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Foto: (Esvaziamento do centro de BH teve início na década de 1970 / Reprodução)

Ao longo dos últimos anos, a área central da capital mineira deixou de ser um local interessante como consumo e moradia para as classes altas, que migraram para outros bairros

Esvaziamento do centro de BH teve início na década de 1970

As chamadas 'novas centralidades' acabaram provocando a migração de habitantes das áreas centrais para bairros mais estruturados. Movimento ocorreu em várias partes do mundo

Por Cristiana Andrade Publicado em 12 de dezembro de 2023 | 08h00

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Parte do esvaziamento do centro de Belo Horizonte é atribuída à saída da estrutura do governo de Minas para a Cidade Administrativa, em 2010, quando mais de 20 mil pessoas deixaram de circular diariamente entre a área central e os bairros Savassi, Funcionários e Boa Viagem. Mas o processo teve início décadas antes, com o surgimento, não apenas em BH, mas em diversas cidades mundo afora, das chamadas “novas centralidades”: regiões dotadas de infraestrutura de transporte, serviços e comércio autossuficientes. 



Em 2019, em seu trabalho de mestrado intitulado “Morar no Centro: a experiência do retrofit em Belo Horizonte”, e apresentado junto ao curso de pós-graduação em ciências sociais da PUC Minas, Raissa Rocha Assunção Oliveira mostrou que os centros das principais metrópoles brasileiras experimentaram, desde a década de 1960, redução do seu crescimento, consolidando, na década seguinte, os “novos centros”, ou subcentros.

 

Em 1980, o centro da capital mineira tinha uma população residente 26.659 pessoas. Em 1991, eram 18.037, ou seja, uma perda de 32%. Em 2010, os dados do IBGE indicavam 16,5 mil e, em 2022, subiu para pouco mais de 16,6 mil pessoas. 

 

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Desinteresse

“Deixar de ser um local interessante como consumo e moradia para as classes altas foi o principal fator de deterioração do centro. Com isso, a área deixou de ser um lugar vantajoso para se investir e seus edifícios tiveram seu valor de troca reduzido em detrimento de outras regiões que passaram a ser o foco de aplicação do capital. E um dos principais fatores que influenciou a saída das classes altas do centro foi a mobilidade espacial adquirida a partir da década de 1970 com o aumento da taxa de motorização”, avalia Raissa Rocha no seu trabalho de mestrado.  

 

Na avaliação da economista e comerciante Jacqueline Bacha, diretora da Associação dos Comerciantes do Hipercentro, “a partir da desocupação da área central, a situação mudou completamente. “Passamos a conviver com condições mais difíceis para o comércio, problemas de segurança pública, um transporte público deficiente. Ao lado desse cenário, assistimos à autossuficiência dos bairros, e mais recentemente, o crescimento do comércio on-line, veio a Covid e o esvaziamento de muitos prédios comerciais”, avalia. 

 

Segundo Jaqueline, o comércio e os serviços são a vocação da cidade. “Essas atividades são responsáveis por 80% do PIB de Belo Horizonte. Nossa economia é baseada nisso, a economia criativa é uma forte tendência, com foco nas startups, na moda, na gastronomia, nos eventos e produções culturais e no turismo”, enumera a comerciante, que integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Belo Horizonte (Codese-BH), uma organização privada e sem fins lucrativos, que abrange 75  entidades que buscam projetar cenários futuros para a capital.

 

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