Música

Sara Não Tem Nome surge densa e debochada em disco que ganha show gratuito em BH

Cantora e compositora mineira toca as 12 faixas de 'A Situação' nesta sexta (13), no Teatro Sesiminas

Por Bruno Mateus | @eubrunomateus
Publicado em 13 de janeiro de 2023 | 14:59
 
 
 
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Na faixa de abertura do álbum “A Situação” (Natura Musical), Sara Não Tem Nome canta, repetidamente, ao som de uma marchinha de Carnaval: “Pare pra eu descer que essa viagem já foi longe demais”. O clima de folia, porém, não esconde um pedido de socorro, embora os tons burlescos dos instrumentos de sopro marquem toda a canção. “Pare” é assim, tragicômica, e foi lançada como single e videoclipe em março do ano passado, adiantando ao público o que viria no álbum que chegou, nesta sexta-feira (13), às plataformas digitais.

À medida que “A Situação” foi sendo construído, Sara NTN percebeu que “Pare” deveria ser a porta de entrada do disco “porque tinha tudo a ver com o conceito central do álbum”. “A letra está ligada a todas as situações que a gente tem passado. Ela fala diretamente de todo esse delírio que a sociedade começou a viver: pandemia, fake news, retorno de ideias autoritárias. A sensação é a de que estamos numa viagem errada, dentro de um ônibus sem rumo, sem motorista. É, também, uma reflexão sobre o Brasil”, comenta a cantora e compositora mineira em entrevista a O TEMPO.

“A Situação” será interpretado na íntegra nesta sexta (13), às 20h, no Teatro do Sesiminas (rua Padre Marinho, 60 – Santa Efigênia). A entrada é gratuita e os ingressos devem ser retirados antecipadamente na plataforma Sympla.

No palco, Sara será acompanhada por Luiza Rozza (pianos de calda, piano elétrico e backing vocal), Desirée Marantes (baixo e violino), Leonardo Brasilino (trombone), Pedro Mota (trompete), Lucca Noacco (guitarra e backing vocal) e Larissa Conforto (bateria e backing vocal). Bernardo Bauer (voz) faz participação especial no show. Projeções, resultado de um trabalho audiovisual de Randolpho Lamonier, Pedro Veneroso e Victor Galvão, serão mais um elemento no palco do Sesiminas.

“Dejà Vú”, as portas do inferno e o começo de tudo

As letras do disco começaram a ser compostas em 2016. É “Dejà Vú”, segundo Sara Não Tem Nome, a responsável por dar o “start” no álbum. A música nasce no contexto do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “Foi um momento assustador, as portas do inferno se abriram. Vi o Brasil voltando para um sonho de censura”, ela recorda. De lá pra cá, Sara reuniu o material inspirado pelos acontecimentos políticos e sociais no Brasil até chegar às 12 faixas que dão contornos ao seu segundo disco solo – a estreia veio com “Ômega III”, de 2015.

Sara Não Tem Nome foi buscar a referência estética de “A Situação” em uma videoarte homônima do jornalista e videomaker paulistano Geraldo Anhaia Mello (1955-2010), que, em 1978, apareceu em um vídeo repetindo a frase “a situação social-política-econômica-cultural brasileira” enquanto toma uma garrafa inteira de cachaça, até ficar completamente bêbado. Em boa medida, a melancolia, a desilusão e a incerteza que invadiam Geraldo há 45 anos também embriagaram Sara de 2016 para cá.

Com deboche e ironias de toda sorte, “A Situação” usa o sarcasmo para tecer críticas – umas mais explícitas, outras menos, mas sempre incisivas – ao capitalismo e à situação econômica, política, social e cultural cambaleante de um país injusto e eticamente cruel com os mais necessitados.

“Será que o mercado vai lavar suas mãos invisíveis”, pergunta Sara na ótima tirada em “Agora”. "O capitalismo passa por cima de tudo. A miséria é boa para certas pessoas, a pobreza também. É a oportunidade na dificuldade”, Sara cita outro trecho da letra.

“Revés, Volte 4 Casas”, no melhor clima Rita Lee, faz gozação sobre o mercado que gira em torno das dívidas, do “carnê, crediário, boleto bancário, cartão de crédito, débito, cheque especial”. “Não tenho nome mas ele está sujo/ Não tenho nem onde cair morta/ Mas me ligam do bosque da esperança/ Querendo me vender um lugar no céu”, Sara canta já no fim da canção. “Cidadão de Bens” tem endereço certo: “Seu ódio quer nos engolir/ Seu ódio vai te destruir”.

As ótimas letras de Sara Não Tem Nome vêm embaladas em uma atmosfera densa, hipnotizante e delicada, com a sutileza e a força emotiva do piano de Luiza Rozza, mas que por vezes também assume a mistura do trombone, do trompete e do violino. Em “A Situação”, ressalta a compositora, não há necessariamente uma coerência de gênero musical.

“Tem música que é minimalista, outras com muito sopro. Eu queria dar sustentação a essa narrativa, deixar soar, porque a mensagem pede. Caos, ruído, efeito sonoro, fui pensando nas paisagens que eu queria criar”, conta Sara.

Como o disco aparece musicalmente para ela, entretanto, ainda é um mistério: “É experimental, tem jazz, post-rock; tem a melancolia do folk ,que já me acompanha. Gravar esse álbum foi um processo de entender que eu estava muito aberta a vários estilos”. 

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