São Paulo

Eleições 2020: Propaganda na TV tem pouca novidade e muita repetição em SP

Produtores e publicitários mencionam como razão para a falta de diversidade de cenas e a produção as restrições de filmagem impostas pela pandemia do novo coronavírus

Por RENAN MARRA E GUSTAVO FIORATTI (FOLHAPRESS)
Publicado em 23 de outubro de 2020 | 14:44
 
 
 
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O eleitor que se dispuser a sentar em frente à televisão para assistir os blocos do horário eleitoral na cidade de São Paulo por mais de uma vez invariavelmente ficará com a sensação de que está vendo algo repetido.

Em meio as restrições impostas em razão da pandemia e à possibilidade de uso de plataformas digitais para se comunicar, as campanhas dos candidatos à prefeitura têm repetido os filmes produzidos para os dois blocos diários no rádio e na TV.

Com a maior fatia de tempo (3min29s), o prefeito e candidato Bruno Covas (PSDB) usou apenas três peças totalmente inéditas nos dez primeiros dias de horário eleitoral gratuito, que começou em 9 de outubro. No período, teve 20 blocos de propaganda.

Em outros três programas exibidos pela coligação liderada por Covas há a mescla de trechos novos com imagens que já foram ao ar.

Márcio França, que tem o segundo maior tempo (1min36s), mostrou sete filmes diferentes nos dez primeiros dias. Não variou o cenário, que remete à estética do telejornalismo e produziu raras cenas externas. O mesmo foi visto na propaganda de Celso Russomanno (Republicanos).

Produtores e publicitários que trabalham com os candidatos mencionam como razão para a falta de diversidade de cenas e a produção as restrições de filmagem impostas pela pandemia do novo coronavírus. Mas também é notável que as fartas possibilidades conquistadas no universo digital deixaram a TV em segundo plano.

Desde 2018, a importância do debate político migrou para a internet, plataforma que tem se mostrado protagonista também em 2020.

Na última eleição à Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB) somou mais de seis horas de exposição nas emissoras abertas de televisão, considerado o primeiro mês do horário eleitoral. O tucano variou de 6% para 9%, segundo pesquisas do instituto Datafolha.

Jair Bolsonaro investiu na campanha digital e, no mesmo período, saltou de 26% para 36%, tendo tempo somado de dez minutos nas inserções da TV- tinha apenas 8 segundos por bloco de horário eleitoral. O capitão foi vitorioso no segundo turno, e o tucano ficou com apenas 4,76% dos votos, em quarto no primeiro turno.

Em 2020, os candidatos citam também restrições financeiras como motivo para as repetições das propagandas.

"Nossa campanha tem um orçamento modesto. A estratégia é traçada por um coletivo de coordenadores. A pandemia dificulta o trabalho de captação de imagens, mas multiplicamos a criatividade para dar conta do recado", diz Rodrigo Carvalho, coordenador da campanha de Orlando Silva. O candidato do PC do B exibiu apenas dois filmes nos primeiros dez dias de propaganda.

"Temos um tempo escasso por isso realizamos um programa por semana, para atingir o máximo de eleitores possível", afirma Carvalho, que considera que a TV ainda tem papel importante na propaganda política.
Os blocos fixos de dez minutos na televisão são exibidos das 13h às 13h10 e das 20h30 às 20h40, de segunda à sábado. Os candidatos a prefeito também têm 42 minutos (60%) de um total de 70 minutos diários divididos em propagandas de 30 e 60 segundos distribuídas nas grades das emissoras.

Na blocos fixos, Covas tem usado o programa eleitoral principalmente para defender a manutenção de escolas fechadas na capital paulista durante a pandemia do coronavírus.

Dos 20 blocos fixos exibidos nos dez primeiros dias, Covas falou sobre as escolas em metade deles. "A grande pressão hoje é essa questão da volta às aulas", diz o prefeito em trecho da propaganda. "Só que não dá para ter volta às aulas só por conta de pressão".

Covas também usou horário para contar a sua experiência pessoal no tratamento contra o câncer. Fez uma conexão entre a sua doença e o trabalho que fez na cidade durante enfrentamento à pandemia.
Ele mostrou ainda imagem sua no hospital com o filho e também exibiu um discurso do seu avô, o ex-governador de São Paulo Mário Covas.

Em nota, a assessoria de Bruno Covas afirma que a estratégia de campanha do candidato tucano é baseada em indicadores de resultados, alcance e frequência de impacto sobre audiência. "Apostamos em uma campanha integrada em que todos os meios cumprem papel interdependente e complementar", diz trecho da nota.

Apesar do uso do mesmo cenário, a campanha de Márcio França, do PSB, afirma que não há repetição do conteúdo dos programas do horário eleitoral. "Eventuais repetições, daqui em diante, consideração a boa avaliação que eleitores fizeram, de acordo com pesquisas internas da campanha", diz trecho da nota

Atrás nas pesquisas de intenção de voto, Jilmar Tatto (PT) foi um dos candidatos que mais diversificou os programas. Em dez dias, ele usou oito peças diferentes.

