Música

Peça inédita e tributo a Rachmaninov encerram temporada da Filarmônica

'Concerto para Violoncelo e Orquestra', de André Mehmari, e 'Segunda Sinfonia' do compositor russo estão no programa

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 13 de dezembro de 2023 | 16:26
 
 
 
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Foi em Minas Gerais que o carioca André Mehmari e o pernambucano Antonio Meneses se conheceram, em 2015, logo após um concerto da Orquestra Filarmônica do Estado. No jantar, o maestro Fabio Mechetti chamou atenção para o fato dos nomes de ambos possuírem as mesmas iniciais: “AM”. Nascia uma parceria que desembocou na “Suíte Brasileira”, atualmente tocada por violoncelistas do mundo todo. O novo rebento desta união encerra quinta (14) e sexta (15) a temporada da Filarmônica. 

A “chave de ouro” fica por conta do ineditismo do “Concerto para Violoncelo e Orquestra”, encomendado para a ocasião e composto especialmente por Mehmari para Meneses, considerado, por muitos, o maior violoncelista em atividade no Brasil. Com quase meia hora de música e três movimentos, esta é a primeira obra orquestral para violoncelo que Mehmari escreve. Por conta disso, ele a define como “um concerto de fôlego”. 

Abraço

Ao longo da peça, há “referências abstratas” ao choro, ao baião e ao frevo, que o compositor credencia como “patrimônios culturais brasileiros”. “Isso não é nada novo, Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e (Claudio) Santoro já promoviam esse encontro do qual a literatura musical brasileira está repleta”, afiança Mehmari, que enxerga em si mesmo o ponto de aproximação entre música popular e erudita. 

“É minha história de vida, aprendi essas músicas todas ao mesmo tempo, participo das centenas de ambientes que existem com a mesma integridade e nunca me sinto turista. Pelo contrário, me sinto nativo na sala de concerto, na roda de choro e na casa de jazz”.

Mehmari vai além: “As pessoas gostam desse encontro, é por isso que elas me procuram e as encomendas que recebo vão nesse sentido. A música é resultado de um abraço. Acredito que o mundo precisa mais de abraço do que de muro”, sublinha. 

Gênio russo

“Uma música para ser ouvida no inferno!”. Esse comentário devastador foi apenas uma das críticas que a “Primeira Sinfonia” de Rachmaninov recebeu da imprensa russa, em 1897, paradigma de uma recepção nada agradável que levou o compositor a uma crise de nervos.

O folclore da época conta que o regente, na hora do concerto, estava faminto, o que teria prejudicado a apreciação da peça. Natalia Satina (1877-1951), esposa de Rachmaninov, insinuou que o maestro subira ao púlpito trôpego. 

Foi no contexto desse fracasso que o pianista russo, nascido há 150 anos, enfrentou a própria insegurança para criar a obra “que representa tudo o que ele tem de melhor”. A afirmação é de Fabio Mechetti, responsável por conduzir a “Segunda Sinfonia” de Rachmaninov no gran finale da Filarmônica em 2023.

Com “grandes melodias e um terceiro movimento já copiado por compositores populares”, a peça carrega a “sonoridade impactante e o caráter russo” que impregna a produção do homenageado. O primeiro e segundo movimentos surgem embebidos em nostalgia e melancolia, aspectos característicos deste criador único. 

Eterna 

Num ano em que executou todas as sinfonias de Rachmaninov, Mechetti se orgulha de, finalmente, levar ao palco “a mais emblemática”. Assim como outros compositores do século XX, Rachmaninov herdou a tradição romântica do período anterior, cujo “subjetivismo e apego à melodia buscava expressar a humanidade em suas contradições”.

Os detratores o consideravam “retrógrado, preso ao passado”, mas o artista “jamais se envergonhou de seu estilo”. “Toda música clássica é atual justamente porque seus elementos ultrapassam questões momentâneas. Tem a ver com o belo, a esperança e o sofrimento da condição humana”, sintetiza Mechetti. 

Serviço. 

O quê. Encerramento da temporada da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

Quando. Nesta quinta (14) e sexta (15), às 20h30

Onde. Sala Minas Gerais (rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto)

Quanto. De R$50 (coro) a R$175 (camarote) 

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