Segurança

Proibição a arma de brinquedo ganha mais adesão pelo país 

Discussão ganha força após Distrito Federal aprovar lei que proíbe produto


Publicado em 26 de setembro de 2013 | 03:00
 
 
 
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A universitária Ingrid Belisário, 23, nunca comprou uma arma de brinquedo para dar de presente para o filho, Iago, 3: “Eu não sei que ideia foi essa de que arma é brinquedo. Não faz o menor sentido. Para que dar isso para a criança; para ela brincar de matar?”, questiona.

A preocupação não é apenas dela. Na última segunda-feira, foi publicada uma lei que proíbe a fabricação, distribuição e comercialização de armas de brinquedo e réplicas de armas de fogo no Distrito Federal. O texto de autoria do Executivo entra em vigor em março do ano que vem.

A nova norma busca evitar a manutenção da cultura da violência e agrada o especialista Robson Sávio, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Toda iniciativa que tenha por objetivo desestimular o uso de armas de fogo e, mais do que isso, a ideia de que qualquer solução deve deixar de ser armada e violenta, é bem vinda”, diz ele.

Para Ingrid, existem muitas outras opções de brinquedo para oferecer ao filho, que adora bola, por exemplo. “Eu sei que nunca vou dar uma arminha de brinquedo para ele. Se outra pessoa der, não sei direito ainda o que vou fazer. Acho que vou guardar e explicar que não quero que ele brinque com isso”, comenta.

O respeito na hora de brincar é um ponto fundamental que precisa ser discutido, diz a psicopedagoga e psicóloga Gislaine Carvalhar, diretora de uma escola infantil na zona Sul de Belo Horizonte. Há cerca de 12 anos, a instituição desenvolve com crianças o projeto de educação infantil Cidadão Mirim.

Ela repara que hoje o número de crianças que levam armas no “dia do brinquedo” caiu significativamente. “Tinha muito brinquedo de arma. Hoje, os pais já começaram a entender que existem opções de brinquedos muito mais interessantes”, relata.

Prática. Brincadeiras e jogos violentos, como as réplicas de armas de fogo ou vídeogames de luta, podem, segundo o psiquiatra Alexandre Ferreira, contribuir para o perfil violento infantil, mas não determiná-lo. De acordo com ele, isso acontece quando a criança já tem propensão à violência. “Não é a causa, mas pode ser um componente ambiental que influencia”, diz.

Apesar de não poder estabelecer relações diretas entre o uso de armas de brinquedo e crianças praticando violência, Robson Sávio explica que a exposição frequente a esse tipo de conteúdo pode levar os menores a acreditar que o uso da violência é a única possibilidade para a solução de conflitos.

Para ele, é mais importante focar em medidas educativas que ensinem crianças e adolescentes a conviver com tolerância do que aplicar punições.

Sávio ressalta que as armas de fogo são o principal vetor dos homicídios no Brasil, e que cerca de metade deles é motivada por motivos fúteis, como discussão de trânsito. Ou seja, muitos desses crimes só acontecem porque o infrator tem acesso fácil a armas.

“O acesso à arma de fogo no Brasil hoje é muito simples. Se você for na praça Sete (em Belo Horizonte) e começar a procurar, você vai encontrar alguém que vende. Quem quer usar uma arma de fogo vai conseguir, legalmente ou ilegalmente”, acusa o pesquisador, que também defende que campanhas efetivas de desarmamento sejam aplicadas no país.

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