Médicos detestam a dor, e há boas razões para isso. Odiamos a dor porque ela é invisível, não pode ser mensurada nem monitorada e varia de forma intensa e imprevisível de pessoa para pessoa. A menos que façamos cursos que nos ensinem a lidar com a dor, ninguém nos ensina como fazer isso, e acabamos entrando em um território assustador, sem ajuda, mapa ou rede de segurança. Os acontecimentos das últimas décadas não ajudaram muito.
Primeiro, ocorreu um movimento dos consumidores – justificado, em sua maior parte – mostrando que os médicos subestimavam muito o poder da dor. Tempos depois, revelaram-se diversas estatísticas sobre a prescrição exagerada de narcóticos, que agora enchem mercadinhos de esquina e causam mais mortes por overdose que a heroína e a cocaína juntas.
A maioria das diretrizes e das políticas oficiais não nos ajuda a resolver o problema. Uma das reflexões mais acertadas sobre a situação foi escrita pelo Dr. Mitchell Katz, diretor do departamento de saúde de Los Angeles. Katz descreveu sua desilusão com a abordagem-padrão do controle de dor, que envolve a passagem de medicamentos não narcóticos para narcóticos, receitando apenas o necessário para acabar com a dor, lançando mão de contratos por escrito, contagem de pílulas e testes de urina para garantir que o paciente esteja tomando.
Katz sugeriu que fosse criado um órgão regulador que estabelecesse doses razoáveis para a prescrição de narcóticos, mesmo que somente para pessoas que não tenham doenças mortais e que acabariam consumindo o medicamento por muito tempo. “Aprender a lidar com a dor pode ser melhor para os pacientes que tentar encontrar um remédio que a elimine completamente”, escreveu.
Abigail Zuger
Médica dos Estados Unidos