GIGANTE DA PAMPULHA

Mineirão completa 60 anos que marcaram gerações de torcedores

Gigante da Pampulha faz aniversário neste 5 de setembro e O TEMPO Sports relembra momentos marcantes do estádio

 

Antes mesmo de pronunciarem as primeiras palavras, as torcedoras Cleide Maria de Almeira e Sol Souza já ouviam, e participavam, das histórias do Mineirão contadas pelos pais, eufóricos pela novidade inaugurada em Belo Horizonte em 1965. O ano de nascimento de um dos maiores estádios do Brasil é o mesmo das apaixonadas por Atlético e Cruzeiro, respectivamente. Frequentar as arquibancadas do Gigante da Pampulha era e continua na rotina, um hábito passado para as próximas gerações. Ao longo de 60 anos, elas colecionaram memórias que se cruzam a de milhões de torcedores.

A começar pelo dia de nascimento da atleticana Cleide. Enquanto a mãe, Darci, seguia para o hospital, o pai, Milton, estava nas arquibancadas do Mineirão para o jogo inaugural entre Seleção Mineira e River Plate naquele 5 de setembro. “Meu pai voltou do Mineirão para o hospital e falou com minha mãe: o nome do neném vai ser Buglê. Mas aí, quando o médico puxou, era uma menina”, disse, bem-humorada.

Cleide nasceu no dia 5 de setembro de 1965, data do aniversário do Mineirão. Foto: Flávio Tavares/ O TEMPO

A primeira partida no maior estádio de Minas Gerais contou justamente com gol de Buglê, ex-jogador do Galo, que deu a vitória da Seleção Mineira diante dos argentinos por 1 a 0. E foi um marco na história do futebol mundial e na família Almeida, já que seu Milton era um dos 73.201 torcedores na recém-inaugurada casa do futebol - que passaria a ser também a ser palco de diversos espetáculos ao longo dos próximos anos.

O projeto de construção do Mineirão surgiu na década de 40, quando Belo Horizonte precisava de um estádio para apoiar o desenvolvimento do futebol mineiro. Os estádios Otacílio Negrão de Lima, do América, Antônio Carlos, do Atlético, e Juscelino Kubitschek, do Cruzeiro, não suportavam mais do que 15 mil pessoas. O Independência foi erguido para a Copa do Mundo de 1950 em parceria com o Sete de Setembro e comportava 30 mil pessoas. E, em 1959, saiu o decreto para a construção do agora Estádio Governador Magalhães Pinto, o Gigante da Pampulha, com capacidade original para 130 mil presentes.

“Há um projeto de nacionalização do futebol brasileiro na década de 50 e, em 1959, vem a Taça Brasil, primeiro campeonato nacional organizado, com final entre os campeões estaduais. E 1960 é o ano da primeira Copa Libertadores.  É um viés de mudança da forma de organização do esporte e o Mineirão não é dissociado disso. A construção do estádio vem com essa perspectiva, de tornar o futebol ainda mais popular, de trazer modernidade. O Mineirão veio para fazer frente com o Maracanã, se tornando o segundo maior estádio do Brasil na época”, explica Bruno Parreiras, professor e historiador.

A rivalidade entre Atlético e Cruzeiro, que iniciou na década de 1920, quando os clubes ainda tinham suas próprias arenas em outros bairros de Belo Horizonte, se acirrou ainda mais no Mineirão. Desde a inauguração, os times já protagonizaram 252 partidas no local. No próximo dia 11, se enfrentam novamente no Gigante, jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil.

E, se foi o jogador do Galo quem marcou o gol inaugural do Mineirão, foi dos pés de Tostão, do Cruzeiro, que saiu o primeiro gol em um clássico, terminado em 1 a 0, em  24 de outubro de 1965. Um jogo marcado por confusão.

