Teatro

Sucesso na Broadway, comédia ‘canina’ Sylvia vem a BH pela 1ª vez

Com Simone Zucato e Cassio Scapin, espetáculo será apresentado no Sesc Palladium

Por Alex Bessas
Publicado em 21 de março de 2024 | 06:30
 
 
 
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Cassio Scapin vai logo avisando que “Sylvia”, um espetáculo que já passou pela Broadway, não é um musical. “A gente tem essa referência, pensa que se esteve na Broadway, vai ser um musical, mas não é isso! A peça está mais para um teatro de prosa, onde a gente conta histórias de uma cachorra, de um pet, adotada por um homem em crise de meia-idade, sem imaginar que a presença dela vai trazer muitas questões à tona, colocando até o relacionamento dele com a esposa em xeque”, resume o ator, que está no elenco da montagem desde sua chegada ao Brasil, em 2019, e que, agora, vem a Belo Horizonte, onde essa comédia-romântica será apresentada pela primeira vez neste sábado (23), às 21h, e domingo (24), às 19h, no Grande Teatro do Sesc Palladium.

A citada passagem pela Broadway, aliás, marca um segundo momento na história desta bem-sucedida montagem, escrita originalmente por A.R. Gurney, que estreou em 2 de maio de 1995 no circuito de salas de teatro nova-iorquinos off-Broadway. De largada, “Sylvia” provou ter fôlego para cumprir nada menos que 167 sessões e, vinte anos depois, chegou aos templos teatrais da famosa avenida que atravessa o condado de Manhattan e do Bronx.

Diante desse estrondoso sucesso, não é difícil imaginar que a peça tenha impactado muitas pessoas. Entre elas, a atriz e produtora paulista Simone Zucato, que se viu arrebatada pela história de tal maneira que passou a trabalhar para trazê-la aos teatros brasileiros. “O que me fez querer trazer ‘Sylvia’ foi, em primeiro lugar, o texto, que é extremamente inteligente. É um texto que diverte, que emociona, que faz as pessoas saírem refletindo sobre coisas importantes”, lembra. “Além disso, tem o fato de se tratar da história de uma cachorra e eu sou uma pessoa muito ‘cachorreira’, que teve cachorros ao longo de toda a vida”, reconhece ela que assina a tradução e ainda se divide entre a idealização, a produção e o papel-título do espetáculo.

“É um desafio para qualquer atriz fazer Sylvia – que é uma cachorra humanizada, não uma mulher animalizada. Ou seja, você não vai me ver latindo, não vai me ver de quatro no palco. Mas você vai ver, em cena, a expressão corporal do cachorro, o seu olhar”, expõe, assinalando que este é um trabalho delicado, pois a linha para não cair no caricato, no ridículo, é muito tênue. “E, claro, é um papel que exige muito corporalmente”, reconhece, emendando elogios ao diretor Gustavo Wabner e aos colegas de elenco – que, além de Simone, tem Cassio Scapin no papel de Greg, o tutor da cachorrinha, Vera Zimmermann como Kate, esposa de Greg, que não gosta da ideia de adotar uma pet, e Thiago Adorno interpretando três personagens distintos.

Simone pontua que, quando a peça estreou no Brasil, antes da pandemia da Covid-19, quem interpretava a Kate era a atriz Françoise Forton, que faleceu em 2022. “Com a partida da Fran, o Gustavo Wabner sugeriu o nome da Verinha e, desde então, eu passei a ver a personagem nela”, relata, acrescentando que Thiago Adorno também entrou para o time no ano passado – “os papéis que ele assumiu tão primorosamente eram interpretados, antes, pelo Rodrigo Fagundes, que estava com um projeto no audiovisual e não poderia estar com a gente nesta temporada”, detalha.

