O mercado de beleza está repaginado – e o novo modelo prioriza uma clareza na origem dos produtos e de seus ingredientes. É por isso que, cada vez mais, o consumidor dispõe de opções que prezam o uso de insumos naturais, rótulos que indicam formulações sustentáveis e a certificação de não realização de testes em animais, ainda praticados por grande parte da indústria cosmética.
No mesmo movimento, receitas caseiras de batom, tônico facial e hidratante, entre outros, são repassadas por meio de tutoriais, o que virou uma febre na internet. No Google, a pesquisa para o termo “maquiagem caseira”, por exemplo, fornece mais de 8 milhões de resultados.
Há quem garanta que esses produtos são até mais eficazes do que os disponíveis nas prateleiras de lojas especializadas – caso da bióloga marinha e cosmetóloga Hanna Lima Mattos, 28. Uma experiência em um acampamento, em 2016, a fez abrir os olhos sobre o uso de cosméticos convencionais.
“Fiquei chocada com a falta de consciência ambiental das pessoas que estavam comigo, mesmo depois de eu alertar várias vezes que não se deve jogar lixo no chão ou usar cosméticos como xampu e sabonete em rios”, relembra ela.
Foi a partir daí que Hanna começou a confeccionar sabonetes naturais, para venda. Com o tempo, foi ampliando o seu catálogo de receitas, a ponto de fundar seu próprio negócio, a loja Real Sentir Biodegradáveis.
Os cosméticos feitos por Hanna costumam levar, em suas formulações, óleos essenciais e óleos vegetais, como o de coco e o de oliva. “Eles são ricos em vitaminas e minerais, o que os torna capazes de ajudar a pele e o cabelo a se regenerarem e a ficarem nutridos, mais vistosos, hidratados e cheios de vida”, garante Hanna. Todos os produtos podem ser encontrados em lojas especializadas ou em farmácias homeopáticas.
Insumos. Outros ingredientes naturais – como cúrcuma e urucum – também substituem os pigmentos sintéticos, prometendo diversos benefícios para a pele em longo prazo. “Desde 2016 não coloco um fármaco no meu corpo e estou com a saúde melhor do que nunca – faço check-up a cada três meses – e com a carteira agradecendo pelo dinheiro poupado”, diz Hanna.
Para a engenheira química e professora do curso “Cosméticos naturais e veganos” Daniella Kakazu, os óleos essenciais, apesar de serem naturais, são ingredientes que precisam de um cuidado extra no uso. “Eles são extremamente concentrados e potentes, e, por isso, precisam ser diluídos. Alguns deles podem gerar alergias em pessoas mais sensíveis, e outros podem queimar a pele se houver a exposição ao sol”, alerta.
Por outro lado, os benefícios vão além das causas nobres. “Um creme com óleo de lavanda, por exemplo, pode ajudar a tratar uma insônia ou ansiedade. Um produto com óleo de alecrim ajuda a melhorar a concentração. E por aí vai...”, arremata.
Efeitos na pele. Além das causas nobres, como a questão ambiental, as fórmulas caseiras garantiriam outros benefícios. Segundo Luiza Monteiro, engenheira química e pós-graduada em sustentabilidade, também professora na Namu Cursos, é um grande erro achar que cosméticos precisam ter componentes químicos ou de origem animal para deixarem a pele bonita e saudável. Aliás, ela lembra que os convencionais são compostos, em sua maioria, por água ou ingredientes químicos e tratam apenas os sintomas aparentes. “E alguns são agressivos à pele, podendo causar alergias, irritações, acne, coceiras e até desequilíbrios hormonais”, salienta a engenheira.
Riscos. Para os dermatologistas, porém, seja qual for a escolha, é sempre fundamental buscar orientação. Lucas Miranda, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), explica que muita gente tem a ideia equivocada de considerar mais seguro o natural, por este não fazer uso de aditivos. “Apesar de naturais, óleos, alguns tipos de frutas e legumes, temperos e iguarias podem apresentar riscos, como o do aparecimento de alergias, coceiras e até infecções na pele. Qualquer receita que não tenha sido testada e aprovada pode causar mais danos e prejuízos do que benefícios. Cada indivíduo reage de uma maneira a medicamentos e alimentos. O que pode funcionar para um não necessariamente pode ser usado por outro”, pontua.
Uma forma de evitar riscos é, além de consultar um profissional, investir em fórmulas naturais produzidas em farmácias de manipulação. “O dermatologista, mais do que ninguém, pode indicar opções manipuladas, produtos veganos e com qualidade comprovada e aprovada por órgãos competentes”, conclui.
Por dentro das receitas caseiras:
Óleos vegetais: São a base de quase todos os produtos. Com eles é possível fazer manteiga hidratante, bálsamo, óleo de massagem, óleo facial e demaquilante. Tanto os óleos quanto as manteigas possuem uma composição muito parecida com a do sebo da nossa pele, além de também possuírem inúmeros nutrientes e vitaminas.
Óleos essenciais: São componentes aromáticos 100% puros das plantas. Usam-se os óleos para perfumar os produtos, no lugar das essências sintéticas. Eles também têm propriedades terapêuticas. Um creme com óleo de lavanda, por exemplo, pode ajudar a tratar insônia ou ansiedade. Um produto com óleo de alecrim ajuda a melhorar a concentração.
Durabilidade: Os produtos feitos apenas com base oleosa, com manteigas e óleos, sem água na composição, podem durar até um ano se conservados em local fresco e longe do sol. Já os que levam água, como cremes mais leves (emulsões) e tônicos, precisam de um conservante natural para durarem mais tempo, até um ano.
Fonte: Daniella Kakazu, engenheira química e professora da start up Namu Cursos