Aos 34 minutos do segundo tempo, o Cruzeiro vencia por 1 a 0 e o árbitro Juan de la Pásion marcou pênalti de Décio Teixeira sobre Wilson Almeida. Os jogadores do Galo reclamaram que a falta havia sido fora da área e partiram para cima do árbitro.

“O golpe militar tinha sido instaurado em 1964 e qualquer bagunça não era tolerada. Naquela partida, a polícia entrou no estádio porque os jogadores do Galo se descontrolaram, e o Pásion teve que encerrar a partida por falta de segurança. Nove jogadores do Atlético foram expulsos”, lembra o historiador Marcus Vinícius Trópia Barreto, 75 anos.

Tostão começou a trilhar naquela partida o caminho que o tornaria o maior artilheiro da Raposa no estádio - balançou as redes do Mineirão 138 vezes. Ele é ídolo incontestável da cruzeirense Sol, que assoprou velinhas e completou 60 anos em fevereiro de 2025.

“Vou ao Mineirão desde pequena, meu pai sempre me levava ao estádio e era tão gostoso. Lembro do Tostão e do Dirceu, meus ídolos de infância. Naquela época, a gente ia ver os jogos e não havia diferenciação de torcida, todas conviviam juntas. Já entrei do lado da torcida do Atlético e no máximo me vaiaram, mas sem briga”, lembra.

Sol é cruzeirense frequente nas arquibancadas do Mineirão. Foto: Flávio Tavares/ O TEMPO

Rivalidade ‘sadia’ entre Atlético e Cruzeiro se acirra no Mineirão

Atlético e Cruzeiro sempre protagonizaram épicas batalhas no Mineirão desde as primeiras décadas do estádio. A casa dos dois maiores clubes do Estado viu a campanha da Raposa campeã da Taça Brasil um ano após sua inauguração, em 1966, campeonato que seria unificado ao atual Brasileirão.

Naquele ano, uma das partidas mais marcantes foi o histórico 6 a 2 do Cruzeiro em cima do Santos de Pelé, jogo de ida da final da Taça Brasil.  Os gols do clube estrelado foram marcados por Dirceu Lopes (três vezes), Natal, Tostão e um contra, de Zé Carlos. O feito consolidou a Raposa como uma grande força do futebol nacional.

“Só no primeiro tempo foi 5 a 0 para o Cruzeiro. Na arquibancada, a gente olhava para o outro e se questionava: isso é verdade? E diante do Santos de Pelé, no auge.  Aí, depois, o Cruzeiro ainda fez o sexto gol. Um jogo memorável”, conta Marcus Vinícius Trópia Barreto, 75 anos, historiador, que esteve naquele jogo.

Em campo, até mesmo quem anotou gol naquela partida se emociona com o feito. “Foi o jogo mais importante da minha carreira e para todos nós, jogadores do Cruzeiro à época. O jogo marcava o princípio da transformação do clube, que começava a se consolidar após a era Palestra. Eu tive a oportunidade de fazer gol e falo que, naquele dia, o espírito do rei baixou no príncipe”, conta Dirceu Lopes, terceiro jogador que mais vestiu a camisa estrelada ao longo da história.

Uma década mais tarde, veio a primeira Copa Libertadores, em 1976, que deixou o Cruzeiro como único time brasileiro campeão do torneio continental naquela década. “Minhas memórias dessa época são de Mineirão sempre lotado, sem nenhuma briga. Esplanada repleta de árvores e sombreada. As barraquinhas de comida pela rua e, apesar da enorme torcida, tudo na paz”, lembra Sol Souza, cruzeirense, 60 anos.

Elenco do Cruzeiro na LIbertadores de 1976. Foto: Site Oficial Cruzeiro/Divulgação/Reprodução

Pioneirismo

Na década de 70, o Atlético também incomodou, e muito, os clubes do eixo Rio-São Paulo. Em 1971, o Galo foi, oficialmente, o primeiro campeão brasileiro, campanha que consagrou Dadá Maravilha, artilheiro com 15 gols - anos depois a CBF unificaria as competições nacionais realizadas anteriormente, a partir de 1937. Em 5 de março de 1978, escorreu pelos dedos o que seria o bicampeonato. A campanha perfeita no nacional - Galo, que  chegou invicto até a final - parou no São Paulo, que triunfou no jogo da taça nos pênaltis após 0 a 0 no tempo normal.