Tatto tem apresentado com frequência imagens da periferia da cidade. Ele também tem insistido em cortes que teriam sido feitos nas gestões dos tucanos João Doria e Bruno Covas, que, segundo o petista provocaram retrocesso em políticas sociais da capital.

Ainda pouco conhecido do eleitorado paulistano, o petista usou depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 17 dos 20 programas exibidos nos dez primeiros dias. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad apareceu apenas duas vezes.

Na terça (20), Lula e Tatto gravaram juntos novas peças para o horário eleitoral e para as redes sociais. As gravações foram feitas no diretório do PT na capital paulista. A gravação vai render cerca de três peças distintas para o horário eleitoral.

Joice Hasselmann (PSL) e Guilherme Boulos (PSOL) são os que mais diversificam seus filmes na TV. Ela se renovando diariamente, e ele com poucas repetições. Também são candidatos que investiram em uma linguagem mais dinâmica nas plataformas digitais.

Segundo Daniel Braga, responsável pela campanha de Joice, "a internet vem ocupando mais espaço nas campanhas na mesma proporção que vem ocupa mais espaço na vida das pessoas". Ele diz que as redes são "peça chave, não apenas para se conectar com o eleitor 24 horas por dia, mas também para captar o sentimento da população".

Antes o "off line" ditava o online, prossegue, "e hoje isso inverteu-se, quem souber utilizar bem as ferramentas de monitoramento terá vantagens importantes na criação de conteúdos relevantes, tanto digitais como off line".

Já os candidatos com menos tempo na TV Arthur do Val e Andrea Matarazzo, usaram seis peças cada. O primeiro utiliza a TV para tentar migrar o telespectador para suas redes sociais, onde tem milhares de seguidores.

Matarazzo prioriza o horário eleitoral para apresentar seu currículo. Em 12 dos programas, o candidato pediu apenas para que pudesse ser conhecido melhor pelo eleitor.

Dos 14 postulantes, 10 têm direito ao tempo de propaganda gratuita até 12 de novembro. Levy Fidelix (PRTB), Marina Helou (Rede), Vera Lúcia (PSTU) e Antônio Carlos (PCO) não aparecem no bloco eleitoral.

PROPAGANDA POLÍTICA

DATA
De 9 de outubro a 12 de novembro

DIVISÃO:
Horário eleitoral
Dois blocos diários de 10 minutos cada no rádio e na TV. Esse tempo será utilizado pelas candidaturas à prefeitura. A divisão é feita a partir do tamanho da bancada dos partidos na Câmara de Deputados.

INSERÇÕES NA PROGRAMAÇÃO
São 70 minutos diários divididos em propagandas de 30 e 60 segundos distribuídos ao longo da grade das emissoras. A maior parte, 60%, é destinada às campanhas para prefeito. Os vereadores ficam com 40% do tempo.

HORÁRIOS
Rádio
7h às 7h10 e 12h às 12h10 TV
13h às 13h10 e 20h30 às 20h40

CALENDÁRIO ELEITORAL
8.out Prazo final para candidatos, partidos ou o Ministério Público impugnarem pedidos de registros individuais
9.out Início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão relativa ao primeiro turno
21.out Data a partir da qual partidos e candidatos devem enviar à Justiça Eleitoral a prestação de contas parcial com a movimentação financeira em dinheiro desde o início da campanha até 20 de outubro
25.out Último dia para a prestação de contas parcial de legendas e candidatos
26.out Prazo final para pedido de substituição de candidatos para cargos majoritários e proporcionais
27.out Divulgação, em site da Justiça Eleitoral, da prestação de contas parcial
31.out Data a partir da qual nenhum candidato poderá ser detido ou preso, exceto em flagrante
10.nov Data a partir da qual nenhum eleitor poderá ser detido ou preso, exceto em flagrante, condenação por crime inafiançável ou desrespeito a salvo-conduto
12.nov Fim da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão relativa ao primeiro turno
15.nov Primeiro turno das eleições
20.nov Início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão relativa ao segundo turno
27.nov Fim da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão
28.nov Último dia para propaganda eleitoral por meio de alto-falantes, distribuição de material gráfico, carreata ou passeata
29.nov Segundo turno das eleições
15.dez Prazo final para candidatos e partidos enviarem prestação de contas do primeiro turno à Justiça Eleitoral e, onde houver, do segundo turno
18.dez Último dia para diplomação dos eleitos
27.dez Último dia para realização das eleições, nas cidades em que as condições sanitárias não permitirem a realização do pleito nas datas anteriores
12.fev.21 Prazo final para a Justiça Eleitoral publicar o resultado dos julgamentos das contas do eleitos

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