Quem vê o rosto jovial de Maria Aparecida Moura mal acredita em seus 45 anos e em sua trajetória de vida quase heroica. A persistência e o talento de Cida construiram, ao longo dos anos, uma narrativa real, em que uma empregada doméstica criada na Vila São José, em Belo Horizonte, torna-se uma acadêmica de renome internacional.
Pós-doutora em Semiótica Cognitiva e Novas Mídias formada em Paris, pela universidade Maison de Sciences de l´Homme, Cida acumula uma vasta experiência na academia e hoje coordena o Núcleo de Estudos das Mediações e Usos Sociais dos Saberes e Informações em Ambientes Digitais, da UFMG.
Filha de uma família pobre, Cida tinha acesso a livros pelos clientes da mãe, que trabalhava como lavadeira. Isso, somado ao seu contato com movimentos sociais nos anos 80, serviu de combustível para sua curiosidade e obstinação.
Nesse caminho árduo, sua maior dificuldade ainda é como mulher e negra, ter que provar o tempo todo que sou inteligente o suficiente.
Influenciada por Nelson Mandela e a Prêmio Nobel da Paz Wangari Muta Maathai, Cida acredita que sua função hoje é dar visibilidade ao fato de que a academia também é para negros e pobres. E não faltam histórias de estudantes em condições sociais desfavorecidas que viram em Maria Aparecida um exemplo. Há até, entre seus alunos, quem a chame de Cida Obama. (Sávio Vilela)