'Sombra e Ossos': novo mundo de fantasia traz heroína carismática na Netflix

Mais um universo fantástico se abre para o público a partir desta sexta-feira (23) com a estreia de “Sombra e Ossos” na Netflix. Baseada na bem-sucedida trilogia de livros da escritora Leigh Bardugo, que também é produtora executiva da série, a obra conta a trajetória da jovem Alina Starkov (Jessie Mei Li) em Ravka, um reino visualmente inspirado na Rússia czarista do século XIX.

Ravka está em guerra contra vizinhos ao Norte e ao Sul, à beira de um golpe político interno e rasgado ao meio, literalmente, pela Dobra das Sombras, uma área totalmente escura, habitada por monstros e quase impossível de se atravessar. O maior anseio do país é destruir a Dobra, feito que só será atingido pela Conjuradora da Luz – uma profecia na qual a maioria das pessoas não acredita.

Leigh Bardugo reúne na trajetória de Alina todos os elementos da mítica jornada do herói presentes desde os clássicos gregos: a vida normal enquanto ela ignora seus poderes, o desafio que faz seu dom se manifestar, a demora em aceitar sua missão, um mentor, o treinamento, os vários testes, a superação de seus medos e o retorno ao seu mundo de origem, agora para salvar todo mundo.

A receita que transformou seus livros em best-sellers para jovens adultos ainda inclui doses bem medidas de características das grandes sagas de fantasia, como magia, o eterno duelo entre luz e sombra e o grande cervo galhudo, criatura mítica explorada desde “As Brumas de Avalon” (Marion Zimmer Bradley) até o Expecto Patronum de Harry Potter (J.K. Rowling).

A Dobra que rasga Ravka ao meio como uma cicatriz no mapa foi criada séculos antes por um grisha (nome dado aos bruxos e que cunhou o nome Grishaverso para esse mundo alternativo). Quando a órfã Alina, cartógrafa do Primeiro Exército, vai atravessá-la, seu poder de Conjuradora do Sol surge durante um ataque dos monstros. Com a revelação de que a jovem é a santa da profecia, ela é levada para a sede do Segundo Exército, composto exclusivamente por donos de algum tipo de poder mágico. Lá, será treinada à exaustão até que aprenda a dominar seu poder. Enquanto isso, é hostilizada pela maioria dos grishas por ser especial e é atacada por inimigos – e alguns aliados – do reino.

Requer dedicação

O excesso de personagens – muitos deles uniformizados – e a constante escuridão das imagens, em função do domínio das sombras sobre o reino, dificulta a vida do espectador nos primeiros episódios. É preciso prestar muita atenção em quem é quem. Mas, uma vez que se adquire familiaridade com nomes, lugares e aparências, a produção da Netflix consegue transportar o público para dentro do Grishaverso. 

Em alguns momentos, a trama se arrasta em explicações didáticas sobre o funcionamento da magia e a história de Ravka, mas o que se perde em ritmo é compensado pela compreensão: mais para o fim da temporada, que o Magazine viu antecipadamente, quando os caminhos de vários núcleos se cruzam e tudo faz sentido, o espectador que não leu os livros agradece ter sido “levado pela mão” lá no início.
A Netflix acerta a mão ao misturar personagens de outros livros de Leigh Bardugo que também se passam no Grishaverso: o carismático grupo de mercenários do Clube do Corvo, “chupado” de outra série, dosa humor na medida certa e se transforma nos bandidos que amamos odiar em “Sombra e Ossos”.

Onde assistir: Netflix
Episódios: Oito
Principais diferenças em relação aos livros:
* Reúne personagens de duas séries distintas, que originalmente estão em linhas temporais diferentes, costurados em ação simultânea.
* A protagonista, que nos livros é branca de cabelos louros, agora é mestiça e enfrenta preconceito por suas feições asiáticas, características do país inimigo. A decisão de mudar a etnia da personagem foi tomada em conjunto com a autora dos livros.