Entrevista

Costanza Pascolato: aos 80, com muita elegância

Principal referência de estilo no país, 'papisa da moda' lança hoje, em Belo Horizonte, dois livros, sendo um deles escrito com as suas filhas, Alessandra e Consuelo Blocker


Publicado em 17 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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A conversa, por telefone, foi marcada para uma terça-feira de manhã, para que Costanza Pascolato pudesse comentar algumas das experiências registradas em seu mais recente livro, “A Elegância do Agora”, lançado em setembro deste ano. “Mas você quer que eu resuma o livro inteiro pra você?”, foi a primeira pergunta que a consultora de moda – e principal referência de estilo do país – fez ao Magazine.

Bem, claro, seria de fato um prazer imensurável ouvir cada história que compõe a obra sendo narrada com o tom de voz suave e elegante da autora. Mesmo porque o livro aborda mais do que moda e estilo: também repassa episódios da vida da italiana ao longo dos seus 80 anos, explicando, involuntariamente, como ela se tornou, além da maior referência em moda do país, a tradução autêntica do que é ser “gente fina, elegante e sincera”.

A obra, que será lançada neste domingo (17), em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, resgata as memórias de Costanza, ao mesmo tempo que, em forma de manual de estilo, ratifica a ética e a empatia como definidores de uma elegância atemporal entremeadas na sua própria história.

E há espaço também para orientações para uma boa selfie. “Precisa ter uma luz adequada”, ensina ela, como reflexo de sua presença no mundo virtual, no qual o sucesso é fácil de atestar: são mais de 600 mil seguidores pelo Instagram. “Mas há três semanas eu não acesso minha conta. Não gosto de me expor. Não parece, mas não gosto. Só uso quando tô bem ou alegre. O texto me acompanha: se estou deprimida, não posto nada”, conta.

Nascida na Itália, Costanza inicia sua obra falando sobre a trajetória da família Pascolato e as adversidades enfrentadas na Segunda Guerra até a vinda da família ao Brasil, sem contar os momentos decisivos de sua vida adulta, como a separação do primeiro marido ou quando perdeu a guarda das duas filhas além dos bastidores das revoluções que permearam o guarda-roupa.

Costanza chega à cidade neste domingo, por meio do projeto Sempre um Papo, para lançar, além do livro citado, “O Fio da Trama”, que narra a trajetória de quatro gerações de mulheres Pascolato, escrito por suas filhas, Alessandra e Consuelo Blocker, mas com participação de Costanza. “Os mineiros são muito hospitaleiros. Gosto de visitar BH, ia muito aí nos anos 80, acompanhar o Grupo Mineiro de Moda, movimento que renovava a moda no Brasil’, relembra ela. Ao Magazine, Costanza fala com orgulho da trajetória que construiu ao longo dessas oito décadas, dos novos hábitos para manter a disposição, da sua família... e do trabalho pontuado pela marca da elegância – é claro.

Logo na dedicatória do livro, você fala que é para todas as mulheres que, como você, “vivem este período de grandes renovações, às vezes assustadoras”. Contextualize o momento a que você se refere.

Com 80 anos, imagine quantas transformações eu vivi. Desde a mudança de país, a reconstrução do Ocidente, vivi o auge da era industrial e a adoção de uma nova cultura e a chegada da tecnologia. Essa revolução, que é fantástica, acelerou bastante os nossos tempos. É como se houvesse uma abertura para que todo mundo soubesse o que pensamos. As novas gerações falam mais rápido, pensam mais rápido, são mais inquietas e mudam o tempo todo.

Com esses novos tempos, onde está a elegância hoje?

Elegância sempre foi a mesma coisa sempre, a questão é saber se comportar com um pouco mais de ética e empatia. Ética de se comportar melhor com todo mundo, para não fazer sacanagem com o outro, porque isso atrapalha o mundo – e volta. E a empatia de você se interessar pelo outro. A elegância está em você não invadir o espaço do outro para sobreviver.

Como você percebe isso no seu dia a dia?

