Teatro

Peça “Meu Corpo Está Aqui” reflete as vivências de pessoas com deficiência

Na montagem inédita, a ficção entra como um elemento reflexivo, pelo fato de conectar o público com as semelhanças que existem entre todos nós

Por O TEMPO | ENTRETENIMENTO
Publicado em 02 de abril de 2024 | 08:55
 
 
 
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O Festival Teatro em Movimento, que tem curadoria e coordenação geral de Tatyana Rubim, traz a Belo Horizonte o espetáculo inédito “Meu Corpo Está Aqui”, baseado nas experiências pessoais de Bruno Ramos, Haonê Thinar, Juliana Caldas e Pedro Fernandes, atrizes e atores PCDs (pessoas com deficiência), em que eles próprios estão em cena falando abertamente sobre seus relacionamentos, seus corpos, seus desejos.

Uma mistura de depoimentos ficcionalizados por Julia Spadaccini, também pessoa com deficiência, e Clara Kutner, retratando o jogo entre as pulsões e os obstáculos que se apresentam nas descobertas e nas experiências de afeto e sexualidade em corpos PCDs. Um tema original nos palcos, que se aprofunda na reflexão desses corpos invisibilizados socialmente. 

“Meu Corpo Está Aqui” terá duas apresentações, dias 5 e 6 de abril, sexta-feira, às 21h, e sábado, às 20h, no Teatro Sesiminas. O espetáculo conta ainda com o ator/intérprete de libras Jadson Abrãao e todas as sessões têm intérprete de Libras, audiodescrição e acessibilidade para pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). 

“Meu Corpo Está Aqui” tem no elenco, Bruno Ramos que é surdo não oralizado, Haonê Thinar é pessoa amputada, Juliana Caldas tem nanismo, Pedro Fernandes tem paralisia cerebral com cognitivo preservado - usuário de cadeira de rodas e Jadson Abraão ator-intérprete de libras. O texto e direção são de Julia Spadaccini e Clara Kutner, e a direção de produção é de Claudia Marques. 

"O nosso corpo é um importante veículo de comunicação. É através dele que expressamos nossos desejos, nossas angústias e nossas satisfações. Estar com o corpo presente e pleno é fundamental para se sentir segura e potente. Seja qual corpo for, de que forma for, de que tamanho for. O corpo é a nossa identidade, a nossa assinatura visível. O encontro com esses atores e com essas histórias me dá a oportunidade de colocar o meu trabalho a serviço desta pauta tão necessária e urgente e isso me traz muita satisfação. Estar a frente de um projeto desta relevância é uma grande responsabilidade, um grande aprendizado, uma grande realização", declara Claudia Marques. 

Em “Meu Corpo Está Aqui” a ficção entra como um elemento reflexivo, pelo fato de conectar o público com as semelhanças que existem entre todos nós e que são encobertas pelo preconceito e pela falta de conhecimento. Pessoas com deficiência vivem em um corpo e em uma essência que é viva. Não precisam desfrutar de suas histórias no silêncio, nem ser infantilizadas em tentativas de apagamento que remontam a concepções culturais e históricas a respeito do que é considerado “normal”. 

"Pensei nesse projeto há mais de 3 anos. Está sendo uma realização pessoal muito grande, tendo em vista que trabalho há mais de 20 anos escrevendo teatro e, pela primeira vez, fazendo uma dramaturgia voltada para uma questão que também me inclui. Ser uma autora PCD e estar num projeto onde todos em cena também são, é uma vivência de vasta inclusão", comenta Julia Spadaccini, que é deficiente auditiva.

"Precisamos de PCDs protagonizando filmes, peças, programas de TV. Especialmente num cenário de amor e sexo. A peça vem para jogar luz, justamente, nessa grande invisibilidade que acomete o corpo com deficiência, seus desejos, amores e sexualidade", conclui Julia. 

Em 2018, Clara Kutner iniciou parceria com o artista visual e consultor de acessibilidade Emanuel de Jesus para o projeto Acessibilidade em Movimento, onde se relacionaram com pessoas que trabalham nas questões em torno do tema inclusão na arte de forma muito diferente, uma via de mão dupla sempre.

A partir da ideia de outrar, que é a necessidade de se colocar no lugar do outro para viver em coletividade, surgiu SOM, uma coreografia para surdos, instalação vibratória que ficou exposta no Oi Futuro, em 2019, e uma série de vídeo-dança chamada Já! Hoje, o projeto é uma companhia de dança formada por bailarinos surdos que dirige e está em criação de um novo espetáculo. 

"Quando Julia me convidou para essa parceria foi incrível pois tratar de sexualidade é um assunto que também tem ganhado para mim grande importância nos meus trabalhos. Como minha formação em dança é tão presente em tudo o que faço no teatro e no audiovisual as cenas com movimento e contato físico sempre me interessam muito", declara Clara Kutner.

"Penso o “Meu Corpo Está Aqui” como uma peça desejo-manifesto onde os atores se misturam, se embolam, celebram seus corpos, com algumas histórias tristes, uma dose alta de ironia e muitas perguntas que não temos como responder. Queremos levantar questões e embaralhar a lógica da eficiência", finaliza Clara, que, recentemente, recebeu crítica elogiosa da Folha de São Paulo, pela delicadeza da diretora ao tratar uma cena de sexo na novela Um Lugar ao Sol. 

Em outubro, o espetáculo participou da programação oficial do Festival Internacional de Teatro de Angra - FITA, recebendo o Prêmio Revelação (Elenco) e Prêmio Especial (Temática). 

Serviço

“Meu Corpo Está Aqui"

Classificação indicativa |16 anos      

Duração | 60min

Temporada | dias 5 e 6 de abril de 2024

Horário | sexta-feira, às 21h e sábado às 20h

Local | Teatro Sesiminas - Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia

Ingressos: R$ 42,00 inteira e R$21,00 meia entrada

Ingressos à venda na bilheteria do teatro ou pelo link https://bileto.sympla.com.br/event/92357/d/246765 

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