“Aquela derrota para o São Paulo  foi muito difícil de engolir. Estádio lotado e eu sem acreditar no que estava acontecendo”, relembra a atleticana Cleide Almeida, 60.

Difícil também para quem participou daquela campanha praticamente impecável. Aquele Galo de 1977 contou com a estreia de diversos jogadores da base, que não se intimidaram diante do desafio, segundo o goleiro João Leite, um desses novatos e quem mais vestiu o Manto alvinegro na história, com 684 jogos pelo clube.

“O jogo da minha vida foi marcado por essa tristeza grande. Somos vice-campeões brasileiros invictos, só no Brasil que acontece isso, né? Era um time muito forte que tinha nomes como Vantuir, Cerezo, Paulo Isidoro e Marcelo Oliveira. Todos se tornaram ídolos do Galo”, relembra João Leite. 

Final do Brasileiro de 77 entre Atlético e São Paulo. Foto: Mineirão/Divulgação

O goleiro se acostumou a ver o Mineirão lotado naquela campanha do Brasileiro de 1977. Fator esse que ajudou não apenas o Atlético, mas também o Cruzeiro naquela década, já que o dinheiro vindo da bilheteria auxiliava os cofres dos clubes.

“O Mineirão foi um fator que ajudou porque podia aumentar público e, aumentando o público, aumentava a receita. Aumentando a receita você conseguia montar times mais competitivos. O futebol naquela época não movimentava as cifras de hoje, mas essa renda de bilheteria fazia diferença, mostrando que o estádio tem essa veia de popularizar mais o esporte e de modernizar também”, explica o historiador e professor Bruno Parreiras.

Mineirão 60 anos: recordes não quebrados, ídolos e curiosidades

A venda de ingressos para jogos no Mineirão era um evento para qualquer torcedor. Nas décadas de 80 e 90, em que o sistema era presencial, prevalecia o ‘jeitinho’ para  conseguir ficar horas nas filas. Atleticanos lotavam os quarteirões da sede de Lourdes, enquanto cruzeirenses dobravam esquinas do Barro Preto. Mas o local de maior movimentação, sem dúvida, era a bilheteria do Gigante da Pampulha. Até mesmo as cargas que iam sendo vendidas para cada torcida eram motivo de rivalidade e zoação.

“Nos arredores do estádio tinham orelhões e eu lembro que ligava de lá para minha mãe para informar que estava tudo bem comigo, que ainda estava comprando ingresso. Já teve fila em que esperei mais de seis horas. Mas, cada hora valeu a pena”, conta Sol Souza, cruzeirense de 60 anos.

“Eu sempre ia ao Mineirão com meus primos e, depois, passei também a levar minhas filhas. Mas toda vez que ia buscar ingresso era muita dificuldade. Conseguir ir a um jogo era também uma luta”, descreve Cleide Almeira, atleticana, de 60 anos.

Sol e Cleide já frequentaram muito as arquibancadas do Mineirão. Foto: Flávio Tavares/ O TEMPO

A década de 80 também consagrou ídolos e recordes, ainda não quebrados. O atacante Reinaldo, ex-Atlético, ainda é o maior artilheiro do Mineirão, com 157 gols marcados no estádio, marca que o consagrou como ‘Rei’. “Uma honra ser o maior artilheiro do Mineirão. Amo o Mineirão, onde exibi a minha arte no futebol e senti as maiores emoções de vida. É um orgulho muito grande”, disse Reinaldo. Em 1987, por exemplo, Atlético e Flamengo disputaram três jogos no Mineirão, com o estádio recebendo 242.909 pagantes, média de 80.969 por partida. Número que não será batido com a atual capacidade do estádio para pouco mais de 60 mil.

