembranças, tenho uma ligação carinhosa com ele, que, junto a nomes como Jamil Joanes, me passaram muita alegria de tocar junto, prazer de tocar junto com eles, então, eu me sinto muito à vontade em Minas. Quero que todas as pessoas saiam do show felizes, alegres por esse encontro.

Pode adiantar o repertório? Na verdade, ainda (no dia da entrevista) vamos passar o roteiro. Temos alguns temas instrumentais, e a ideia é fazer uma mistura, uma simbiose, dos tambores com outros instrumentos e várias vozes. Um intercâmbio com os músicos, bem bacana e gostoso.

Gostaria que falasse da referência que tem de Mãe Menininha...
De suma importância, porque vovó é, até hoje, a minha maior referência, é de onde eu tiro de memória esse aprendizado, ensinamento, o grande legado que ela deixou para todos nós, não somente da Bahia, mas acho que do Brasil, mesmo pessoas que não sejam ligadas diretamente ao candomble, mas que tenham essa recepção da cultura afro, seja na culinária, musical.... A mística da Mãe Menininha. É um privilégio muito grande e eu me sinto extremamente honrada de ser uma representante da nação dos meus antepassados, isso me traz uma alegria muito grande, muito grande mesmo. Me sinto feliz e privilegiada em fazer parte (disso tudo) e poder dar continuidade ao legado da minha avó querida e amada, que já nos deixou. Nós temos uma grande honra em manter esse legado e fazer com que esses ensinamentos sejam passados de geração em geração, para que haja enriquecimento. A gente faz com muito amor e carinho (esse trabalho em prol da memória dela), então, para mim, é de extrema importância.

Pode detalhar um pouco mais este trabalho?

O nosso objetivo é fazer com que a gente venha a ter esse conforto, de nos apoiarmos para que, unidos, sendo mais solidários, mais humanos, a gente mude um pouco a nossa frequência. Levar alívio, alegria, às pessoas, e com certeza o tambor tem esse dom terapêutico, de afrouxar um pouco as nossas tensões, principalmente neste momento, com tudo o que a gente passou (referindo-se à pandemia). Acredito que vamos passar por tudo isso e sobreviver de uma forma muito mais humana, muito mais bonita, muito mais irmanados com o nosso semelhante, é o que penso, a forma como eu toco... Meu objetivo não é (interrompe)... Lógico que preciso ganhar dinheiro, porque pago as minhas contas, como todo mundo. Mas tem esse fundamento que desperta a nossa sensibilidade para que a gente possa ter um mundo melhor. Realmente fazer um mundo um pouco melhor para todos nós que merecemos ter esse alívio, essa compreensão. Aumentar a nossa dimensão diante de todas as dificuldades, qualquer que sejam, mas lembrar que somos unidos por essa magia maravilhosa que é a música. É o que eu procuro transmitir a todas as pessoas, e quando toco, é de uma forma muita amistosa, verdadeira, para que as pessoas - e para mim também, para o meu espírito, para a elevação da minha consciência, da consciência do nosso planeta - percebam a importância de estarmos juntos e solidários. Precisamos urgentemente transmitir essa positividade, e através dos tambores, desejo também a todos os mineiros que sejam abençoados, que sejam protegidos, que tragam muito amor no coração, muita alegria.

Em tempo

A apresentação de Mônica Millet integra o Festival”, “LAB_rinto - desequilíbrios na escuta”. Criada em 2013, a iniciativa, até o ano passado, recebia o nome de “Semana Afro-latina”. O propósito, como sinaliza o material de divulgação do evento, é" trazer músicos, pesquisadores e educadores com grande experiência em cultura popular e metodologias ricas do ensino dessa arte para a cidade, com objetivo de contribuir na formação de músicos e promover debates sobre cultura do Brasil e da América Latina". Em suas edições, já recebeu nomes como os do maestro Néstor Lombida (Cuba), José Izquierdo (Chile), Santiago Reyther (Cuba) e Itiberê Zwarg (Brasil). O Festival “LAB_rinto - desequilíbrios na escuta”, enfatizam seus produtores, surgiu da necessidade e do interesse dos músicos e artistas de Belo Horizonte de intensificarem seus estudos direcionados à música brasileira e à cultura popular, relacionadas diretamente com a afro-latinidade do nosso povo. O projeto intenta viabilizar para a cidade o acesso a professores, músicos e pesquisadores com grande experiência e metodologias particulares do ensino dessa arte. 

 

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