A empresária Cristina Gabriel, 50, garante que se curou de uma rinite grave graças à homeopatia. “O uso de medicamentos alopáticos me dava muito sono e cansaço. Depois que conheci a medicina antroposófica, as crises sumiram em alguns meses, sem efeitos colaterais e sem reaparecerem”, afirma.
Ela conta que a terapia durou três meses. “Usei os remédios homeopáticos, por via oral, feitos em laboratório de manipulação. Tomava uma vez por dia. Nos primeiros dias, senti uma grande diminuição das crises. Hoje não tenho mais”, diz a empresária.
Já o programador Ronan Aguiar, 28, tem experiências positivas com a acupuntura. Há quatro meses ele faz sessões semanais para tratar crises de transtorno de ansiedade. Cada sessão dura, em média, 50 minutos. Aguiar tem as agulhas aplicadas principalmente nas costas e na testa. “As melhoras que percebi foram várias, mas a principal foi a retomada do controle emocional. Considero-me outra pessoa”, disse ele à reportagem.
Segundo Fábio Guerra, presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-MG), a homeopatia e a acupuntura já são consideradas especialidades médicas. Mas o órgão adota uma posição de cautela em relação a outras terapias da medicina alternativa. “Devemos ter cuidado para que as terapias não substituam o tratamento convencional. Se elas o complementam e têm o aval do paciente, são muito bem-vindas”, afirma. Isso especialmente nos casos de doenças mais graves, nas quais as práticas integrativas podem ajudar, mas não devem ser o único tratamento.
A Faculdade de Medicina da UFMG já inclui os tratamentos alternativos na grade curricular. A proposta do Núcleo Avançado de Saúde, Ciência e Espiritualidade (Nasce) é conduzir ao aprofundamento da investigação científica referente à interface “Saúde, ciência e espiritualidade”.
Cerca de 130 pessoas estão envolvidas na iniciativa, promovendo palestras, cursos de extensão e simpósios que, geralmente, são abertos ao público. Além disso, o projeto apoia a publicação de livros referentes ao tema e a realização de pesquisas.
O médico Rubens Tavares, professor da UFMG e coordenador do projeto, fala sobre a iniciativa. A disciplina relacionada atualmente com o tema é de responsabilidade do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFMG e se chama tópicos em ginecologia e obstetrícia: saúde e espiritualidade. “A intenção é buscar a visão mais integrativa, somando-a com a medicina tradicional. Essas iniciativas são ferramentas a mais a favor do paciente”, diz.
Nos EUA, por exemplo, 61 faculdades de medicina já contam com disciplinas voltadas às terapias alternativas. No Brasil, diversas universidades de renome seguem no mesmo caminho. Além disso, aumentou o número de profissionais que se especializam. “Percebemos um crescimento de médicos que optam por estudar e aplicar os métodos juntamente com o tratamento clínico”, afirma Fábio Guerra, presidente do CRM-MG.
Maioria no país acha que terapias ajudam na cura
Cerca de 67% dos brasileiros acreditam que as terapias alternativas podem ajudar a curar os casos de câncer. É o que aponta um estudo feito em julho pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), divulgado na semana passada. E 26% dizem acreditar que apenas a estimulação do próprio corpo aumenta as chances de cura, como o uso de terapias de transferência de energia com as mãos.
A entidade entrevistou 1.500 pessoas nos 26 Estados do Brasil e no Distrito Federal. O objetivo foi investigar o conhecimento, os hábitos e o estilo de vida dos brasileiros em relação ao câncer.
Quanto à crença nas terapias alternativas, especialistas ligados à entidade se dividem entre a resignação e a preocupação em relação ao dado – enquanto acreditam que a informação é importante e que é preciso fortalecer a ciência, afirmam, por outro lado, que de nada adianta ter uma postura de enfrentamento em relação à fé.
A entidade ainda identificou que o brasileiro não está profundamente familiarizado quando se trata da doença. Quatro em cada dez afirmaram ter conhecimento mediano, e 26% afirmaram entender profundamente sobre o assunto.
Outro dado importante é que há desinformação em relação a fatores de risco – mais de um em cada quatro brasileiros (27%) dizem não identificar relação entre câncer e sobrepeso; 26% não relacionam o câncer com Doença Sexualmente Transmissível (DST); e 21% acreditam que fumar de vez em quando não aumenta o risco de câncer.
Abordagem surgiu nos EUA nos anos 80
A chamada medicina integrativa surgiu no fim dos anos 80 nos Estados Unidos com a proposta de integrar os tratamentos médicos convencionais com terapias consideradas complementares ou alternativas, cuja segurança e cuja eficácia tenham sido cientificamente provadas, tendo o médico Andrew Weil como um dos seus principais defensores. Em 1994, ele fundou o Centro de Medicina Integrativa da Universidade do Arizona, que já graduou mais de 500 médicos, além de alguns enfermeiros. Weil foi eleito pela revista “Time” uma das cem pessoas mais influentes do mundo.