Sem arraial

Nem todos comemoram presença da Copa do Mundo em Fortaleza

Banda de forró pé de serra que se apresenta em frente ao Mercado Central lamenta número reduzido de shows no mês de junho

Por DANIEL OTTONI
Publicado em 30 de junho de 2014 | 14:58
 
 
 
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Apesar da beleza das suas praias encantarem qualquer visitante, desde o primeiro momento, os pontos turísticos de Fortaleza, uma das principais sedes da Copa do Mundo, vão muito além disso. A cidade recebe, na sexta-feira, às 17h, o confronto entre Brasil e Colômbia, pelas quartas de final do Mundial.

Para ter acesso direto à cultura local – e mais do que isso, ao povo hospitaleiro e humilde -, o Mercado Central é uma das ótimas opções.

Logo na entrada do local, conhecido por vender artesanatos e roupas típicas da região, como bolsa de couro de jegue, além de licores , castanhas e cachaças, uma banda de forro pé de serra tentava chamar atenção de quem passava.

E era inevitável não desviar a atenção para a Regional Asa Branca, que conta com a participação de Vanda Lúcia, de 49 anos, e do seu irmão Valdeci da Costa, de 62. Os dois são deficientes visuais e possuem apenas 15% da capacidade de enxergar. Os outros sentidos ficam mais aguçados, compensando a perda de visão.

O mesmo acontece com a simpatia da dupla nascida e criada em Fortaleza, que passa a lição de que fazer o que se gosta é o mais importante, mesmo que muita luta seja necessária para ganhar o pão de cada dia. Até aqui, são seis anos tocando na porta do Mercado, com um lucro que dá para o gasto.

Apesar de grande parte do público que viu a banda estar ali em virtude da Copa do Mundo, os dois garantem que o Mundial não foi muito bom para eles.

“Era justamente nesta época do ano que a gente mais tocava e tirava um dinheiro que nos ajudava muito. Éramos convidados para muitos arraiais, mas a Copa do Mundo fez muitas festas serem canceladas. Esse Mundial não foi bem com a gente não”, lamentam.

Mesmo assim, Vanda Lúcia firmava a voz e o compasso do triângulo, tentando acompanhar a sanfona do irmão. Um terceiro integrante completou o trio com uma afinada zabumba. Oito discos da banda, com repertório variado, eram vendidos logo em frente, a módicos R$ 5. A reportagem fez questão de comprar um para ajudar os músicos e minimizar o sentimento de crise momentânea.

Mel e Tonhão

Um quarto e quinto elementos, tão importantes quando a Regional Asa Branca, também fizeram parte da apresentação. Mel e Tonhão, personagens formados por Neuraci Batista e por um boneco do mesmo tamanho, dançavam ao som do forró, que ‘comeu solto’, mesmo debaixo de um sol de 35 graus, bem em frente ao Mercado Central de Fortaleza.

As aulas de teatro feitas durante dois anos da vida de Neuraci a ajudaram para uma performance descontraída, onde ela brinca com o boneco a todo momento. Ela conversa com ele durante as músicas, como se o companheiro tivesse ganhado vida.

Os pés se arrastam juntos e a mão de Tonhão, movida por Mel, chega a ser assanhada, antes de ser tirada pela companheira, que faz dos dois uma única pessoa.

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