A equipe de legistas e peritos do Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte – responsável pela identificação dos corpos das vítimas da tragédia de Brumadinho – foi surpreendida durante os trabalhos nesta semana. Nesta terça-feira (19), uma terceira vítima foi reconhecida por meio das impressões digitais, passadas três semanas do rompimento da barragem. No sábado, dia 16, outras duas pessoas haviam sido identificadas com a mesma técnica.
De acordo com o médico-legista José Roberto Resende Costa, diretor do IML, a preservação do tecido corporal durou mais tempo do que o esperado. “É difícil determinar um tempo para a perda das impressões digitais, mas isso costuma acontecer ainda nos primeiros dias. Porém, existem elementos que interferem nesse processo, seja atrasando ou adiantando a decomposição”, afirma.
Segundo Costa, os principais fatores podem ser encontrados no ambiente onde os corpos estavam localizados. “Acreditamos que a pouca umidade, a presença de minerais (principalmente o ferro) e a ausência de exposição ao ar contribuíram diretamente para esse resultado. No entanto, é necessário investigarmos mais a fundo”, diz.
Como é o processo
O trabalho envolvendo a preparação das extremidades dos dedos é meticuloso. “Assim que o corpo é resgatado, coloca-se uma proteção nas mãos a fim de preservar as digitais. Quando ele chega ao IML, fazemos a higienização dessas partes com a aplicação de produtos químicos específicos para recuperar suas características originais”, explica o diretor do IML.
A técnica de extração das digitais utilizada pela equipe do IML conta com as chamadas luvas epidérmicas, voltadas para a identificação de corpos já em decomposição. “Retiramos a pele das mãos do cadáver como uma luva e colocamos para secar. Depois de algum tempo, vestimos essa pele sobre nossas mãos, com o uso de luvas. Em seguida, passamos a tinta papiloscópica e colhemos as digitais na ficha. Após a colheita, retiramos a pele e descartamos ao lado do corpo”, explica Audeir José da Silva, técnico do laboratório de anatomia humana da Faculdade de Medicina da UFMG.
As impressões à tinta são, então, comparadas àquelas presentes no banco de dados da Polícia Federal, com a ajuda de um aparelho de leitura biométrica que veio de Brasília. “Até o momento, 85% das vítimas foram identificadas com digitais. No entanto, esse número deve cair nas próximas semanas”, admite Costa.
Também são usados DNA e arcada dentária
A primeira opção para a identificação de cadáveres é a impressão digital. Quando isso já não é mais possível, outros três métodos são utilizados pela equipe do IML da capital mineira: a análise da arcada dentária, o reconhecimento de sinais particulares (como cicatrizes, tatuagens e próteses) e o DNA.
“A maior parte dos corpos e fragmentos (principalmente membros como pernas e braços) que chegam até nós está sendo reconhecida por essas outras técnicas”, explica o diretor do IML, José Roberto Resende Costa.
Segundo o médico anatomista Márcio Alberto Cardoso, que também está à frente dos trabalhos de identificação, familiares e amigos têm fornecido históricos como exames de imagens, radiografias dentárias, detalhes de cirurgias e tatuagens. “Com um raio-X dentário, um dente encontrado já é suficiente para o reconhecimento. Tivemos casos de identificação por prótese de cirurgia ortopédica e outro de mama”, diz.
Entenda
A tragédia
A barragem de rejeitos da mina do Córrego de Feijão, em Brumadinho, rompeu no dia 25 de janeiro, provocando um mar de lama que arrastou tudo pelo caminho.
Mortos
Foram localizados 169 corpos, e 141 pessoas ainda permaneciam desaparecidas.
Identificação
Segundo o Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte, 85% da identificação das vítimas ocorreu por meio das impressões digitais.