Na década de 90, o Cruzeiro também fez do Mineirão seu palco de títulos. O que marcou a carreira de Nonato, considerado o melhor lateral-esquerdo da Raposa de todos os tempos, foi a Supercopa da Libertadores em 1991 - que reunia os campeões do torneio - diante do River Plate. Após revés na ida por 2 a 0 na Argentina, o time estrelado fez 3 a 0, festa diante de 67 mil presentes no estádio , Depois, a festa tomou as ruas de Belo Horizonte.

“Era muito gratificante jogar diante do Mineirão lotado. E, naquela partida da Supercopa eu joguei como lateral-direito e acabei recebendo minha primeira convocação para a seleção brasileira para jogar mesmo como lateral-esquerdo”, relembra Nonato. O Cruzeiro seria bicampeão da Supercopa em 1992.

Nonato esteve presente em outros momentos importantes do Cruzeiro na década. Em 1993, a Raposa ganhou sua primeira Copa do Brasil no Gigante da Pampulha. Em 1996, ano do bi da Copa do Brasil, apenas o primeiro jogo foi no estádio. Em 1997, na decisão do Campeonato Mineiro entre Cruzeiro e Villa Nova, o recorde de público presente de todo o estádio, 132.834 torcedores. Além da conquista do bicampeonato da Libertadores naquele mesmo ano, gol de Elivélton que deu a Raposa vitória por 1 a 0 diante do Sporting Cristal, com 95.462 pagantes no Mineirão.

“Na Supercopa de 1992 eu fui o melhor jogador em campo na final, fiz dois gols e dei uma assistência. Isso aí ficou marcado para o resto da minha vida. Um Mineirão lotado. E, na nossa geração, 90 mil pessoas era o mínimo, né? Foi meu o gol do título da Copa do Brasil de 1993. Isso tudo levou o Cruzeiro a ser conhecido como ‘la bestia negra’ na América do Sul”, conta o atacante Roberto Gaúcho.

Do lado alvinegro, o inesquecível bicampeonato da Copa Conmebol (1992 e 1997), sendo que o segundo foi conquistado com empate por 1 a 1 com o Lanús, no Mineirão, depois de  goleada por 4 a 1 no estádio La Fortaleza, na Argentina. Além deles, a Copa Centenário de Belo Horizonte em 1997 e os Campeonatos Mineiros de 1991, 1995 e 1999. Conquistas que marcaram pelo futebol arte, da época em que os camisas 9 faziam a diferença.

Foi quando a dupla Guilherme e Marques encheu os olhos dos atleticanos, apesar de o Campeonato Brasileiro daquele ano ter batido na trave. “Eu tenho uma grande amizade com o Marques até hoje, um cara que foi crucial naquela campanha. Tecnicamente, foi o melhor jogador do Campeonato Brasileiro, na minha opinião. E nós sofremos muito, muito sem ele no Brasileiro de 99. O time do Corinthians era muito melhor que a gente, mas com o Marques nós teríamos chance. Mas ele se machucou e, com certeza, foi com ele a melhor dupla de ataque que eu fiz”, relembra o atacante Guilherme Alves, a O TEMPO Sports, que chegou a conhecer muitas pessoas que ganharam seu nome em função daquela campanha histórica de vice do Brasileiro.

Mineirão atravessa século 21 como a casa dos grandes títulos

Glórias e tristezas marcaram atleticanos e cruzeirenses nas arquibancadas do Mineirão nos anos 2000. Se houve uma certa histeria pelo ‘bug do Milênio’ - que poderia causar um colapso global em possível erro em sistemas de computador -, no futebol, o maior estádio de Minas Gerais foi, mais uma vez, palco de grandes momentos.

