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Eleições em BH: Candidato a vice, Fuad Noman é homem de confiança de Kalil

Ex-secretário de Fazenda de Belo Horizonte é visto como um nome técnico que vem adquirindo habilidade política

Por Fransciny Alves e Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 08 de outubro de 2020 | 15:11
 
 
 
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A fisionomia de vovô, reforçada pela barba branca e pelo uso do indispensável suspensório, pode até sugerir que Fuad Noman (PSD) é um quadro técnico que chega na avenida Afonso Pena 1212 para cumprir um dia de expediente normal, resolvendo papeladas e cuidando da burocracia. 

No entanto, 2020 mostrou que o ex-secretário de Fazenda da Prefeitura de Belo Horizonte, que também é escritor e já publicou dois romances, tem muito mais poder que aparenta. Uma das provas é que ele se tornou candidato a vice na chapa do prefeito Alexandre Kalil (PSD) à reeleição. 

No PSD de Belo Horizonte todas as tratativas relativas à campanha eleitoral deste ano foram centralizadas em Fuad, que é o presidente municipal da legenda. Depois de se afastar da secretaria no final de maio por causa das eleições, ele foi o responsável por montar a chapa de vereadores para concorrer à Câmara Municipal, sem interferência do partido em níveis estadual e federal. 

Membros da diretoria da sigla em Minas Gerais contam que somente eram avisados dos trâmites, uma vez que o ex-secretário possui total autonomia na legenda e colocava em prática os “quereres” de Kalil. 

Responsável por todo dinheiro que passa pela prefeitura, Fuad Noman está juntamente com a secretária de Assuntos Institucionais e Comunicação Social, Adriana Branco Cerqueira, no núcleo de total confiança do atual prefeito.

“O Fuad foi o meu baluarte da Prefeitura de Belo Horizonte”, disse Alexandre Kalil, citando a arrumação das contas promovida pelo ex-secretário em entrevista na segunda-feira (5) ao quadro Café com Política, do Super N Primeira Edição, da rádio Super 91,7 FM

Essa sintonia entre os dois, inclusive, foi o ponto levantado por fontes ouvidas pela reportagem sobre o motivo de o prefeito ter o escolhido para o cargo de vice. 

A avaliação se resume em alguns pontos, como o de que Fuad não tem a necessidade de aparecer mais que o chefe do Executivo e, principalmente, o fato de que os dois se entendem quase como “marido e mulher”. 

Se Kalil for reeleito e decidir concorrer ao governo de Minas em 2022, o candidato a vice-prefeito é visto como alguém que dará continuidade ao atual trabalho e não vai descaracterizar a marca do prefeito.

A relação entre os dois também inclui a esfera privada: desde dividir bebidas fortes até torcerem ferrenhamente para o mesmo time: o Atlético, do qual o ex-secretário de Fazenda é conselheiro.

Do ponto de vista técnico, o economista Fuad Noman é praticamente unanimidade no meio político. Um vereador disse à reportagem, sob condição de anonimato, que “ele é um turco bom de (fazer) conta”. 

Ele foi secretário de Fazenda de Minas entre 2003 e 2006, na primeira gestão do ex-governador Aécio Neves (PSDB), sendo um dos responsáveis por tocar o chamado “Choque de Gestão”, programa que tinha o objetivo de “arrumar as contas públicas” e “modernizar a administração do governo estadual”. 

No segundo mandato de Aécio, o agora candidato a vice-prefeito na chapa de Kalil foi transferido para comandar a Secretaria de Transporte e Obras.

Politicamente

Além da capacidade técnica, Fuad tem adquirido habilidade política que surpreendeu outros concorrentes à PBH, que viram vereadores já com mandato migrarem para o partido do prefeito mesmo em uma chapa extremamente pesada. Hoje, a legenda conta com 13 nomes na CMBH e 12 vão tentar a reeleição. 

“Pegou a gente de surpresa porque como esse pessoal todo vai conseguir vencer? E os outros concorrentes da legenda sem mandato? No nosso partido, a chapa estava fechada e de repente todos começaram a migrar para o PSD. E tudo feito estrategicamente e em silêncio. Avisaram somente no último minuto. Foi uma jogada inteligente de Fuad. Não sabíamos dessa habilidade dele”, contou o dirigente de uma legenda. 

Por outro lado, algumas pessoas ouvidas pela reportagem avaliam que após o acordo sobre a chapa, Fuad Noman demonstrou mais de sua personalidade, que se assemelha com a de Kalil: pavio curto. Mas ele ainda demonstra uma falta maior de traquejo político e pouca flexibilidade para ceder e chegar a acordos.

Tensão com os vereadores do PSD

Um dos exemplos citados é recente: apesar da forte chapa de vereadores que o PSD conseguiu montar, os parlamentares que já possuem mandato na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) estão insatisfeitos com o partido em função da ausência de um acordo para o financiamento das campanhas deles. 

O clima está tenso e uma reunião na semana passada, que contou com a presença de Fuad Noman, acabou com dois vereadores, Jair Di Gregório (PSD) e Autair Gomes (PSD), deixando o local antes do fim do encontro devido à discordâncias, segundo relatos de pessoas presentes na reunião. Também participaram o coordenador da campanha de Kalil, Adalclever Lopes, e o advogado Guilherme Papagaio, que ajudou na formação da chapa proporcional. A reportagem não conseguiu contato com Jair Di Gregório e nem com Guilherme Papagaio.

O PSD irá repassar em torno de R$ 6 milhões para a campanha de Kalil —  do valor, já foi de fato repassado R$ 1,1 milhão. A reivindicação dos vereadores que já têm mandato é que Kalil divida parte deste dinheiro com eles e que isso seja feito rapidamente porque a campanha eleitoral já está acontecendo.

“Foi uma reunião tensa sim porque o que foi a princípio abordado (oferecido aos vereadores) é algo extremamente insignificante em relação à campanha de vereador”, disse o líder do PSD na CMBH, Autair Gomes. “Mas eu compreendo a dificuldade que o partido também tem. Infelizmente, é mais uma questão de tensão da campanha e por não estar vendo a campanha indo para a rua que causa esses extremos”.

Ele acredita que o partido e os vereadores vão chegar em um acordo. “A minha chateação é a ausência de definição. O que vai ter e o que não vai ter. Esse é o grande questionamento. Isso não fere nada quanto ao apoio e a lealdade ao partido”, disse Autair Gomes.

O coordenador da campanha de Kalil, Adalclever Lopes, afirma que não há tensão entre a campanha e a chapa de vereadores. Ele disse que compreende os vereadores ficarem aflitos porque a contratação de pessoal para campanha era a regra em campanhas anteriores.

“É lógico que o partido fica na ansiedade e os vereadores querem contratação de gente. E o Kalil disse que não vai fazer essas contratações porque ele acha, e ele está correto, que não pode aglomerar. E você vai contratar pessoal pra ficar andando na rua? Seria o inverso do que ele pregou na pandemia”, disse.

Outro problema, segundo ele, é que a transferência dos fundos eleitoral e partidário atrasou por causa da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que ao menos 30% dos recursos devem ser destinados para candidatos negros.

Com a nova determinação, os presidentes das legendas ainda estão discutindo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como se dará essa divisão.

“Como eles vão mandar o dinheiro? E se a gente distribuir errado? Tendo entendimento real da aplicação, vai chegar. Cada um vai ter o direito da sua parcela. Apesar de que o valor mal dá para fazer campanha de prefeito”, concluiu Lopes.

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