MÚSICA

Roger Waters, ex- Pink Floyd, se despede dos fãs mineiros em show no Mineirão

Apresentação da turnê 'This is not a Drill' tem tom político, tecnologia e muitos clássicos

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 08 de novembro de 2023 | 07:30
 
 
 
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O que esperar do show de despedida de Roger Waters? Em primeiro lugar, muita polêmica. Já no início da apresentação desta quarta-feira (8), às 21h, no Mineirão, o público será convidado a se retirar no caso de pertencer ao grupo de “pessoas que adora Pink Floyd, mas não quer saber de política”. Para elas, o recado é “vaza e vá para o bar”, como deixa claro um nada amistoso aviso no telão antes de o músico inglês entrar no palco.

“O Roger é muito político. Ela (a política) está no início, no meio e no fim do show, colocando-se todas as suas crenças”, registra o crítico musical Rodrigo James, que aguarda um Mineirão “mais vazio ou menos lotado”, se comparado à passagem anterior, em 2018, justamente em função do roteiro politicamente inflamado de Waters. “Muito bolsonarista, mesmo sendo fã do Pink Floyd, vai pensar: ‘Não vou dar dinheiro para esse comunista’”, constata.

O lado engajado já surge em “Comfortably Numb”, música de abertura em que ele surge com roupa de enfermeiro, empurrando um homem de cadeira de rodas e em estado vegetativo, exemplar de uma sociedade complacente com os desmandos governamentais. Ele também chama os presidentes americanos, desde George Bush até Joe Biden, de criminosos de guerra e cita minorias oprimidas, como as mulheres. Momento para reverenciar a vereadora assassinada Marielle Franco.

O artista, hoje com 80 anos, às vésperas de abandonar os palcos em sua última turnê mundial, foi um dos líderes de uma das mais influentes bandas da história do rock. O Pink Floyd esteve em plena atividade de 1965 a 1995, e muito de seu estilo foi ditado por Waters, antes de o baixista e vocalista sair do grupo, em 1985. “A partir de determinado momento, quando assumiu as rédeas, ele criou o conceito”, analisa.

A disputa de egos travada com o guitarrista David Gilmour teve vitória parcial de Waters. “Gilmour tem momentos absurdos, como a voz dele em clássicos, mas as duas obras mais emblemáticas, ‘Dark Side on the Moon’ e ‘The Wall’, têm muito do baixista, especialmente a segunda, que é puro Roger Waters. Para o bem e para o mal, ele impôs o que gostava, o tipo de som que gostava”, avalia James.

Um bom parâmetro disso, sublinha, é o trabalho solo de Gilmour e Waters. “No caso de Roger, tem muito a ver com o que ele fazia no Pink Floyd na época. Entre os temas, há uma crítica que é super atual até hoje. É um exemplo do ‘Roger way of life’ levado para o bem. Por outro lado, ali estavam ele e seus amigos. O resto da banda vinha a tiracolo”, recorda o crítico, para quem o mais instigante nos shows do artista é a sua imprevisibilidade.

“Por isso o show é tão instigante. Ele pode muito bem declamar uma letra ou pode mudar completamente a versão de um clássico do Pink Floyd. Hoje, confesso, sou mais instigado por shows assim do que aqueles que seguem um roteiro bem definido, em que você vai ver as mesmas falas em cada apresentação. No caso do Roger, por mais que um show dessa dimensão tenha que ter um roteiro, há espaço para ele colocar um caco ou outro”, destaca.

A parte visual tem um papel fundamental na experiência do público. Foi assim no show de 2018, ocorrido também no Mineirão, e não será diferente agora. “O outro já foi inacreditável, com aquele telão contínuo no fundo do palco todo. Num show como esse, você vai pela música, mas também pelo visual”, assinala. Em “This Is Not a Drill”, são quatro telões enormes, que oferecem um ambiente high-tech de primeira linha.

No show do Rio de Janeiro, realizado no estádio Nilton Santos, a apresentação durou duas horas e 30 minutos. Não faltaram clássicos como “Us and Them”, “Another Brick in the Wall”, “Comfortably Numb”, “Wish You Were Here” e “Have a Cigar”, além de trabalhos solos. Waters também apresenta uma nova composição, “The Bar”, inspirada na canção “Sad Eyed Lady of the Lowlands”, do disco “Blonde on Blonde”, de Bob Dylan.

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