Música

Sérgio Pererê presta homenagem a Milton Nascimento em espetáculo neste sábado

Multiartista mineiro leva ao público 'Canto Negro para Milton Nascimento', no qual reforça sua intensa relação com a obra do compositor

Por Fabiano Fonseca
Publicado em 23 de fevereiro de 2024 | 05:30
 
 
 
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Uma história que permeia toda uma vida. Assim, de forma singela e direta, se define a relação de Sérgio Pererê com Milton Nascimento - o homem, o artista e sua obra. Mais do que uma trilha sonora, uma trilha artística. Uma conexão musical e espiritual que definiu, sob muitos aspectos, a formação do belo-horizontino batizado José Sérgio Pereira, que há mais de 25 anos percorre uma prolífica trajetória como músico, cantor, compositor, instrumentista, ator e produtor.

"Desde bem menino, minha família escutava muito a obra de Milton Nascimento. Meu pai e um primo, que também é meu padrinho, tinham uma paixão pelo Bituca e isso espalhou pela família. A princípio, tinha muito a ver pelo fato de semelhança física, detalhes no rosto, no olhar que lembrava a família. Na minha infância escutei muito", conta Pererê, ressaltando como a relação com o pai o alimentou para seguir na música - e Milton tem muito a ver com essa história.

"Meu pai, desde quando eu era pequeno, viu que minha coisa era com a música. Ele se empenhou por mim, mesmo quando eu pensava em fazer outra coisa para ajudar a família. Ele sempre me nutria de música, de todos os estilos. E nisso ele tinha paixão pela música 'Itamarandiba'. E nesse periodo de pensar em fazer outra coisa, disse ao meu pai que iria trabalhar com mecânica. Ele disse que tudo bem, mas um dia o Milton vai te encontrar e querer cantar com você. Isso foi uma fala muito precisa dele", relembra.

Passam os anos e Pererê perdeu seu pai. Conta ele que um desejo de seu progenitor era que ele cantasse "Itamarandiba" na despedida - algo que o multiartista relutou, mas respirou fundo e soltou a voz, emocionando familiares e amigos. "Passou exatamente um mês e encontrei com Milton. Fizemos um show no Palácio das Artes. Quando ele chegou para ensaiar, pensava em porque meu pai não esperou só mais um pouco. Falei com Milton sobre isso e sua importância na minha família", conta Pererê.

Depois disso, a história desta parceria rendeu grandes frutos. Sérgio Pererê teve a oportunidade de cantar com Bituca em Nova York (EUA), realizaram o projeto Mil Tambores e outras trocas que foram fundamentais para atrajetória de Pererê. "Bituca me chamou no camamim e estava com a letra de 'Costura da Vida' e disse que queria cantar. Ele estudou minha música e perguntou se poderia gravar. Foi como se eu estivesse voltado lá atrás com meu pai. Parece que tive uma pausa naquele momento. Ou seja, a presença dele é fundamental. Era uma confirmação do sonho do meu pai. O lugar dele na minha vida é muito grande. Passa pelo lugar do artista e transcende a música, algo espiritual. Ele passa a ser uma espécie de entidade - humana, naturalmente - pela força da referência", define.

Alento

Pois a relação íntima de Sérgio Pererê com a obra de Milton Nascimento ganhou um momento singular exatamente em um dos períodos mais difíceis de nossa recente história. Durante a pandemia e o isolamento imposto pela crise sanitária, Pererê criou um tributo a Bituca com "Canto Negro para Milton Nascimento", gravado em 2021 em quatro dias, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, com banda e dez convidados, e transmitido pelo YouTube.

Agora, é a vez do público da capital, presencialmente, se unir a Sérgio Pererê nesta homenagem com a apresentação do espetáculo neste sábado, no Espaço Cênico Yoshifumi Yagi / Teatro Raul Belém Machado. Com entrada gratuita, os ingressos já estão esgotados. Mas, segundo a produção do show, haverá uma nova leva de entradas a serem distribuídas no local. Além da apresentação de sábado, Pererê promove um ensaio aberto do show, no Centro Cultural Vila Santa Rita, nesta sexta, às 19h. Para esta apresentação, a entrada é aberta ao público, sem necessidade de retirada prévia de ingressos.

"Durante a pandemia, quando estavamos fragilizados, de alguma forma o espírito da arte me absorveu. Lancei cinco discos, fiz lives diárias. Por alguma razão senti que a arte me colocou a serviço de uma demanda, de levar um remédio para o coração das pessoas e para meu também. Foi muito isso, uma forma de levar um alento para as pessoas", conta o artista, feliz por levar o "Canto Negro" bem perto do público.

Distinções

Se na ocasião do espetáculo de 2021 Pererê contava com um grande número de convidados, desta vez o multiartista terá a companhia das musicistas e cantoras Nath Rodrigues e Thamires Cunha.

"É muito especial. Quis essa escolha de duas mulheres cantoras e musicistas para a gente se antenar nisso, as mulheres na música enquanto instrumentistas. Minas Gerais é um lugar muito rico na música instrumental, é impressionante. E vivemos um momento maravilhoso, uma safra muito boa. Temos muitas mulheres e infelizmente ainda vivemos um machismo dentro da música. É importante a gente reconhecer para andar pra frente. Não está certo. As participações enriquecem nesse sentido", sublinha ele, que também aponta outra distinção para a apresentação deste fim de semana.

"A outra coisa diferente é que vai ter músicas que vou cantar sozinho. Mas a energia será a mesma. Escolhemos coisas simples (do repertório de Milton Nascimento), nem tão lado B, nem tão lado A. O mote da seleção foi trazer a africanidade da obra do Bituca. Fui nesse lugar de diálogo. Procurei trazer uma parte bem próxima de mim. Quis evidenciar esse encontro", justifica Pererê, sobre a ancestralidade e africanidade tão presentes na sua música.

Aliás, cumpre ressaltar, "Canto Negro para Milton Nascimento" será lançado nas plataformas de música em março.

Pois é assim, de forma singela e repleto de afeto, que Sérgio Pererê recorre a Milton Nascimento para mais um encontro com o público. E, por mais que a vasta obra de Bituca forjaram o multiartista Pererê, ele consegue eleger aquele que tem um lugar reservado em seu íntimo: "Tenho um carinho muito grande pelo disco 'Ânima'. Me pega num lugar espiritual. Inclusive a música, que para mim é uma oração. Dependendo da minha demanda de cura, fico cantando ela".

Serviço

O que. Show "Canto Negro para Milton Nascismento", de Sérgio Pererê

Quando. Neste sábado (24), às 20h

Onde. Espaço Cênico Yoshifumi Yagi / Teatro Raul Belém Machado (rua Jauá, 80, Alípio de Melo)

Nesta sexta-feira (23), às 19h, haverá um ensaio aberto do show no Centro Cultural Vila Santa Rita (rua Ana Rafael dos Santos, 149, Vila Santa Rita), aberto ao público 

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