História

Se detendo sobre a trama de “Sylvia”, Cassio Scapin define Greg, o seu personagem, como um homem profissionalmente bem-sucedido, que se estabeleceu em uma vida mediana, mas que não está satisfeito. “Ele olha para a sua vida e se questiona se é isso que ele quer. E um dia, passeando pelo Central Park, ele se depara com uma cachorra, que restabelece nele a vontade de viver. Então, ele leva Sylvia para casa sem imaginar que, ao mesmo tempo que ela traz esse frescor de vida, ela lhe causará enormes problemas domésticos, familiares e de relacionamento”, examina. 

Ocorre que Kate, a esposa de Greg, que tem mais ou menos a mesma idade que ele, tem outros projetos de vida. “Juntos, eles já criaram os filhos e conquistaram uma vida estabilizada. Agora, portanto, ela quer viver, passear, fazer cursos, ter outro tipo de experiência, sem ficar presa à tarefa de cuidar de um animal”, reflete, emendando que, a partir desse ponto, uma série de questões vai ser discutida.

“Surgem, por exemplo, angústias que costumam aparecer quando estamos nessa faixa etária, nesse momento em que percebemos que não somos mais essa figura produtiva, essa figura inerente no circuito da mecânica da sociedade, que estamos indo para outro lugar. Daí, surgem algumas perguntas: ‘Como vou encarar isso?’, ‘O que vou fazer da minha vida a partir disso?’. E então podem surgir novos desejos, como o de trilhar outro caminho, de querer outras coisas, mesmo que sejam coisas menores do que os ideais de muita gente”, argumenta o ator, localizando que Greg se vê justamente em meio a tais dilemas existenciais. “Ele se dá conta que quer uma vida mais simples, mais doce, que quer estar perto da natureza”, cita. 

Direção delicada

Essas tantas idiossincrasias de Greg a partir do encontro com Sylvia são ressaltadas pela direção do Gustavo Wagner a partir de escolhas cênicas precisas. “Como tudo se passa a partir de um evento no Central Park, repercutindo nesse mundo que o personagem busca, a montagem investe em uma cenografia que faz a história se passar em uma sala de estar que parece estar no campo, dentro de um jardim, ou, talvez, seja um jardim dentro de uma sala de estar”, pontua Cassio Scapin. 

“É um espetáculo que, apesar de ser uma peça de gabinete – em um formato em que as cenas acontecem em um espaço de quatro paredes e um sofá –, não é um gabinete convencional”, diz, elogiando também a trilha sonora assinada pelo mineiro Daniel Maia,  que mescla composições originais com sucessos como “Stand By Me”, “Pretty Woman” “Moon River” e “The Dog Days Are Over”. “É uma seleção fantástica, bárbara, que ajuda a contar a narrativa, mas não é o foco principal da peça, que não é um musical”, reforça.

Três décadas de sucesso

Para Cassio Scapin, alguns elementos ajudam a compreender o porquê de “Sylvia” ser um sucesso no teatro há quase três décadas. “Além de ser uma comédia, acho que a peça pega porque a dramaturgia americana é bem estruturada, fazendo esse tempero da comicidade com o drama. Caso do meu personagem, que faz comédia em situações dramáticas, o que dá uma camada a mais ao texto”, observa, acrescentando outro e irresistível apelo da montagem: “O debate do amor incondicional”.

“Quando falamos de um cachorro, estamos falando de um sentimento instintivo, primal e incondicional, que se permite entender a possibilidade do outro para amá-lo e para que o outro possa te amar”, aponta, sublinhando que, fundamentalmente, o cerne do espetáculo são as tantas maneiras do amor.

SERVIÇO:
O quê.
Espetáculo “Sylvia”, com Cassio Scapin, Vera Zimmermann, Simone Zucato e Thiago Adorno
Quando. Neste sábado (23), às 21h, e domingo (24), às 19h
Onde. Grande Teatro do Sesc Palladium (r. Rio de Janeiro, 1046, Centro)
Quanto. A partir de R$ 19,80 (Ingressos Populares, meia entrada) até R$ 90 (Plateia I, inteira). Ingressos pela plataforma Sympla ou na bilheteria do teatro.

(Com Nélio Souto)

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