O início da década foi avassalador para o Cruzeiro com as conquistas da Copa do Brasil (2000) e da Tríplice Coroa, em 2003. Com investimentos na casa dos 3 milhões de dólares, a Raposa montou um elenco modesto, mas, que em campo venceu o Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Brasileiro. “ A gente tinha um time direitinho. Um time que dentro de campo que deu muito certo. E o que foi mais espetacular é que ainda culminou na conquista da Tríplice Coroa, que é um grande orgulho. Até hoje sou muito cumprimentado na rua pelo título”, contou Alivmar Perrella a O TEMPO Sports. Ele foi o presidente do Cruzeiro no ano da conquista.

Alex embalou a Tríplice Coroa do Cruzeiro em 2003. Foto: Agência i7/Mineirão/Divulgação

Anos mais tarde, em 2009, os cruzeirenses, porém, sofreram no Mineirão um dos maiores baques da história: a perda do que seria o tricampeonato da Libertadores para o Estudiantes. Após 0 a 0 no jogo de ida na Argentina, bastava uma vitória simples para erguer a taça. Mas os adversários venceram a partida, de virada, por 2 a 1, diante de  64.800 pagantes no Mineirão.

Tristeza similar sofreu o torcedor do Atlético em 2005, com a queda do time para a Série B do Campeonato Brasileiro. Momento que também passou pelo Mineirão e marcou a carreira do técnico Tite, que comandou o time em boa parte daquele ano catastrófico para o torcedor. “Eu tenho, na minha carreira, não sei quantas equipes, talvez mais de 1.200 jogos. Se eu tivesse que dizer um local para voltar e refazer um trabalho porque não fiz ele tal qual o gostaria de ter feito, é o Atlético. A esse mesmo Atlético, o meu reconhecimento, o meu respeito”, disse Tite.

Início das obras. No ano de 2010, o Mineirão fecharia as portas para sua maior reforma desde a inauguração, em 1965. As obras foram iniciadas em 25 de janeiro de 2010, mas o estádio fechou as portas definitivamente em 6 de junho de 2010. A reforma foi realizada em três etapas, sendo a última delas a mais cara e realizada em parceria público-privada (PPP) com a Minas Arena. Era o início de uma nova era na casa do torcedor mineiro.

Mineirão se reinventa após a reforma: 7 a 1 na Copa, títulos e decepções

Em 3 de fevereiro de 2012, o Mineirão reabriu suas portas após quase dois anos de reformas com um clássico entre Atlético e Cruzeiro. Entre as principais intervenções estavam as cadeiras em todos os setores e, consequentemente, a extinção da ‘geral’, novos banheiros, restaurantes e espanada revitalizada, mas, principalmente, nova capacidade: 64 mil pessoas. Naquela partida, com vitória da Raposa por 2 a 1, torcedores dos dois clubes dividiram as arquibancadas lado a lado, cena que se tornou rara nos anos seguintes.

“Esse clássico entre Cruzeiro e Atlético com as torcidas meio a meio foi  importante para a construção da trajetória do estádio. Depois da reabertura do Mineirão, a gente perde isso para clássicos com 10% da torcida visitante, e, agora, com a inauguração da Arena MRV, torcida única. Foi um acordo entre os clubes, mas que, para mim, é uma derrota pensando nesse histórico”, avalia o historiador e professor Bruno Parreiras.

Para as torcedoras Cleide Maria de Almeida (Atlético) e Sol Souza (Cruzeiro), a violência e as confusões generalizadas, motivos pelo quais os clássicos tiveram que ser realizados com torcidas únicas, afastam o público das arquibancadas. “Fui em poucos jogos no novo Mineirão, e, agora com a Arena nem se fala. Minhas filhas já são frequentadoras assíduas da nossa casa”, conta Cleide. “Sempre que posso ainda vou ao Mineirão, mas eu gostava da geral. Agora é diferente. A gente toma mais cuidado”, emenda Sol. 

