Memória

Vale a pena comer de novo? Veja onde encontrar iguarias vintage em BH

Receitas tachadas de cafonas, como creme de papaia com cassis e barquete de salpicão, recuperam suas histórias e figuram nos menus na capital mineira

Por Lorena K. Martins
Publicado em 20 de março de 2023 | 13:34
 
 
 
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A célebre chef Agnes Farkasvölgyi se lembra de quando o creme de papaia com cassis figurava nos menus como uma opção sofisticada de sobremesa, unindo uma fruta – o mamão – batida com sorvete de creme ao requinte da bebida francesa. Vinte anos depois, ela colocou a mesma sobremesa como menu de verão em seu restaurante, principalmente por ser uma sugestão leve e refrescante para a estação. A investida deu certo, tornando-se a sobremesa mais pedida do cardápio — não só pela combinação de sabores, mas também pelo resgate da memória afetiva dos comensais.

“Os clientes comem tudo! E quanto mais licor de cassis, melhor ainda”, conta a chef sobre a receita. “Nos meus primeiros dez anos como chef profissional, me lembro de como essa sobremesa era super fácil de preparar, mas ninguém entendia muito sobre as técnicas de cozinha e a achava extremamente chique e requintada”, relembra.

Assim como a moda, a gastronomia também é feita de ciclos e, claro, altos e baixos. Muitos pratos, que eram feitos com pouca técnica mas conquistaram rótulos de sofisticação, acabaram se perdendo com o tempo – hoje, em meio às novidades, são rotulados de bregas e até cafonas. Para outros, são capazes de despertar saudade e evocar lembranças prazerosas. E é por isso que muitos espaços, como o restaurante A Casa da Agnes, resgatam as receitas e impedem que elas caiam em extinção. 

O licor de cassis também é combinado com espumante do clássico Kir Royale, drink sofisticado, mas um pouco difícil de encontrar pela cidade, exceto no bar Ofélia. Apesar de vintage, o coquetel passou por um refresh depois de voltar ao radar com a série da Netflix “Emily in Paris”. “E o público feminino acabou sendo conquistado”, disse Bruce Laviola, diretor do espaço.

Em 2021, a chef Ju Duarte, do restaurante cozinha Santo Antônio, elaborou um menu nostálgico e o batizou de “Festival de Comida Brega Que a Gente Ama”, com o objetivo de enaltecer pratos que são muito apreciados pelo público, como o salpicão e o mosaico de gelatina, sensação de festas de aniversário infantis nos anos 80 e 90. Na época, ela fez questão de deixar claro que a comida brega não significava que é boa ou ruim.

“Só brincamos com essa ideia e isso não representa depreciar um preparo. Há receitas que são clássicas e que permanecem, fazem parte das nossas tradições e raízes, mesmo sendo datadas”, diz ela, referindo-se ao estrogonofe, prato obrigatório do seu menu de almoço, servido toda sexta-feira. Mas nos anos 90 o prato era um clássico dos almoços de domingo, sinônimo de finesse. 

A receita servida é uma versão da que acompanhou a chef por toda a sua infância. “Também não é a receita original, mas é a da minha família. Gosto de fazer com palmito, molho com mostarda, molho inglês, com caldo do tomate pelati e creme de leite”, conta. Mas, com o tempo, ganhou o seu próprio diferencial: batata-palha caseira. “Ao longo dos anos, a gente vai modificando os pratos que são um recorte de uma época”, disse.

A chef ainda explica que preparos como estes “entram no auge, desaparecem e voltam aos menus, por movimento de nostalgia ou por releituras”, observa. Mesmo sendo um movimento raro, ainda há quem esteja disposto a recontar a história de clássicos da gastronomia.

No Pirex, bar localizado na Galeria São Vicente, no centro de Belo Horizonte, também não foi diferente. Enaltecendo a cultura da estufa e dos botecos, o estabelecimento segue com petiscos que simbolizam recortes de várias épocas.

“Nos anos 80 e 90, era tudo muito colorido, esteticamente, na moda e também na comida. A gastronomia é uma expressão cultural, assim como outras vertentes, e segue as tendências e fases”, contextualiza o chef Caio Soter, referindo-se às duas iguarias servidas por lá, como os clássicos “sacanagem” – espetinhos de salsicha, legumes e queijo – e “capetinha”, feito com salsicha e azeitona. Por lá, ambos são finalizados com maionese verde – outro clássico do fast-food de rua – e alho frito.

Outra sensação das festas de outrora, as barquetes recheadas de salpicão também são um dos atrativos do menu, feitas a partir de uma receita de família da chef de operação Isabela Rochinha.

ONDE IR:
Ofélia
R. Rio Grande do Norte, 311, Funcionários

Cozinha Santo Antônio
Rua São Domingos do Prata, 453, Santo Antônio

Bar Pirex
Galeria São Vicente 
2º andar
Av. Amazonas, 1.049, loja 54, Centro

A Casa da Agnes
Rua Paulo Afonso, 833, Santo Antônio

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