Por Renata Evangelista e Pollyana Sales
Publicado em 19 de junho de 2025 | 06:00
Os fios grisalhos viraram motivos de orgulho e até ostentação. Cremes, perfumes, pomadas capilares e outros itens de bem-estar estão incorporados à rotina masculina como nunca. Academia, reposição hormonal e cuidados estéticos também fazem parte da rotina dos homens que querem envelhecer com saúde, estilo e autoestima.
A revolução dos homens na maneira de encarar a beleza e o autocuidado já faz com que eles representem 39% do uso de produtos de beleza. Com a vaidade cada vez mais evidente, o público masculino corresponde a 30% dos pacientes das clínicas estéticas no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Clínicas e Spas (ABC SPAS).
E não é só por aqui: o mercado mundial de beleza masculina foi avaliado em US$ 30,8 bilhões em 2021, com previsão de crescimento de 9,1% ao ano até 2030, conforme a Grand View Research. Os números comprovam que cuidar da aparência virou um hábito e tanto para eles, com a tendência de só aumentar.
Nesta revolução, os homens com mais de 50 anos estão no centro da transformação. Deixando de lado qualquer preconceito antigo, eles buscam envelhecer com saúde, estilo e muita beleza. É o caso do diretor jurídico e consultor imobiliário Raphael Campelo. “Tenho certeza de que estou na melhor fase da minha vida”, sentencia, aos 50 anos.
Sem tabus para beleza
Para exibir o físico dos “sonhos” na meia-idade, Campelo não titubeia quando o assunto é dedicação. Alimentação balanceada todos os dias, musculação seis vezes por semana, cardio cinco vezes, reposição hormonal, check-ups pelo menos três vezes ao ano, salão de beleza quatro vezes por mês e uma prateleira abastecida com produtos para a pele e os cabelos.
Dentre os itens que não podem faltar na prateleira: máscara capilar para ressaltar as madeixas grisalhas. Perfume é outro objeto indispensável. Todos esses cuidados, segundo ele, fazem bem tanto para o corpo quanto para a mente. Mas nem sempre foi assim. A chave do autocuidado só virou próximo dos 50 anos.
“Fiz atividade física até os meus 23 anos. Depois, devido ao trabalho, passei a ser sedentário, a ter alimentação desregrada, bebia e fumava. Com isso, fiquei obeso. Foi a partir dos 46 anos, com 150 quilos, que decidi cuidar de mim e da minha saúde. Hoje, com 50 anos, me sinto com mais disposição física e mental”, conta.
Sem preconceitos quando o assunto é ostentar beleza, Campelo investe pesado. “A vida nos cobra um aluguel de tudo! O investimento com salão, academia, dieta, exames e reposição hormonal pode girar em torno de R$ 3.000 a 4.000 mensais. Já quando existe a necessidade de comprar roupas, esse valor pode variar e ficar bem maior”, revela o diretor jurídico.
A revolução masculina no setor da beleza, na avaliação dele, deve-se à maior conscientização dos homens com relação à saúde. “Preconceito sempre vai existir, mas hoje em dia não se liga muito no que as pessoas pensam. Há uma gama de produtos muito maior que antes, mas acredito que o básico bem feito ainda é o melhor para se destacar: unhas e cabelos cortados, barba aparada e um corpo saudável”.
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A era dos prateados
Há 11 anos, o barbeiro Alysson de Oliveira Diniz, de 46, trabalha exclusivamente com a beleza masculina. E a demanda, principalmente dos homens 50+, só cresce. “Estamos vivendo o ápice”, ressalta. O profissional brinca que, num futuro não muito distante, os homens vão superar as mulheres no quesito embelezamento.
“Os cuidados dos homens têm aumentado, e tenho certeza de que não voltará a ser como era antes. Sei que devo sempre ficar atento às modernidades e inserir serviços e produtos no espaço onde atendo. E creio que os homens estão superando as mulheres, são consumistas frenéticos”, enfatiza.
Dono da Barbearia Diniz, estabelecimento que já recebeu diversos jogadores de futebol, Alysson notou que, além de frequentarem mais os salões, os homens 50+ deixaram de lado os produtos para tingir os cabelos. A nova “moda” é assumir os fios brancos. Mas, sempre, com cuidado para tornar o visual mais bonito e natural, sem, contudo, passar um ar de descuido.
“É uma verdadeira revolução prateada. Raramente vemos aqueles cabelos pintados de pretinho, ou aquele acaju que, na minha ótica, nunca foram aceitos. Os homens maduros assumiram seus cabelos grisalhos e até totalmente brancos. E, sendo sincero, que evolução! Claro que não pode faltar aquele tradicional shampoo roxo. É só explicar os benefícios do produto, que os ‘vovôzinhos’ logo pedem para incluir na comanda”, explica.
Com mais adeptos, os fios acinzentados e esbranquiçados se tornaram símbolo de beleza e empoderamento masculino. Foi-se o tempo em que o grisalho passava a sensação de desmazelo e negligência. “Bem cuidado e bem cortado, o grisalho não envelhece. Inclusive, os grisalhões se destacam positivamente”, ressalta o barbeiro.
Para ostentar fios sempre bonitos, o profissional ensina: shampoo roxo deve ser utilizado no máximo duas a três vezes por semana para trazer vida, maciez e brilho às madeixas. Se ultrapassar essa quantidade, os cabelos podem ficar azulados. Após a limpeza do couro cabeludo, é importante utilizar uma máscara e, somente depois, o condicionador. Seguir essa ordem é a chave da beleza.
Já no momento da finalização, a dica é utilizar cremes de pentear sem enxágue para proteger as mechas. “As empresas de cosméticos estão antenadas neste público, que tem consumido cada vez mais. Na minha vitrine, não podem faltar esses produtos!”, revela Alysson.
O capitalismo da vaidade
Economista e professora da Fundação Getúlio Vargas, Carla Beni vê nesse movimento algo além da estética. Para ela, o aumento do consumo entre os homens está ligado à pressão social e às exigências do mercado. “Com isso, o homem passou a se cuidar mais e com menos preconceito”, avalia.
A especialista pontua que o público masculino também sofre influência do sistema econômico para consumir cada vez mais. “Esse movimento de permissão para o homem, de um lado, é libertador, no sentido de que ele pode usar isso (produtos de beleza) e não sofrer críticas da sociedade. Mas, por outro lado, é mais um volume enorme de despesa que todo mundo está tendo que trabalhar para pagar. É a pressão social, a raiz disso é o próprio capitalismo”, detalha.