Sol e Cleide viveram muitas memórias no Mineirão. Foto: Flávio Tavares/ O TEMPO

Copa do Mundo

Nos anos de 2013 e 2014, o Mineirão seguiria nos holofotes mundiais. O Atlético ergueria sua primeira taça de campeão da Libertadores em 2013 atuando no estádio. Na final, o grito de campeão veio após sofrida disputa nos pênaltis diante do Olimpia, do Paraguai.

“Estava em um evento e um amigo nosso apontou para o Mineirão e perguntou se eu tinha gol lá. Eu disse, ‘tenho um só (risos)’. Ai meu amigo falou ‘é, um só, só o mais importante do Galo’. O Mineirão é um templo. Histórico, e 2013 foi muito marcante, e fazer um gol na final de Libertadores é algo que, quando você sai na rua, só sai isso”, disse Jô, um dos maiores artilheiros do Galo na competição continental - são 11 gols nas edições de 2013 e 2014 -, ao relembrar aquela conquista.

No ano seguinte, o que poderia coroar o estádio como um dos templos do hexacampeonato Mundial, marcou o Mineirão com o palco do fatídico 7 a 1, placar que eliminou o Brasil da Copa de 2014 para a Alemanha na semifinal.  O atacante Jô também esteve no elenco de Luiz Felipe Scolari naquele 8 de julho. “Foi tenebroso. Na minha cabeça, antes de começar eu pensei: um ano atrás eu fiz um gol marcante aqui, será que pode se repetir agora em uma semifinal de Copa do Mundo? E aí acontece aquela tragédia”, contou.

Em 2014, o Atlético ainda ganhou a Recopa Sul-Americana no estádio, amenizando para Jô um pouco a derrota no Mundial. O Galo ainda terminaria o ano levantando a Copa do Brasil em cima do Cruzeiro.

Queda e ascensão

Em 2013 e 2014, o Cruzeiro ainda lotaria as arquibancadas do Mineirão para erguer mais dois Campeonatos Brasileiros. E, se em 2014, viu a taça da Copa do Brasil escapar diante do Atlético, em 2017 e 2018 o clube levantou mais dois canecos, tornando-se o maior campeão do torneio nacional, com seis títulos. Mas foi em 2019 que aconteceu o maior golpe para a China Azul: a queda para a Série B, em um ano marcado por polêmicas - tal como o áudio viral do meia Thiago Neves, o ‘fala Zezé’ - e por onde o clube permaneceu por três anos. 

“Foi difícil a Série B, mas eu estava lá no Mineirão. Fui naquele jogo entre Cruzeiro e Confiança, um dos menores públicos do estádio”, conta a cruzeirense Sol Souza. A partida entre Raposa e Confiança, pela Série B em 2021, contou com o público de 4.324  pessoas no estádio. Vale lembrar, porém, que esse foi o período da pandemia de coronavírus.

E, se de um lado, o amargor da Série B imperava na torcida azul, do outro, a conquista de três títulos faziam a torcida alvinegra ser só sorrisos. Foi em 2021 que o Atlético conquistou o Triplete - Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Brasileiro. Até então o rival Cruzeiro era o único clube do país a conquistar tal feito. “Não é fácil, mas quero destacar a ajuda dos meus companheiros, da minha família e de Deus para obter estas conquistas”, disse Hulk, que, naquela ocasião, que começava a percorrer a trajetória que o tornaria um ídolo do Galo.

Shows e eventos

Foi também após a sua reinauguração que o Mineirão se firmou como um palco de shows e eventos. Se na década de 80 o estádio recebeu atrações como o Kiss, depois dos anos 2000 foi a vez, por exemplo, dos internacionais Elton John e Aerosmith, além dos nacionais Skank e Milton Nascimento, que encerraram as carreiras diante de milhares no Gigante da Pampulha. (Com Dimara Oliveira e Alecsander Heinrick)