Considerada uma "cegueira reversível", a catarata é uma
alteração do cristalino do olho, mais comum a partir dos 60 anos. O problema acomete mais de 2 milhões de pessoas no Brasil. O tratamento é cirúrgico, simples e eficiente. No entanto, para ser realizado é preciso dilatar a pupila, condição que algumas pessoas não conseguem , nem mesmo com medicação.
Para solucionar esse problema, o médico mineiro Sergio Canabrava criou um instrumento oftalmológico com uma impressora 3D e agora, após esses anos de pesquisas e testes, será fabricado por uma multinacional Espanhola, que comprou a ideia e está produzindo o anel para comercializá-lo em mais de 80 países.
O Anel de Canabrava é um dilatador da íris feito em material biocompatível e quase microscópico - 0.4 mm de altura e 6.3 mm de diâmetro. Ele é utilizado para pacientes que vão se submeter à cirurgia de catarata e que não conseguem ter os olhos dilatados com os colírios. São pacientes com diabetes, uveítes e inflamações oculares, por exemplo.
“Devido à falta de apoio e investimentos, a criação de novas tecnologias é uma atividade muito rara, para não se dizer praticamente impossível no Brasil. Quase todas novidades são criadas internacionalmente e importadas para o nosso país”, comenta.
O trabalho inédito, recebeu prêmios nacionais e internacionais, como o 3rd prize innovative – Congresso Europeu de Catarata 2015, Melhor Trabalho da Sessão no Congresso Americano de Catarata 2017 e o primeiro lugar em Catarata geral no festival de Filmes do Congresso Brasileiro de Catarata em 2018.
483 mil cirurgias
De acordo com o Ministério da Saúde, as cirurgias de catarata passaram de 452 mil em 2016 para 483 mil em 2017, um crescimento de 6,7%. Para custear a ação, foram destinados R$ 325,8 milhões no ano passado, 14,2% a mais do que o registrado em 2016.
O produto passou por várias etapas processuais e burocráticas até que ficasse acessível à população, como: testes em computador, testes em olhos de porco, autorizações de pesquisa, testes em humanos, publicação em congressos, estudos científicos, publicações em revistas, patente, negociações com a indústria, Anvisa, importação e, agora, venda.
“As dificuldades para produzir tecnologia no Brasil, ainda mais sem apoio financeiro, são enormes. No entanto, com amor pelo estudo e a perseverança de avançar, mesmo com essas etapas árduas, é possível atingir nossos objetivos”, conta o Doutor Sérgio.
Atualmente os médicos já podem aconselhar aos pacientes com dificuldade na dilatação do olho a optarem pelo uso do Canabrava’s Ring nas cirurgias. “O anel expande a pupila e cai de cinco para um o número de incisões necessárias para a retirada da catarata pelos oftalmologistas”, explica.
Há dois meses, o anel foi aprovado e liberado pela ANVISA e está pronto, também, para utilização no Brasil. O custo do instrumento na Europa é de €$ 40. No Brasil, devido à grande carga tributária, o anel sai em média a R$ 600.