Música

Projeto A Voz da Periferia seleciona 20 artistas de BH e inicia workshops

Em dois dias na capital mineira, João Marcello Bôscoli, Renegado, Luciana Mello e Terence Machado vão falar sobre diversas questões do universo da música

Por Bruno Mateus | @eubrunomateus
Publicado em 14 de março de 2023 | 06:33
 
 
 
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Vinte novos artistas e talentos das periferias de Belo Horizonte foram selecionados em um universo de 300 inscritos e vão passar por algumas etapas até que um deles seja proclamado o grande vencedor – ou vencedora – do projeto A Voz da Periferia. A fase seguinte já tem data marcada: nos dias 22 e 23, eles subirão ao palco da Autêntica para a rodada competitiva de shows.

Já no dia 24, seis nomes escolhidos pela curadoria do festival, composta pelo produtor musical, compositor, instrumentista e empresário do ramo da música João Marcello Bôscoli, pelo rapper, cantor e compositor Renegado e pela cantora, compositora e multi-instrumentista Nath Rodrigues, disputam a finalíssima – etapa que conta com voto popular – também na Autêntica, que terá entrada gratuita nos três dias, com programação tendo início sempre às 19h. 

Antes de soltarem o gogó, porém, eles passarão por uma fase de workshops em BH, no auditório da Cemig. Serão dois dias de preparação, diálogo e muita troca de experiências: nesta terça (14), a cantora e compositora Luciana Mello fala aos jovens sobre “Preparação e Performance”, e Renegado aborda o tema “Criatividade e Composição”.

No dia seguinte, é a vez de Bôscoli, que também assina a direção artística de A Voz da Periferia, comandar o papo “Produção Musical”, enquanto o jornalista e apresentador do “Alto-Falante”, da Rede Minas, Terence Machado, discorre sobre o tópico “A Importância do Audiovisual na Gestão de Carreiras”.

O rapper Renegado floresceu artisticamente nas ruas e nos becos do Alto Vera Cruz, na região Leste da capital mineira, um dos pontos mais efervescentes das periferias de BH. Ao ser convidado para fazer parte do projeto, o músico se encantou com o fato de que ele acompanha e apoia o artista vencedor por um período, mesmo após o fim da competição.

“A Voz da Periferia não vai só premiar alguém da periferia, dar um dinheiro, muito pelo contrário. Ele dá ferramentas para essa nova voz ter condições reais de disputar um lugar no mercado da música brasileira. A pessoa que ganhar o festival realmente terá condição de projetar uma carreira. Isso é muito mais legal do que dar R$ 5 mil ou R$ 10 mil para o artista. Para mim, não tem preço”, comenta Renegado.

Quem sair de A Voz da Periferia como vencedor também poderá gravar, mixar e remasterizar a canção apresentada no show, terá um videoclipe editado com cenas captadas nos processos de ensaios, nos bastidores do festival e no palco da Autêntica, poderá divulgar a faixa e o clipe na plataforma do projeto e em canais digitais.

A respeito do workshop que dará aos 20 artistas nesta terça (14), Renegado vai abordar questões pertinentes à produção criativa e contar como ele lida com as novas tecnologias no dia a dia profissional. “Mas também quero falar um pouco sobre cadeia produtiva, royalties e direitos autorais. Sinto necessidade de falar disso, deixar o pessoal atento a essas questões”, detalha.

Participar de A Voz da Periferia trouxe memórias de tempos atrás para Luciana Mello, que começou a carreira musical ainda na infância, integrando a última formação do Balão Mágico ao lado de Simony, do irmão Jairzinho (os dois são filhos de Jair Rodrigues) e de uma prima de Simony, também chamada Luciana. Ao ver tantos jovens em busca de um espaço no concorrido mercado da música, Luciana Mello se lembrou dos sonhos que tinha quando começou sua trajetória de mais de 35 anos.

É essa experiência que ela pretende levar aos 20 jovens artistas que estão no projeto. “Não estou na posição de dar aula para ninguém, quero aprender e compartilhar alguns conhecimentos. Já fui de gravadora pequena, de gravadora grande, hoje sou artista independente. Vou falar um pouco da parte artística nos palcos e fora deles também, dos shows, do dia a dia, da escolha de repertório, de equipe”, aponta Luciana Mello.

Diversidade

Diretor artístico e curador de A Voz da Periferia, João Marcello Bôscoli foi, ao lado de Renegado e Nath Rodrigues, um dos responsáveis por selecionar os 20 nomes que estão na atual fase do projeto. O trio utilizou critérios artísticos e técnicos, como criatividade, originalidade, performance, harmonização e interpretação. A pluralidade existente entre os candidatos chamou a atenção do produtor musical.

Automaticamente, ele diz, as pessoas tendem a achar que nas favelas e comunidades brasileiras só há produção de estilos musicais historicamente identificados com esses espaços: “Eu sempre notei uma diversidade. As regiões periféricas, das chamadas ‘classes trabalhadoras’, são locais de muita efervescência. Tem trap, hip-hop e funk, sim, mas há vozes cantando MPB e músicas que podemos chamar de ‘folclórica’ no sentido de serem cânticos centenários, alguns milenares. Os artistas das periferias têm talento e ouvido e coração abertos”.

Nesta quarta-feira (15), Bôscoli estará no auditório da Cemig para trocar ideias com os 20 artistas de BH. Noções da realidade mercadológica e a importância de utilizar assertivamente as ferramentas tecnológicas contemporâneas disponíveis, sem se esquecer de que nada começou agora, são alguns dos pontos pelos quais o produtor vai passar.

Fazer um bom uso das redes sociais e do diálogo com os fãs, mas não deixar que essas plataformas atrapalhem a produção e minem a saúde mental do artista, também são aspectos importantes. “Falo um pouco de coisas que, se o artista fizer, com certeza terá problemas, e de outras que com certeza vão render bons frutos”, destaca.  

Para João Marcello Bôscoli, é fundamental que os novos artistas entendam que a música vem sempre em primeiro lugar: “Não havia um negócio da música, e veio um artista pedir emprego. Havia um artista, e em torno dele se criou o negócio. Esse fluxo deve ser respeitado. É importante entender os processos para sempre voltarmos à música”.

Conheça os 20 artistas semifinalistas selecionados para a fase de workshops do festival A Voz da Periferia: 

Adrielle Moreira (Adrielle Moreira de Assis Aguiar)

Gugu de Souza (Alexandre Souza)

Júlia Deodora (Ana Júlia Santos)

Anne Chaves (Anne Caroline Fernandes Chaves)

Bia Anastácio (Bianca Gabrielle Silva Santos)

BN 163 (Breno Henrique de Souza)

Balrog (Carlos Miguel Souza Costa)

Filipe do Mundo (Filipe Rocha Braga)

Isaque Tales (Isaque Tales Miguel)

Berêta (Laryssa Pires Martins)

Luter Nguzuale (Luter dos Reis Neves Winter)

M4RCO (Marco Túlio Zenóbio Resende)

Kathleen Dias (Kathleen Dias do Carmo)

de Paula (Pedro de Paula)

Rafaela Epifânio (Rafaela Epifânio Silva)

Rams (Ramilton Inácio Ferreira)

Raquel Moreira (Raquel Costa Moreira)

Roberto Una (Roberto Nunes da Silva Junior)

Talita Silva (Talita S Silva)

Vitória Pires (Vitória Regina Pires de Freitas Mendes)

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