Vivemos em uma era em que o valor de uma pessoa está cada vez mais ligado a números: seguidores, curtidas, compartilhamentos e visualizações. Essa lógica de mensuração em métricas cria um cenário que desafia profundamente nossa Saúde Mental.

Afinal, as métricas digitais não afetam apenas como nos apresentamos, mas também a maneira como nos percebemos. E a gente precisa falar sobre isso.

Por que focar na sua Saúde Mental em tempos de métricas?

Quando falamos em Saúde Mental em Tempos de Métricas, estamos falando do efeito psicológico de viver em uma sociedade que mede valor em números. 

Não são só influenciadores que sentem essa pressão: qualquer pessoa pode se pegar pensando que vale mais ou menos conforme a quantidade de curtidas, seguidores ou visualizações que recebe.

O que explica essa dinâmica? 

Herbert A. Simon, nos anos 70, já falava sobre a economia da atenção. Na era digital, a atenção se tornou o recurso mais escasso, e plataformas e influenciadores travam uma disputa feroz por ela. 

Para conseguir e manter o engajamento do público, os conteúdos são estruturados para provocar um ciclo de consumo emocional, no qual a busca por uma realidade idealizada se torna incessante. 

Essa dinâmica pode agravar a frustração, pois a satisfação obtida com a atenção e os números é temporária e logo substituída pela necessidade de mais.

Essa comparação constante é silenciosa, mas capaz de afetar autoestima, bem-estar e até como cada um constrói sua identidade no mundo digital.

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Por que nos comparamos tanto nas redes sociais?

Segundo Freud, o ser humano busca evitar o sofrimento e maximizar o prazer. Nas redes sociais, isso se traduz em consumir conteúdos que mostram vidas perfeitas e soluções rápidas

O perigo está na lacuna que se cria entre o que desejamos (a vida idealizada) e o que realmente possuímos. Ao nos compararmos com as imagens projetadas pelos influenciadores, essa lacuna se torna ainda maior, intensificando o sofrimento em vez de atenuá-lo.

Em um estudo que conduzi com colegas na faculdade de Psicologia, fizemos um estudo com 30 universitários para entender a relação entre frustração pessoal e a influência de influenciadores digitais na percepção de sucesso dos indivíduos.

Os resultados mostraram que, mesmo quando confrontados com a realidade por trás dos filtros, os participantes não relataram uma melhora significativa na satisfação com suas próprias vidas. 

💡Isso nos leva a uma reflexão importante: a exposição diária a esses padrões elevados cria um tipo de “imunidade” que dificulta a desconstrução da imagem idealizada. A tendência de comparação com padrões ideais pode persistir, mesmo quando as falhas se tornam visíveis.

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Quais são os efeitos psicológicos dessa comparação?

Entre os principais efeitos observados estão:

  • Queda na autoestima: a percepção de sucesso pessoal diminui.
  • Autocrítica mais severa: a insatisfação cresce em áreas como finanças, corpo, relacionamentos e vida social.
  • Ciclo sem fim: a validação obtida com curtidas é passageira, gerando busca constante por mais.
  • Sentimento de inadequação: acreditar que nunca é suficiente, já que o padrão de comparação é inalcançável.

Esses resultados se conectam com as ideias do sociólogo Zygmunt Bauman sobre a modernidade líquida

Ele descreve nossa época como um tempo de constante instabilidade e insegurança, em que nada parece durar: empregos, relacionamentos, padrões de sucesso. Tudo é rápido, passageiro e sujeito a mudanças.

Nesse cenário, as pessoas tendem a buscar fora de si um ponto de apoio — e as redes sociais acabam ocupando esse lugar. Curtidas e seguidores funcionam como uma forma de validação externa, oferecendo a sensação de pertencimento e valor. 

Porém, como essa validação é instável e depende do olhar do outro, ela nunca é suficiente. O resultado é um ciclo de comparação contínua e insatisfação, exatamente o que observamos no estudo.

Como se libertar do peso dos números?

A resposta não está em uma única intervenção, mas em um trabalho contínuo de autoconhecimento. 

  • Terapia: é importante buscar ajuda para entender seus próprios valores e propósitos. A avaliação inicial de psicoterapia é o primeiro passo para entender o que você está vivendo e como a terapia pode te ajudar.
  • Consumo consciente de redes sociais: escolher conteúdos que nutrem em vez de desgastar.
  • Construção de autenticidade: valorizar conquistas reais, não apenas a imagem projetada.
  • Reflexão crítica: questionar os padrões idealizados e lembrar que não são toda a realidade.

O valor da sua jornada não está na quantidade de “likes” ou no número de seguidores, mas na sua capacidade de se conectar com a sua essência e construir um propósito que seja autêntico e seu. 

Ou seja, as métricas são apenas uma parte do jogo. A verdadeira satisfação vem de uma avaliação interna, que vai muito além dos números.

Tatiana Magalhães

Psicóloga clínica e pós-graduanda em psicopatologia. Oferece consultas de psicoterapia online no Personare.

oi@tatimagalhaes.com