Questionando gêneros

Vanguardas de outrora  

O que as semanas de moda masculinas e a Alta-Costura trazem de novo? A gente discute isso aqui


Publicado em 01 de fevereiro de 2015 | 04:00
 
 
 
normal

A moda masculina está questionando os gêneros. Depois de as mulheres terem executado, repetidas vezes, esse exercício ao longo da história. Depois também de uma onda, uma enxurrada de peças “boyfriend”, agora é o momento “girlfriend” invadir o armário deles. Se pega, já é assunto pra outra pauta. Na semana de moda de Milão, a Gucci levou blusa de renda, laçarotes e tecidos nobres ultrafemininos, um estilo 60 à la Biba (bem feminino) para a passarela deles. A Prada, que traz a verve vanguardista no DNA, tinha mulheres no casting e peças sisudas, em tons neutros, que valiam para eles e elas. A proposta foi uma repaginada no náilon que tornou a marca famosa nos anos 90. A cara era um mod, também anos 60, em alta nos 90 (quem lembra?). Os rostos limpinhos devem desbancar os barbudos de agora. Entraram também na semana de Paris, em uma Saint Laurent que veste skinny jeans e casaco de pelúcia cor de rosa. Também numa Lanvin que trouxe de volta os anos 80, com cara de Jesus and Mary Chain e a turma gay-outsider, de cabelo em pé, roupa larga e cintura alta de lá. Nostalgia pura.

Para as mulheres a coisa chega devagar, a alta-costura tem ritmo lento, com jeito de vanguarda. Paris traz sempre aquele FaxFlu da moda, desta vez um pouco gasto. Chanel e Dior não estão, de fato, em suas melhores formas. A primeira, mais tradicional das maisons francesas, trouxe, como sempre, uma infinidade de looks (73 no total), ousou com umbigos de fora, mas não valorizou a mulher, como gostava de fazer sua fundadora Gabrielle. O show trouxe silhuetas sisudas, bordados pesados, comprimentos e cortes que envelhecem. Já a Dior ainda não encontrou o equilíbrio, aquela harmonia entre o minimalismo precioso – estilo do criador que contrataram – Raf Simons, e seu romantismo delicado de assinatura. As coisas parecem ainda estar se encaixando. O resultado é bonito, mas ainda um pouco incômodo. Se fosse um jogo, no entanto, teria ganhado.
Em termos de tendências, há novidades no pedaço. Ao contrário dos homens, num futuro próximo as mulheres estarão usando cintura baixa. Pelo menos é o que andam “dizendo” as modelagens das passarelas do couture. Elas voltaram até àquele estilo anos 80, com saia godê. Em alta também está o não tão novo macacão. Desta vez em versão mais justa. Os da Dior, estampados, são adesivos e revelam todos os volumes do corpo feminino. Todas as grifes, porém, trouxeram sua versão. Da mais discreta, como a alfaiataria impecável da Armani Privé, ao oitentista rosa-shocking de Alexis Mabille.

De maneira geral, o estilo, mesmo na alta-costura, está cada vez mais jovem. Vestidos de corte império, tomara que caias, também os cortes retos, sessentinhas, minissaias, tudo remete à moça jovem, mesmo que não seja ela o público-alvo das peças milionárias desfiladas ali. O rosa, aliás, é o tom da vez, do mais pálido ao shocking, deu o ar da graça em quase todas as passarelas, trazendo de volta uma feminilidade literal (e cândida) que parecia ter se perdido em temporadas anteriores.

Uma visita ao passado também aparece na beleza: cabelo puxado em coque baixo foi uma das apostas mais vistas. O olho marcado de delineador vem para arrematar o tom pesado. 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!