O pãozinho com manteiga é o que costuma estar na mesa de café da manhã dos brasileiros. Porém, esse mesmo item pode ser a origem dos problemas de cerca de 10% das crianças do Brasil, que têm intolerância ao glúten – ou doença celíaca –, segundo dados do projeto social Brasil Sem Alergia.
O glúten é uma proteína que está presente em alguns cereais, como o trigo, a cevada, o centeio e o malte, e também em todos os alimentos preparados com esses ingredientes ou seus derivados. É uma substância fibrosa e pegajosa, responsável, por exemplo, pelo crescimento das massas de pães e bolos.
“A pessoa que tem doença celíaca vai ser intolerante ao glúten pelo resto da vida, e ela não pode ingerir nem em pequenas quantidades”, atesta o gastroenterologista e endoscopista Gustavo Miranda Martins, membro da equipe de gastroenterologia da Santa Casa de Belo Horizonte. “Se a pessoa não sabe da doença e ingere alimentos com glúten, eles provocam alterações no intestino, fazendo surgir uma série de manifestações clínicas muito variadas”, completa.
Sintomas. Segundo o médico, algumas pessoas – principalmente as crianças – desenvolvem a forma clássica da doença, apresentando diarreia, dor abdominal, emagrecimento e extensão abdominal por gases.
Era assim com a estudante Marcele Almeida, 16, que descobriu a doença celíaca aos 11 anos. “Comecei a passar mal com alguns alimentos. Sentia que meu corpo queria expulsar aquilo de qualquer forma. Eu tinha muitos gases, diarreias, vomitava muito”, conta. Até o diagnóstico, ela enfrentou um processo penoso: 44 exames de sangue e seis biópsias em um intervalo de seis meses.
Já nos adultos é diferente. “Atualmente, a maioria dos casos diagnosticados em adultos têm forma atípica. Nesses casos, os pacientes podem desenvolver infertilidade, baixa estatura, inchaço nas pernas, aftas, falta de coordenação, irritabilidade, osteoporose precoce e anemia”, relata Martins. A doença, quando não tratada, também está relacionada a alguns cânceres.
Tratamento. “A pedra fundamental para o tratamento é uma dieta isenta de glúten para o resto da vida. O paciente não poderá comer mais trigo, cevada, nem centeio. A aveia é liberada em quantidades menores”, conta o médico.
Triste com as restrições no início, Marcele agora aprendeu a lidar bem com sua dieta. “Antigamente, eu achava meio chato. Mas, agora, fico feliz, porque a cada dia descubro novos alimentos que eu posso comer. E nunca mais passei mal”, conta a adolescente.
Os portadores da intolerância devem ficar constantemente atentos aos rótulos dos alimentos que compram e aos ingredientes do que comem fora de casa, pois o glúten está presente em uma infinidade de produtos. “O trigo é usado como espessante, então achocolatado em pó, cappuccino em pó, maionese e molhos prontos, sorvete, chicletes, tudo isso contém trigo – e, consequentemente, glúten”, alerta Martins.
Genética
Hereditariedade. Pais com a doença celíaca têm 20% de chance de ter filhos celíacos. Assim, crianças que tenham familiares de primeiro grau com a doença devem ser investigadas.
Pode e não pode
Celíacos podem comer:
Biscoitos e bolos à base de tapioca, fécula de batata, polvilho, milho.
Frutas e verduras à vontade.
Arroz branco ou integral e farinha de arroz
Mandioca e derivados
Leite e derivados
Ovos e carnes magras
Gelatina, doces de frutas, pudim de arroz
Óleos de oliva, canola, milho, soja ou girassol
Soja e derivados
líacos não podem comer:
Produtos que contenham em sua composição aveia, centeio, cevada e trigo
Sacarose ou doces concentrados em excesso
Chocolate em barra e achocolatados em pó
Carnes enlatadas e frios com farinha
Molhos prontos
Pizzas
Molhos brancos
Granola
Empanados
Cerveja