MATURIDADE QUE BRILHA

Mulheres 50+: A nova cara da beleza, da moda e da longevidade no Brasil

Mulheres encontram novas oportunidades de trabalho com o avanço da idade

 
Por Pollyana Sales e Renata Evangelista
19 de junho de 2025 | 06:00 - Atualizado há 2 horas

No dicionário, “envelhecer” significa “dar ou tomar aspecto de velho, de idoso, ou de antigo”. Na vida, somos ensinados a desejar que essa fase não chegue e, quando ela se apresenta, sentimos a necessidade de escondê-la, seja tingindo os fios brancos ou preenchendo as linhas de expressão. Entretanto, decidir olhar para esse processo com coragem e cuidado é uma decisão que pode abrir novas portas e ressignificar o envelhecimento. No universo da moda e da beleza, mulheres que usam o tempo ao seu favor se destacam e ganham protagonismo no mercado brasileiro.

Foi com a chegada da maturidade, que a mineira Lilia Gouveia descobriu uma nova paixão: ser digital influencer aos 61 anos. Com mais de 750 mil seguidores nas redes sociais, ela inspira mulheres produzindo conteúdos como dicas de maquiagem para a pele madura, roupas e skincare. “Envelhecer não é o fim. E a gente deve se cuidar para conseguir passar por essa fase da vida, que eu considero muito gostosa, de uma forma plena e saudável”, afirma a influencer.

Neste mesmo caminho, Tiza Versiani, psicóloga por formação, viu o sonho da adolescência se tornar realidade quando decidiu assumir os fios grisalhos. Atualmente, a mineira trabalha como modelo e é destaque em campanhas publicitárias de todo o país. “Quando vem um casting para mim, ele vem por causa do meu cabelo grisalho, porque é uma coisa que o mercado passou a buscar e é uma forma fácil de representar a mulher madura”, explica a modelo.

Lilia e Tiza são mulheres que decidiram ressignificar o processo do envelhecimento. A digital influencer viralizou justamente com um tutorial de maquiagens para mulheres com a pele madura. “Eu dormi com 8 mil seguidores e acordei com 200 mil, foi uma coisa muito louca”, relembra.

O crescimento nas redes sociais não parou e Lilia passou a ser notada por grandes marcas que viram na influencer potencial para representar este público: mulheres maduras, em busca de autenticidade e com poder de consumo. Com uma linguagem acessível e carismática, ela se tornou referência para campanhas que valorizam a beleza real e a autoestima em todas as idades.

“A gente tem que encarar essa fase de uma forma legal, mais leve, para a gente passar pela ‘envelhescência’ de uma maneira mais plena, mais saudável. Porque se a gente ficar vidrado no que foi, em como era a sua pele, em como era o seu corpo, aí a gente fica deprimida realmente. É questão de opção. Eu escolhi encarar o lado bom da velhice”, afirma Lilia.

 Assim como Lilia, a modelo Tiza Versiani, de 58 anos, encontrou na maturidade a autoestima perdida na adolescência.  A idade, além de uma nova profissão, também trouxe coragem: “A gente pode ser autêntica em qualquer idade. A gente não ‘tem’ que nada. Essa coisa de não precisar pintar os cabelos é uma libertação mesmo. Com 50+, 60+ podemos ser pessoas integradas em todos os campos da sociedade, mas autêntica como nós somos, com nossas rugas, nossos pés de galinha, com cabelo branco, enfim, com o que a gente tem”.

A mudança na mentalidade de mulheres acima de 50 anos revela uma nova tendência, a de que é possível viver a maturidade com liberdade, autenticidade e presença: “Hoje, o olhar da mulher de 50 anos, a mulher madura, é diferente. Hoje a gente sai, viaja, tem vida que, antigamente, não tinha. A gente tem que celebrar isso”, diz Lilia.

Tiza Versiani é modelo 50+ e faz campanhas publicitárias para este público- Foto: Fred Magno- O TEMPO

Uma nova era

A sensação de que pessoas com 50 ou 60 anos atualmente são mais ‘jovens’ em comparação às gerações passadas é explicada pela longevidade. Para o especialista Alexandre Correa, fundador do portal Revolução Prateada, autor do livro “Longevidade Inteligente – como se preparar para uma vida de 100 anos” e Diretor do Instituto Mind Pesquisas, a revolução está ligada não apenas ao aumento da expectativa de vida, mas também à forma com que essas pessoas estão enxergando o processo de envelhecimento.

 “O que ocorre é que essa faixa etária não apenas está vivendo mais. Não é apenas um dado quantitativo. É uma dimensão qualitativa também. Estamos vivendo mais, com mais vitalidade e com uma outra visão do mundo e do que é envelhecer. O estereótipo do “idoso” de antigamente é cada vez menos verdadeiro. São milhões de brasileiros com sonhos, empreendendo, indo a academia, estudando, tendo uma vida sexual ativa, buscando relacionamentos. Não à toa, têm surgido bordões como: “os 50 são os novos 30, ou os 70 são os novos 50”, explica Alexandre.

O censo de 2022, divulgado pelo IBGE, também mostra que a expectativa de vida das mulheres no Brasil é maior. Se as brasileiras vivem, em média, 79,9 anos, o indicador dos homens aponta para 73,1. Segundo a médica geriátrica, Simone de Paula Pessoa Lima, o autocuidado e a mudança do papel social da mulher no decorrer dos anos foram fundamentais para este avanço.

“As mulheres de hoje têm melhores condições de saúde, maior autonomia social e avanços no controle de doenças crônicas. Isso contribui para maior disposição física e psicológica. Além disso, a redefinição dos papéis sociais amplia as oportunidades para que mulheres 50+ explorem novas atividades, como carreiras alternativas e presença digital, como observado nos casos de influenciadoras e modelos tardias. O avanço no cuidado com a transição menopausal contribuiu muito também para essa mudança”, afirma a médica.

Veja vídeos: