CONSERVADOR DAS ÁGUAS

Extrema, no Sul de Minas, é referência na preservação de nascentes a partir do reflorestamento

Programa inclui pagamento para produtores rurais por serviços como proteção das nascentes e uso da terra para manter a floresta em pé

 

Abrir a torneira, ligar o chuveiro ou lavar roupa. Você já parou para pensar que, para a água chegar à sua casa, tem alguém subindo mais de 1.000 m de altitude para plantar árvores do topo de uma montanha? Mas o que é que isso tem a ver com o abastecimento? Tem tudo. É que o reflorestamento é fundamental para proteger as nascentes. E é lá no alto que estão as chamadas “cabeceiras”, onde nascem os rios e córregos. 

Em Extrema, no Sul de Minas, praticamente todo dia tem uma equipe subindo as montanhas da Serra da Mantiqueira para espalhar mudas. Há 20 anos, o município entendeu que, para não faltarem recursos hídricos, o caminho era “plantar” água.

Em 2005, Extrema criou o Conservador das Águas, um programa de reflorestamento em propriedades rurais que paga os agricultores por serviços como proteção das nascentes e uso da terra para manter a floresta em pé. “As árvores são fundamentais para garantir que água da chuva infiltre no solo. Se ele não está preservado, ela escoa muito rápido e vai embora. Por isso o reflorestamento é tão importante para o ciclo hidrológico, pois dessa infiltração vai sair água nas nascentes, que vão alimentar o rio e deixá-lo perene”, explica o secretário de Meio Ambiente de Extrema, Paulinho Pereira. Foi ele quem idealizou tudo. 

O Conservador das Águas foi o primeiro projeto de Pagamento de Serviços Ambientais (PSA) do Brasil a ser implementado com a metodologia da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). “A ideia começou em 2002, quando nós tivemos acesso ao Programa Produtor de Água, da ANA, que tinha a concepção de remunerar os agricultores para conservação do solo. Mas nós adaptamos para a realidade do município de Extrema, onde incentivamos a restauração florestal, dentro da meta para conservação das águas”, esclarece Paulinho. 

Foto: Fred Magno/O Tempo

Esse modelo municipal de gestão do meio ambiente transformou Extrema em uma referência nacional e até internacional na preservação de mananciais. Funciona assim: os proprietários rurais cedem áreas para reflorestamento e cercamento de nascentes, e a prefeitura paga cada um deles pela preservação da água, do solo e da biodiversidade. “Além de plantar e criar gado, eles começaram a ganhar dinheiro com outro produto, os serviços ambientais”, detalha Paulinho Pereira. 

Vanildo de Oliveira Bastos, de 61 anos, foi um dos primeiros produtores de Extrema a aderir ao Conservador das Águas. Isso aconteceu em 2006. Naquela época, o pai dele, José de Oliveira Bastos, trabalhava com compra e venda de gado, mas Vanildo passou a mexer com hortaliças e, depois, com banana. 

Demorou cerca 15 anos para começar a colher os frutos da adesão ao programa, mas valeu a pena. “Com mais disponibilidade de água, conseguimos produzir de 30% a 40% a mais de bananas. Tenho mais qualidade e consigo agregar mais valor no peso e no preço. Um cacho que teria 10 kg na época do sequeiro, com a irrigação, pode ter até 20 kg”, conta. 

O aumento do faturamento não é a principal conquista. “O que ganhamos de mais importante desde que começamos a participar do Conservador das Águas foi uma nascente. Ela brotou aqui, pertinho de casa, há quatro anos. E isso aconteceu por causa do projeto que preserva água. Como ela nasce dentro da nossa propriedade, somos os primeiros a usar, só que não utilizamos nem 20%. Então, o restante vai cair nos rios aqui em Extrema; cai no Rio Jaguari, que integra o Sistema Cantareira, que abastece São Paulo – ou seja, tem bastante gente usando a água que estamos conservando aqui”, afirma. 

Com esses resultados concretos, Vanildo destaca a urgência do reflorestamento. “Quem está plantando árvores hoje provavelmente está plantando mais água”, reflete o produtor, que é chamado de “plantador de água” pelas crianças que visitam sua propriedade em excursões escolares.

A diretora do bioma Mata Atlântica/Mantiqueira da ONG The Nature Conservancy Brasil (TNC), Adriana Kfouri, acompanha o Conservador das Águas desde a implantação. “É muito difícil conseguir fazer uma fórmula que fale quanto uma árvore aumentou em água. Então, o que consideramos são os depoimentos dos produtores de Extrema. Eles contam que nem com toda aquela seca horrorosa que o país enfrentou nos anos de 2014 e 2015 faltou água, e nem as nascentes secaram”, afirma.