Sem dúvida uma chapeleira de honra. Diva dos chapéus, arranjos de cabelo e acessórios Lenice Bismarker faleceu na última terça-feira, vítima de infarto, deixando um grande vácuo na moda mineira. Nos últimos 50 anos ela foi a responsável por criar os mais belos chapéus, que desfilaram nas cabeças das mais elegantes mulheres da tradicional família mineira.
Nas festas, como as realizadas na mansão de Zilda Couto, na Cidade Jardim, as peças confeccionadas por Lenice eram uma espécie de traje obrigatório para a mulher elegante e que queria estar na moda. Os chapéus também estavam presentes nos casamentos mais chiques e nas tardes de prêmio no Jockey Clube de Belo Horizonte.
Para prestar uma homenagem a Lenice, o Pandora ouviu algumas mulheres elegantes, que em seus depoimentos deram a real dimensão do trabalho dessa grande artista. A estilista Iris Chaves se emociona ao lembrar da amiga e mestra. "Para falar sobre o trabalho e a pessoa de Lenice Bismarker teria que talvez escrever um livro. Conheço Lenice há mais de 20 anos. Sempre alegre, dinâmica e positiva. Os meus encontros com ela eram divertidos e gratificantes. Conversávamos horas a fio e o que mais me impressionava era sua doçura, delicadeza e também um lado debochado de levar a vida. Lenice era muito autêntica, tinha personalidade forte e era segura de si. Acredito que foi aí que nos identificamos, não somente por amar a moda, por gostar de estar bem vestida, mas por saber que o ser humano é muito importante na sua essência, nos seus valores, independente do lado material. Uma mulher espiritualizada, que sempre dava dicas de como sobreviver neste mundo cão, como enfrentar a inveja alheia, quando avançar e quando recuar. Lenice era uma guerreira incansável nos seus projetos, dedicada e até mesmo perfeccionista, o que a levava ser muito exigente consigo mesma. Seus chapéus era o símbolo da sua genialidade. Acredito que sim, mas nem tanto, porque ela poderia ter seguido outro rumo, mas escolheu a arte para desenvolver seu dom maior, ser chapeleira de honra. Seus trabalhos enfeitaram grandes mulheres, enobreceram várias festas, trazendo requinte e sofisticação. Lenice, uma artista de corpo e alma, uma fadinha encantada com seu condão que nos tranformava em pessoas melhores. O que mais me fascinava em Lenice era sua forma crítica de olhar o mau gosto, sempre fazendo comentários discretos sobre as produções desastrosas e falando dos modos e comportamentos politicamente incorretos".
De acordo com Chaves, Bismarker era incapaz de citar nomes ou fazer comentários maldosos sobre a vida alheia. Ela também não gostava de gente falsa e abominava pessoas fúteis. "Resumir Lenice pra mim é achar que ainda existe a bondade e o amor", finaliza Iris Chaves.