Uma vez eu entrei em um táxi e fiquei chocada. O motorista olhou, me cumprimentou, e vi que e estava ouvindo música clássica. Eu chamei ele e disse: “Me desculpe, mas que raridade alguém ouvir música clássica”. Ele me disse que estava acostumado. Falava bem e era supereducado. Foi me contando como foi criado, que a mãe tocava piano também. Isso é um refinamento que está na base da cultura, na história. Já outro dia, tinha uma pessoa falando alto no telefone, no aeroporto, e eu ouvi toda a tramoia, o que não é prudente. (Para ser elegante) precisa ter um certo traquejo social, cuja noção alguns não têm.

Li uma entrevista sua para a “Vogue”, sobre uma sessão de fotos com a sua coleção colaborativa de joias com a H.Stern na qual você, ao chegar para uma sessão de fotos, confessou ter dormido de maquiagem. Isso é comum?

Aquele dia, sabia que ia ter foto. Sempre limpo a pele quando vou dormir, mas mantive o olho maquiado. Eu mesma faço o meu olho porque faço melhor que os outros. Sei lidar com as minhas rugas. Uma mulher de 80 anos não é uma modelo que faz o que quer. Mas vou te contar algo que ainda não contei a ninguém. Depois daquelas fotos para a revista, me chamaram para fazer um clipe da cantora Manu Gavassi. Eu participei, foi muito bem dirigido. Aquela menina é muito jovem e supercompetente. O clipe deve sair daqui a pouco. E eu fiz a minha maquiagem, a mesma coisa sempre. É obvio que ali eu tinha que fazer uma personagem, mas eu nunca mudo muito a maquiagem.

Como são os seus rituais de beleza?

Tiro sempre a maquiagem, não lavo o rosto com água e sabão já faz tempo, tiro com demaquilante, mas vou mudando a marca para que a pele não se acostume. Há uns três anos, desenvolvi uma alergia e tomo muito cuidado com os produtos que uso.

Quais são seus hábitos responsáveis por toda essa longevidade?

Sempre pratiquei alguma atividade, mas havia parado na época em que estava trabalhando muito e me dedicava totalmente àquilo. A partir de 2011, comecei com pilates, medito todos os dias e faço caminhadas de três a quatro quilômetros. Às vezes, quando vou viajar, chego mais cedo ao aeroporto e fico caminhando lá dentro, no mesmo ritmo.

Como tem sido a experiência de envelhecer?

Eu vejo pouca gente fazendo o que eu faço hoje e sinto que sou privilegiada. Mas é preciso ressaltar que quem tem privilégio tem que ter também responsabilidade.

Elas por ela

De Constanza para Consuelo Blocker:  Como é ter se reinventado, com todo esse sucesso, após um período tão difícil como é a maturidade?

Como você sabe, o processo foi lento e árduo, o que torna o reconhecimento ainda mais especial. Ainda bem que comecei nove anos atrás! Quem sabe se hoje teria a mesma energia. Mas sentir que tantas pessoas ouvem o que eu tenho a dizer, para mim, é certamente uma realização. Quando adolescente, me lembro que meu bilhete de visita continha, de um lado, ‘filha de Costanza’ e, do outro, ‘filha de Roberto’. Hoje sou eu. Ouvem a minha voz. E espero que isso sirva de exemplo aos meus filhos!

De Costanza para Alessandra Blocker:  Qual foi o maior esforço profissional que você fez até hoje?

Com certeza, meu maior esforço profissional foi escrever este livro, “O Fio da Trama”. Não tanto pelo esforço intelectual, que já foi intenso, mas pelo emocional. Ter que compreender e incorporar toda a trajetória da minha avó, que até hoje me faz falta, a fim de poder narrá-la de maneira que fizesse justiça a uma personagem tão espetacular, foi um dos meus maiores desafios. O outro foi reviver momentos tão intensos de nossas vidas; tanto os felizes quanto os não tão alegres. Espero ter feito um bom trabalho.

Agenda

“Sempre Um Papo” com Costanza Pascolato e as filhas, Alessandra e Consuelo Blocker. Lançamento de “O Fio da Trama: Três países, Uma guerra e a História de Superação de Quatro Mulheres”, e “A Elegância do Agora” (Tordesilhas). Domingo (17), às 19h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro). Entrada gratuita.

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