Durante muito tempo, a pressão arterial de 12 por 8 (ou 120/80 mmHg) foi considerada normal. Porém, uma mudança recente, apresentada durante o congresso de 2024 da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, na sigla em inglês), fez com que o valor fosse considerado elevado entre os médicos do continente. Agora, as novas diretrizes da Europa estabelecem que a pressão arterial normal deve ser de 12 por 7 (ou 120/70 mmHg).
Segundo o médico José Maria Braga Neto, cardiologista da Livemed Gestão em Saúde, essa mudança reflete uma tendência global de reavaliar os limites da hipertensão com base em novos estudos. “É uma decisão baseada em dados que indicam que uma pressão de 12 por 7 (120/70 mmHg) é mais segura para a saúde cardiovascular a longo prazo. Isso ocorre porque os riscos cardiovasculares começam a subir a partir de pressões mais baixas do que antes se acreditava. Estudos sugerem que, quanto mais baixa a pressão arterial (dentro de limites saudáveis), menor o risco de doenças como infartos, derrames e insuficiência cardíaca”, pontua.
José Maria também acrescenta que o novo valor pode contribuir para a prevenção precoce da hipertensão. “Identificá-la mais cedo, quando a pressão está levemente elevada, permite intervenções preventivas antes que os danos ao corpo ocorram, como lesões nos vasos sanguíneos e órgãos”, afirma.
Membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o médico Marcus Malachias pondera que, embora a alteração seja baseada em novos estudos, há certa subjetividade nas avaliações e na própria mudança. “As pesquisas são as mesmas, mas há hoje vários guias de hipertensão no mundo. O americano foi o primeiro a defender que a gente tenha um nível de pressão mais baixo”, conta ele, que foi um dos autores das diretrizes brasileiras de 2016.
Ele também explica que, mesmo que existam diretrizes que guiem o diagnóstico, os tratamentos costumam levar em consideração as características de cada pessoa. “Às vezes há casos de pacientes idosos, com um nível muito alto. Nessas situações, se você abaixa demais a pressão, eles podem sentir vários sintomas. Então, há uma necessidade de que esses guias orientem, mas é importante entender que é preciso adequar a cada paciente”, explica.
Adoção no Brasil
Segundo o cardiologista José Maria Braga Neto, a adoção da diretriz no país envolve uma análise cuidadosa e depende do consenso entre os especialistas. Ele acrescenta que a medida precisa considerar o contexto epidemiológico brasileiro. “Nós temos um cenário de saúde diferente, com alta prevalência de obesidade, sedentarismo e acesso desigual a cuidados de saúde”, pontua.
Além disso, uma mudança como essa precisa considerar o impacto no sistema de saúde, já que uma redução no limite da pressão arterial normal aumentaria o número de diagnósticos de pré-hipertensão e hipertensão, demandando mais recursos para acompanhamento, tratamentos preventivos e campanhas de conscientização. Por outro lado, ele acredita que a adoção do padrão poderia ajudar a reduzir os altos índices de mortalidade por doenças cardiovasculares no Brasil. “Quanto mais cedo a hipertensão for tratada, maiores as chances de prevenir complicações graves”, conclui o especialista.
Saiba mais sobre pressão arterial
O que é pressão arterial?
O cardiologista Marcus Malachias explica que a pressão arterial é o fluxo de sangue que corre nas artérias e é formada pela medida de duas pressões: a de quando o coração se contrai e a de quando ele relaxa. “É por isso que temos aquelas duas medidas: 120 por 80, 140 por 90. No Brasil, nós padronizamos e cortamos o último dígito. Então as pessoas, muito comumente, falam ‘12 por 8’. Isso é uma característica só nossa. Mas, por fim, a pressão arterial nada mais é do que o fluxo de sangue que corre nas artérias para irrigar os vários tecidos do corpo. E nós precisamos dessa circulação, não podemos viver sem o bombeamento do coração”, diz.
O que é pressão baixa?
O cardiologista Maurício Sampaio Brandão, da Livemed Gestão em Saúde, explica que o diagnóstico da pressão baixa, ou hipotensão, acontece quando a pressão arterial está abaixo dos valores considerados normais, geralmente menores que 90/60 mmHg. “Embora algumas pessoas possam ter pressão naturalmente baixa sem apresentar sintomas, quando a pressão cai de forma acentuada ou repentina, o corpo pode ter dificuldade em manter a circulação adequada de sangue para os órgãos e tecidos”, pontua. Conforme o médico, os impactos da pressão baixa no corpo incluem tontura, desmaios, visão turva, fadiga, cansaço, palidez, suor frio e confusão mental. Embora a pressão baixa seja menos preocupante do que a hipertensão, o cardiologista explica que, se os sintomas forem recorrentes ou graves, é importante investigar as causas para evitar complicações maiores, que podem incluir até mesmo problemas cardíacos e danos aos órgãos.
O que é pressão alta?
Maurício Sampaio Brandão explica que a hipertensão, conhecida também como “pressão alta”, ocorre quando a pressão arterial se mantém constantemente acima de 140/90 mmHg. “Ela pode ser assintomática durante muitos anos, sendo chamada de ‘doença silenciosa’, porque pode danificar o corpo sem apresentar sinais claros até que surjam complicações graves”, ressalta. Atingindo cerca de 27,9% da população brasileira, segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023, a hipertensão pode causar uma série de impactos ao corpo. “O aumento constante da pressão pode endurecer e estreitar as artérias, comprometendo o fluxo sanguíneo e provocando aterosclerose (acúmulo de placas de gordura). Como o coração precisa trabalhar mais para bombear o sangue contra a resistência nas artérias, a hipertensão também pode causar hipertrofia (o aumento do coração) e, com o tempo, levar à insuficiência cardíaca”, aponta o médico. Ele acrescenta que a condição também pode causar danos aos rins e ao cérebro. Como a hipertensão é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, que são a principal causa de morte nas Américas, conforme a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a prevenção da condição é essencial.