Na Caratinga da década de 1930, a educação religiosa era tão tradicional que muitos rapazes se encaminhavam para o celibato. Ziraldo, que morreu neste sábado (6), aos 91 anos, e nasceu na interiorana cidade mineira, escapou dessa profecia e começou a aprontar logo cedo.
Com seis anos, publicou o seu primeiro desenho no jornal “A Folha de Minas”. Criador, com outros colegas bons de copo, como Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, de “O Pasquim”, jornal de combate à ditadura militar, ele chegou ao estrelato com “O Menino Maluquinho”, a sua personagem mais famosa, nos anos 1980.
Porém, ironicamente, Ziraldo atuou como o padre ranzinza que passa um acalorado sermão em Antonio Pitanga, protagonista do filme “Esse Mundo É Meu!”, de 1963, montado por Ruy Guerra e dirigido por Sérgio Ricardo, que também compôs a trilha sonora.
A amizade com o músico, colaborador de Glauber Rocha no marco do Cinema Novo, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, levou Ziraldo a desenhar a capa do LP “A Grande Música de Sérgio Ricardo”, de 1967.
Em 2019, o filme “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho, recuperou uma das faixas do disco, a contundente “Bichos da Noite”, feita originalmente para a peça “O Coronel de Macambira”, do poeta Joaquim Cardozo.