Estreia

Uma tempestade que demora demais

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival do Rio, longa do mineiro José Luiz Villamarim foi filmado em Cataguazes

Por Daniel Oliveira
Publicado em 10 de fevereiro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Estreia do diretor global José Luiz Villamarim no cinema, “Redemoinho” – em cartaz na capital – tem um ótimo elenco, um rigor visual apurado e um início instigante... mas nunca cumpre a promessa da soma desses elementos. A adaptação da obra do escritor mineiro Luiz Ruffato é tensa e cria no espectador uma expectativa, sem nunca realmente lhe entregar essa explosão – se cinema é realmente cachoeira, como dizia Humberto Mauro, a queda d’água nunca chega.

Na trama, Luzimar (Irandhir Santos), gerente de uma fábrica de costura em Cataguazes, reencontra o amigo de infância Gildo (Júlio Andrade), retornando à cidade após partir para São Paulo. A reunião, na véspera de Natal, acaba trazendo à tona os ressentimentos e a culpa de um passado mal resolvido.

O problema é que esse redemoinho do título só chega no final do filme. Até ali, o longa é carregado por Santos – monstruoso, como de costume, e com um sotaque mineiro impecável – e Andrade, que sofre com um personagem pouco sutil, histriônico demais e que explicita o subtexto do filme o tempo todo.

Visualmente, Villamarim constrói um trabalho competente, mantendo os protagonistas à distância no início, e só se aproximando à medida que o espectador os conhece melhor. Além disso, “Redemoinho” faz uso de metáforas visuais interessantes, como a ponte dos flashbacks – de um lado, os garotos têm uma vida e, ao atravessá-la, terão outra – e o trem, como imagem da vida amaldiçoada dos personagens, presos a um trilho de arrependimento, em contraste com a bicicleta de Luzimar e o carro de Gildo, que dizem muito sobre quem é cada um deles.

Santos e Andrade são acompanhados pelo ótimo e sutil trabalho de Cássia Kis Magro, como a mãe de Gildo, e Dira Paes, fazendo seu melhor com o ingrato papel da esposa preocupada no telefone. O desdobramento da história paralela da personagem dela no terceiro ato, por sinal, é o ponto mais fraco e desnecessário do roteiro. Não é uma estreia perfeita, mas deixa a vontade de ver o que mais Villamarim tem a oferecer na telona. 

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