POTÊNCIA

Conheça a ‘Silver Economy’ e entenda por que este é o setor econômico mais promissor do mundo

A economia impulsionada pelo público 50+ merece atenção das grandes marcas; números mostram que este é o perfil do consumidor protagonista dos próximos anos

 
Por Pollyana Sales e Renata Evangelista
19 de junho de 2025 | 06:00 - Atualizado há 1 hora

Dispostos a comprar, exigentes e com a prioridade de aproveitar a vida. Pesquisas recentes mostram que o perfil das pessoas acima dos 50 anos é ativo e com alto potencial consumidor. Este público, considerado maduro para ser jovem e jovem para ser velho, é o responsável pelo impulsionamento da ‘silver economy’, ou economia prateada, setor que deve se tornar o principal responsável pela movimentação da economia nos próximos anos.

A ‘silver economy’ é o conjunto de todos os produtos e serviços voltados para o público maduro, que já é responsável por movimentar R$ 2 trilhões por ano no Brasil, de acordo com a consultoria Data8. No mundo, esta é a terceira maior atividade econômica, com movimentação de US$ 7,1 trilhões anuais.

“Empreender para esse público é uma tendência que é ditada pelo próprio IBGE, pelo próprio censo, porque nós no Brasil estamos vivendo mais. Então, tudo que for direcionado para o público com mais idade, vai ter mais mercado. Então vai desde os tratamentos estéticos, roupas específicas, fisioterapia e atividades esportivas. Investir nessa área é algo muito importante e é uma tendência por causa do envelhecimento da população”, afirma a Economista e professora da Fundação Getúlio Vargas, Carla Beni .

Aos 53 anos, a servidora pública Marcilene Rodrigues representa bem o perfil dos consumidores da economia prateada, que geralmente têm maior poder aquisitivo, estão dispostos a gastar, mas também são exigentes ao escolher aquilo que desejam comprar. 

“Ao longo dos anos eu tive mais oportunidades, tanto de estudo quanto profissionalmente, que melhoraram o meu poder aquisitivo e, com isso, a gente gasta mais. O meu poder de consumo realmente aumentou ao longo dos anos, mas eu lido com isso de uma forma bem tranquila e sem tropeços. Minha relação com o consumo é tranquila e consciente”, afirma Marcilene.

A servidora pública afirma que um dos seus maiores gastos são com procedimentos estéticos, tratamentos de beleza , roupas e acessórios. “ A maturidade me deu muito mais autonomia, mais liberdade, eu me sinto muito mais segura hoje e mais feliz. Eu tenho pensado e olhado muito mais pra mim do que antes”.

Marcilene Rodrigues tem 53 anos e se sente na melhor fase da vida- Foto: Arquivo pessoal

A liberdade econômica também é uma característica do público da Silver Economy. Com os filhos já criados e com a vida encaminhada, muitos idosos começam a se enxergar como prioridade. É o caso da professora aposentada Maria Heloisa da Silva, de 67 anos, que começou a viajar e investir em seus sonhos nos últimos três anos. 

“Com a maturidade e com essa independência de não ter mais filhos pequenos, de não ter que levar na escola, e todas aquelas responsabilidades de mãe, realmente sobra um pouco mais de tempo e dinheiro, e dá para administrar e fazer aquilo que eu tenho vontade”. Maria costuma fazer viagens longas anualmente, e foi depois de aposentada que conheceu destinos como Jalapão (TO), Lençóis Maranhenses (MA), Bonito (MS) e já tem programada uma visita para Bolívia no ano que vem.

“Hoje uma mulher com 50 anos está no mercado de trabalho, no mercado do entretenimento. Ela sai, se diverte, produz, e está extremamente ativa e fisicamente bem. Ela tem uma ‘juventude’ nesta fase, diferente da avó dela. A longevidade permite acesso a todas essas possibilidades”, explica a economista Carla Beni.

O mercado precisa se adaptar

Apesar do potencial deste público e de dados mundiais mostrarem que a população está envelhecendo e que hoje já existem mais avós do que netos, a publicidade ainda insiste em dialogar apenas com o público mais jovem, o que pode ser um grande erro,  já que falar da revolução prateada não é mais um assunto só do futuro, mas também do presente.

“A velocidade do crescimento dos 50+ do Brasil é muito significativa, mas infelizmente a gente não tem a maioria das empresas preparadas para lidar com esse público consumidor. As marcas precisam entender que a população idosa está crescendo de forma importante e que já é um público relevante, com dados e prioridades de consumo”, afirma Michelle Queiroz, professora da Fundação Dom Cabral.

Em 2009, quando a longevidade ainda não estava em evidência como hoje, o Banco Mercantil ganhou pela primeira vez um dos leilões do INSS e passou a receber, mensalmente, um volume alto de clientes aposentados. A mudança de perfil fez com que o banco percebesse a urgência de adaptar o atendimento e planos para este novo público, que hoje é a maioria dos clientes.

"Enxergamos ali uma parcela da população bastante negligenciada pelas empresas em geral e com um grande potencial de mercado. Entendemos a necessidade deles, a partir não só de dados, mas também de um olhar atento no atendimento. Este é um público que precisa de simplicidade, proximidade e bom atendimento, associados a uma enorme oportunidade estratégica. A partir daí, nos preparamos estrategicamente", afirma  Bruno Simão, vice-presidente de Clientes, Crescimento e Marketing do Banco Mercantil

A especialista Michelle reforça que a comunicação com este público é um processo que exige pesquisas, aprimoramento e diálogo.

“O primeiro desafio importante é entender que é necessário conversar com esse público. Se eu vou lançar um produto ou um serviço, eu preciso fazer uma pesquisa e escutar o mercado. A minoria das empresas dialoga com o setor público para poder desenvolver soluções que tenham um sentido. Depois, a gente tem que entender se esse produto foi bem desenhado: quais modelos eu vou utilizar, o tipo de mensagem que eu vou passar, até o tipo de letra que eu vou utilizar. Então, é preciso ter diálogo desde a concepção do produto até o processo pós-compra para entender o que o consumidor está achando daquele produto ou serviço”, finaliza Michelle.