Desigualdade

Sexo casual: o jogo do prazer não satisfaz todas as mulheres

Se o ato envolve sentimento, desempenho de ambos é melhor; enquanto 42% delas atingem o clímax numa relação sem compromisso, 80% deles têm orgasmo


Publicado em 24 de novembro de 2013 | 04:00
 
 
 
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Nova York, EUA. Natasha Gadinsky, 23, diz que não se arrepende de seus anos na faculdade. Mas não se pode dizer o mesmo do tempo que ela ficou com um rapaz na Universidade de Brown, nos Estados Unidos. Depois que gozou naquela noite, ele não demonstrou interesse algum em satisfazê-la. Ele caiu no sono imediatamente, deixando-a olhando para o teto. “Ele não se importou. Nem tentou”, disse a coordenadora de assistência médica que reside em Nova York.

Assim como nas gerações anteriores, muitas jovens mulheres como Natasha estão descobrindo que o sexo casual não dá a elas o prazer físico que os homens experimentam. Pesquisas sugerem um motivo: as mulheres são menos propensas a ter orgasmos em encontros sem compromisso do que em relacionamentos sérios. Ao mesmo tempo, as jovens vêm se tornando mais dispostas a se aventurar em relações sem vínculos emocionais.

“A noção de liberação sexual, segundo a qual homens e mulheres tinham igual acesso ao sexo casual, passou a implicar uma probabilidade semelhante de prazer para ambos os lados”, disse Kim Wallen, professor de neuroendocrinologia da Universidade de Emory. “Mas não há paridade nessa parte do jogo”.

Uma pesquisa com 24 mil estudantes, realizada ao longo de cinco anos, descobriu que 42% das mulheres tinham chegado ao orgasmo no último sexo casual, contrastando com 80% dos homens. A pesquisa foi liderada por Paula England, socióloga da Universidade de Nova York. Por outro lado, 74% das mulheres disseram ter chegado a um orgasmo na última vez em que fizeram sexo em um relacionamento sério.

“Atribuímos isso a um relacionamento com um parceiro, que proporciona mais êxito no orgasmo, e também achamos que os homens se preocupam mais quando estão em um relacionamento”, disse Paula. De fato, os jovens admitiram que muitas vezes se concentram menos em agradar sexualmente uma mulher com quem estão saindo casualmente.

“As mulheres não se sentem muito à vontade nesses contextos casuais para dizer o que querem e precisam”, disse Paula. Parte do problema, é que elas podem ainda ser estigmatizadas por fazerem sexo casual.

Vanessa Martini, 23, da Califórnia, aprendeu que a maioria dos homens com quem ela tinha relações casuais não percebia quais eram os seus desejos. “No modo como o sexo é retratado na pornografia, nos filmes e nos livros, as pessoas não ficam conversando entre si sobre o pé estar dormente e precisarem mudar de posição”, detalha.

Conversar sobre esses detalhes é complicado. Há certa pressão para ser bastante cuidadoso, disse Vanessa. “A gente tem que ponderar sobre um monte de coisas, do tipo o que é mais importante para mim – apenas gozar ou realmente ter uma conexão com essa pessoa?”.

Escolha. Segundo Debra Herbenick, pesquisadora da Universidade de Indiana, para as mulheres, o sexo casual é excitante justamente porque é espontâneo. O ato sem compromisso tem benefícios carnais e emocionais que não dependem de chegar ao orgasmo.

“Não falamos por que chegar ao orgasmo é o objetivo principal ou o único objetivo” do sexo, disse Debra. “Quem somos nós para dizer que as mulheres devem chegar ao orgasmo?”, questiona Debra. Para a cineasta de São Francisco Kim Huynh, 29, sacrificar a garantia de um orgasmo para ficar sem o peso de um compromisso foi uma decisão consciente.

“Nas relações monogâmicas, conseguia chegar ao orgasmo sempre, algo que eu nunca tive” em circunstâncias mais descompromissadas, contou ela.

Contudo, a falta de prazer no sexo era um pequeno preço a pagar “pela liberdade de desfrutar de tudo isso”. “Ter consciência de que se tem uma habilidade que pode dar prazer a alguém é algo que definitivamente pode fazer a pessoa se sentir poderosa”, disse.

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