A prevenção ao suicídio passa pela percepção dos sinais de alerta. E isso acontece no contato cotidiano com familiares, amigos, colegas de estudo ou de trabalho, com vizinhos e mesmo com quem não conhecemos pessoalmente, em redes sociais.
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Queixas como depressão, por exemplo, ou comentários que explicitam grande desconforto emocional e impotência diante das exigências da vida fazem parte destes sinais.
Por um lado, isso pode representar queixas pontuais resultantes de problemas específicos cujas soluções estão ao alcance de quem se queixa. Mas, por outro, pode se tratar de uma situação crônica, sem que se vislumbre solução, o que acarreta uma espécie de sofrimento contínuo.
Um suicida não deseja exatamente acabar com sua vida. Ele deseja antes eliminar a dor profunda e angustiante que insiste em habitar seus sentimentos e emoções.
Ele não vê saída, está tão absorvido pela dor que não há espaço para pensar em soluções. Então, a única solução possível para acabar com seu sofrimento é fazer cessar a vida.
Fatores de risco que podem levar a pessoa ao suicídio
A complexidade dos motivos que levam uma pessoa a pôr fim em seu sofrimento através do suicídio é enorme. Usualmente, existe algum distúrbio mental/psicológico/emocional preexistente, sendo a depressão o mais frequente.
Daí a importância de um diagnóstico profissional preciso para que se possa efetivar um tratamento adequado com o objetivo de prevenir o suicídio.
Dentre outros, os distúrbios associados aos suicidas em potencial são:
- Depressão
- Transtorno Bipolar
- Esquizofrenia
- Transtornos de Personalidade
- Transtornos de Ansiedade
- Alcoolismo
- Dependência de drogas de qualquer natureza
- Transtornos por uso de substâncias psicoativas
- Tentativa prévia de suicídio
A desesperança e o desalento são sentimentos presentes e tão contundentes que seus pensamentos giram num contínuo labirinto, numa falação interna ou num silêncio “ensurdecedor”.
Isso faz com que tudo perca o sentido e que a pessoa acredite que interromper o ciclo da vida seja a única saída possível para encontrar a paz que ela desconhece.
A sensação de impotência diante dos problemas pessoais, de um quadro social que afeta ou não a vida particular, ou a sensação de proximidade de algum evento que possa desembocar numa catástrofe definitiva, são outros fatores associados ao pensamento suicida e ao suicídio.
Prevenção ao suicídio: sinais de alerta
O diagnóstico de doenças clínicas como câncer, HIV/AIDS, doenças neurológicas (epilepsia, esclerose múltipla, Parkinson entre outras), Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, doenças reumatológicas e cuja natureza desemboque em situações incapacitantes, merecem um olhar atento aos seus portadores.
Muitas vezes, o impacto da notícia da doença desestabiliza profundamente o paciente. Ou, ainda, o tratamento inicial não tem a resposta esperada, o que coloca o paciente em situação de risco.
Jovens e adolescentes
Especialmente entre os jovens, comportamentos impulsivos são considerados fatores de risco. Quando associados ao consumo de substâncias tóxicas e ao sentimento de falta de esperança na vida, o resultado pode ser fatal.
O histórico de vida do adolescente como abusos na infância (físico ou sexual), rejeição ou maus tratos por membros da família, rejeição social (escola, clube, grupos de colegas) são igualmente fatores detonadores de desconforto profundo e sentimento de inadequação que podem levar a ideias suicidas.
Idosos
Entre os idosos são diversas as razões que culminam em suicídio. Entre as razões mais presentes estão:
- a sensação de ser um peso para família,
- doenças crônicas debilitantes,
- perda de parentes próximos (filhos, netos ou o cônjuge),
- solidão.
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Problemas socioculturais
Em função de cultura e crenças, alguns problemas parecem intransponíveis e sem solução, também levando a pensamentos suicidas. Alguns deles:
- perda de emprego e/ou patrimônio,
- divórcio,
- decepção profunda,
- luto recente ou demasiado prolongado,
- aposentadoria.
Importante: na maior parte dos casos, o suicida tem a percepção da realidade alterada em função de alguma doença mental já existente como depressão, bipolaridade, esquizofrenia, transtornos de personalidade, etc.
Tratar a doença é fundamental para que o pensamento desapareça. Isso acontece em até 90% dos casos, e a pessoa não se torne mais um perigo a si mesma.
Não é para chamar a atenção!
É um erro acreditar que quem fala em suicídio está apenas querendo chamar a atenção e que não fará nada contra sua vida.
Ainda que a pessoa toque nesse assunto de maneira não dramática, esse pensamento está em sua mente e em hipótese alguma deve ser desconsiderado.
Mesmo que depois de um tempo ela, aparentemente, se mostre mais animada, o risco é latente. Até porque, a mudança de comportamento de deprimido para tranquilo pode significar que a decisão de se suicidar foi tomada, promovendo um alívio de tensão.
Quem sobreviveu a uma tentativa de suicídio não necessariamente se sente grato por ter sobrevivido. Ao contrário, pode se sentir frustrado e vir a tentar novamente.
O período posterior à sua alta hospitalar é de fragilidade intensa e, embora nem sempre demonstre, as chances de uma nova investida contra a própria vida são enormes.
Acolhimento e prevenção diferentes para homens e mulheres
O número de mortes por suicídio entre homens é três vezes maior que entre as mulheres. Uma das razões para isso está associada à dificuldade que encontram em assumir seus sentimentos devastadores e em falar sobre eles.
