Comportamento

Mutação genética aumenta em 13 vezes chance de agressão 

Cientista dá ênfase ao livre-arbítrio e diz que portadores podem se controlar


Publicado em 18 de janeiro de 2015 | 04:00
 
 
 
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Quem nunca experimentou ser tomado por um sentimento arrebatador de impulso para a violência? Mas qual seria a alteração capaz de fazer com que algumas pessoas cometam atrocidades sem nenhum arrependimento? Uma pesquisa liderada por Jari Tiihonen, psiquiatra do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, analisou 895 presos finlandeses e descobriu que esse comportamento agressivo pode ter, entre outros fatores, origem genética.
 

Após amostras do DNA dos criminosos serem comparadas com materiais genéticos de mais de 2.000 cidadãos, foram identificadas, em alguns dos detentos, mutações nos genes MAOA (cuja função é controlar os níveis de dopamina e serotonina) e no CDH13 (que auxilia no desenvolvimento das ligações neuronais).

Os pesquisadores acreditam que, juntas, as mutações aumentam em até 13 vezes a probabilidade de cometer crimes graves e que até 10% dos delitos extremamente violentos na Finlândia foram cometidos por pessoas geneticamente predispostas à agressividade (veja infográfico na página ao lado).

Pelo menos um dos genes, o MAOA, já é conhecido pela comunidade médica há muitos anos. No entanto, o que o estudo mostra é que os portadores desses genes têm uma deficiência em uma enzima (monoamina oxidase-A), levando ao acúmulo de neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, que, na verdade, deveriam ser degradados.

Essa alteração leva a um aumento no tempo de atuação dos neurotransmissores, causando maior excitação de estruturas cerebrais associadas às respostas violentas, segundo o psicólogo clínico e neurocientista Paulo Faria.

Para Eduardo Aquino, membro da Associação Americana de Neurofisiologia Cerebral e da Associação de Psiquiatria de New York, “a descoberta é perfeitamente compatível com longa prática médica”. “Achados genéticos como este explicam e reforçam conhecimentos anteriores que demonstram que cabe ao cérebro regular sistemas naturais de modulação de emoções negativas, uma vez que qualquer alteração pode desencadear o transtorno impulsivo e agressivo de personalidade”, afirma.

Cautela. Apesar da descoberta, Tiihonen diz não ser possível afirmar que quem carrega as variantes genéticas tem chances maiores de cometer um crime violento. “Também não podemos determinar que algumas populações ou culturas são mais suscetíveis de transportar as mutações genéticas, pois elas são encontrados em todo o mundo”, diz.

De acordo com Faria, o alerta é pertinente, pois alterações hormonais e metabólicas, bem como lesões, traumatismos e infecções cerebrais também podem modificar o desempenho do cérebro e desencadear comportamentos violentos.

“Em tese, todo ser humano pode se controlar. Livre-arbítrio, moral, ética e educação são ótimos reguladores comportamentais e sociais. Afirmar que a predisposição genética é a principal causa de comportamentos violentos é um determinismo comprometedor e um incentivo à violência. Por isso, é importante consolidar princípios sociais baseados na ética, na moral, na boa educação e na responsabilidade do indivíduo”, afirma o psicólogo.

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