Rio de Janeiro

Morador de favela transforma montanha de lixo em “oásis” 

Iniciativa veio do incômodo com o mau cheiro dos resíduos e até de cadáveres


Publicado em 11 de junho de 2015 | 03:00
 
 
 
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Rio de Janeiro. Com a ajuda de voluntários, Mauro Quintanilha trabalhou na limpeza, durante uma década, de um aterro de lixo em sua favela, o morro do Vidigal, com a ideia fixa de transformá-lo em um “parque ecológico”. Sua iniciativa, um tanto visionária, acaba de ganhar um dos prêmios de urbanismo mais famosos do mundo.

Em 2005, “no início, pensavam que eu estava louco, as pessoas zombavam de mim. Eram 16 toneladas de lixo acumuladas durante 25 anos pelos habitantes da parte mais alta do morro do Vidigal”, disse em entrevista à AFP Quintanilha, um músico percussionista de 55 anos.

Como a maioria das favelas do Rio de Janeiro, até há pouco tempo o Vidigal não contava com serviços públicos, o que levou a anos sem recolhimento do lixo. A montanha de dejetos caía em cascata pela ladeira até a elegante avenida Niemeyer, à borda do oceano Atlântico.

“Eu era o habitante que vivia mais próximo do lixo. Lá havia de tudo: colchões, refrigeradores, pneus e até cadáveres de cães, o odor de putrefação era insuportável, e isso me deprimia, então decidi agir”, explica Quintanilha.

Refúgio. O Parque Ecológico Sitiê, ou “oásis verde”, como foi batizado por seus criadores, é hoje um refúgio na vida frenética da comunidade, onde se pode contemplar pássaros, borboletas e pequenos macacos, caminhar ou correr. Inclui uma horta que já produziu 700 kg de verduras, plantas aromáticas e frutas distribuídas para os habitantes.

Pouco conhecida dos próprios cariocas, a iniciativa de Quintanilha deu uma guinada em 2012, durante a cúpula da ONU para o Desenvolvimento Sustentável Rio+20 e a visita de delegações estrangeiras.

O mais determinante foi a chegada a favela de um arquiteto brasileiro que acabava de finalizar seus estudos em Harvard, Pedro Henrique de Cristo, 32.

“Quando chegamos, o parque tinha 1.100 m². Em dois anos e meio, ampliamos para 8.500 m²”, afirma o jovem arquiteto, casado com Caroline Shannon, 29, que também é arquiteta graduada em Harvard e participa do projeto.

“No início, as pessoas continuavam vindo aqui para jogar seu lixo durante a noite. Pouco a pouco as educamos dando plantas da horta. A transformação alcançou não só o lugar, mas também os habitantes”, comemora Quintanilha, presidente do Sitiê.

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