Assim, os homens tendem a buscar uma solidão voluntária para não desconstruírem a “obrigação”, culturalmente imposta, que a “força masculina” impõe de demonstrar controle, frieza e independência.
Essa solidão pode precipitar uma depressão e pensamentos suicidas que ficam trancafiados em sua alma até se tornarem insuportáveis.
Já as mulheres têm uma rede de proteção emocional mais envolvente, falam mais sobre seus sentimentos e aflições, estão mais presentes em atividades afetivas relacionadas à família e à comunidade.
Atenção à comunidade LGBTQIAPN+
Ainda a propósito dessa questão de gênero, é importante pontuar que vem crescendo o risco de suicídios ou pensamentos suicidas entre pessoas da comunidade LGBTQIAPN+.
O risco inclui jovens e crianças que são alvos de preconceito e rejeição entre familiares e grupos sociais, considerando sempre a forte possibilidade da presença de eventuais transtornos mentais associados.
Mudanças de comportamento
Ainda assim é possível detectar mudanças de comportamento, especialmente nos homens, que possam ser passíveis de suspeição com relação aos pensamentos suicidas:
- isolamento social,
- aumento do consumo de substâncias que alteram o estado de consciência (álcool, psicotrópicos, remédios para dormir, etc.)
- comportamento solitário.
Falar sobre o assunto promove alívio da tensão dos pensamentos suicidas e não aumenta o risco como muitos podem imaginar.
A família e os amigos, muitas vezes, se omitem, por acreditarem que precisam oferecer solução pronta para os problemas. Assim, porém, fecham uma porta de comunicação com a pessoa, seja ela homem, mulher, um filho ou um amigo.
Como ajudar a pessoa com comportamento suicida
O sofrimento que acomete um suicida em potencial é inimaginável para quem o cerca. Portanto, a tentativa de oferecer soluções triviais para suas angústias e problemas é praticamente inócua.
Além disso, é importante ter em mente que não é você quem tem um problema por não conseguir solucionar o problema da pessoa.
Para ajudar, considere essas atitudes:
- Ouvir o que a pessoa tem a dizer é fundamental.
- Ouvir sem interferir, acolher sua dor sem julgamento.
- Estar presente em sua vida, propondo atividades em grupo ou mesmo sendo uma companhia afetuosa.
- Apontar prazeres possíveis e intensificar sua participação na vida social são proposições e ações válidas na tentativa de tirar um potencial suicida de sua hipnose recorrente.
- Sempre sugerir uma visita ao psicólogo, psiquiatra ou ao médico de confiança para uma avaliação das necessidades de acompanhamento e medicação se for o caso.
Para crianças e adolescentes
- Oferecer a possibilidade de construção de verdadeiros e profundos laços afetivos em que essa pessoa se sinta incluída, amada e aceita por ser quem é.
- Mostrar oportunidades que vão além do mundo virtual, dando amparo e incentivo no contato com o universo palpável e repleto de emoções e criatividade para a superação de dificuldades.
- Criar um ambiente propício para o diálogo e trocas de ideias, informações e experiências.
Tudo isso ajuda os responsáveis pela criança ou adolescente a identificar eventuais distúrbios no comportamento, sofrimentos que tenham origem em seus ambientes sociais e medos inexplicáveis que possam sinalizar a necessidade de um acompanhamento profissional.
É importante ter em mente que o suicida não vê saída para seus problemas e que, para ele, o futuro não traz nenhuma perspectiva de solução, ao contrário, é obscuro e devastador. Todavia ele pode mascarar esses sentimentos e não lhe dar acesso às suas intenções.
Atenção aos sintomas pode salvar vidas
A atenção aos sintomas pode ser determinante para salvar a vida de um suicida. Resumo dos sinais de alerta:
- depressão,
- sentimentos de fracasso,
- culpa ou falta de esperança,
- mudanças de comportamento como silêncio e recolhimento,
- agitação excessiva,
- insônia frequente ou excesso de sono,
- ausência de hábitos de higiene,
- perda ou ganho de peso fora do padrão,
- cansaço,
- lentidão,
- olhar vago,
- falas sobre ideias suicidas,
- doação de objetos e pertences,
- organização de documentos,
- recolhimento em excesso,
- ausência repentinamente de queixas, como se tudo tivesse sido resolvido.
Ainda assim é importante salientar que em 10% dos casos de suicídio não há nenhum fator que possa levar à suspeita da ação. Nenhum indício, nenhum sintoma aparente… nada.
Por isso, o suicídio deve ser tratado sem preconceitos, não deve ser um tabu. Falar sobre suicídio é falar sobre a vida.
Curiosidade relevante: um caso de suicídio pode ter um impacto imediato em seis pessoas, podendo atingir sessenta pessoas circundantes, incluindo familiares, amigos, colegas de classe e vizinhos.
Apoio para família e amigos de suicidas
Posvenção do suicídio é o luto que acomete familiares, amigos e pessoas próximas a quem se suicidou. Existem grupos de apoio aos enlutados por suicídio, visando ajudar a travessia do processo de luto.
Todavia, especialmente às pessoas muito próximas, a recomendação é que se busque primeiramente um apoio terapêutico antes de ingressar aos grupos.
Sentimentos de culpa e responsabilidade pelo ocorrido são comuns, compondo a dor lancinante dos enlutados.
Misturam-se a raiva e o sentimento de abandono e impotência que podem e devem ser tratados com desprendimento e coragem. É difícil tentar explicar o inexplicável.
Celia Lima
Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e estudiosa de Psicologia da Saúde e Hospitalar. Utiliza os florais, entre outras ferramentas, como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.
celiacalima@gmail.com