Constatação

Extrato de ginkgo biloba causa câncer em animais de laboratório

Pesquisa mostrou que substância, usada comumente por quem deseja aperfeiçoar a memória, pode levar a complicações no fígado; no Brasil, Anvisa só permite utilização de extratos da planta em medicamentos


Publicado em 16 de julho de 2013 | 16:23
 
 
 
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Já tem quase duas décadas que o representante comercial Ricardo Fonseca, 57, começou a fazer uso de cápsulas de ginkgo biloba para dar um reforço à alimentação. “Comecei a usar como um polivitamínico há 17 anos e até hoje continuo ”, afirma. “Elas fazem uma compensação de energia. Funcionam como um energético natural, como guaraná em pó”, acredita. Assim como ele, milhões de pessoas tomam suplementos à base da planta (de origem chinesa) para melhorar a memória e prevenir a demência. Até agora, estudos realizados a respeito do extrato nunca encontraram evidências sólidas de que ele proporciona isso, mas ele também não parecia estar fazendo mal.

No mês passado, porém, cientistas norte-americanos divulgaram o primeiro estudo financiado pelo governo a respeito da toxicologia da ginkgo biloba, que constatou que o extrato – um dos suplementos à base de plantas mais vendidos no país – causou câncer em animais de laboratório, incluindo doenças no fígado e na tireoide, bem como tumores nasais.

Os resultados foram surpreendentes porque a ginkgo biloba tem uma história longa e aparentemente benigna de uso humano. Os resultados não confirmam que o complemento é perigoso, mas é preocupante que os animais tenham tendido a sofrer dos mesmos tipos de problemas, dizem especialistas. "Percebemos uma regularidade de ocorrências entre os sexos e as espécies", disse a integrante do Programa Nacional de Toxicologia e cientista-chefe do estudo, Cynthia Rider.

Diretores da Associação Americana de Produtos Herbais, organização comercial de empresas que vendem ervas e produtos botânicos, e o Conselho Americano de Botânica, grupo que faz publicações sobre plantas medicinais, criticaram o estudo. Eles afirmam que o extrato utilizado tinha uma composição química diferente da do tipicamente vendido no varejo. Além disso, questionaram até que ponto é possível aplicar estudos de toxicidade animal à saúde humana.

Nos Estados Unidos, a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) já proíbe a presença de ginkgo biloba em alimentos e bebidas e a agência tem insistido junto aos fabricantes de bebidas para que removam o extrato da planta de seus produtos. Porém, quando se trata de suplementos, o governo segue um padrão diferente. "Nós não analisamos os suplementos antes de eles chegaram ao mercado", disse a porta-voz da FDA, Tamara Ward. Ela também informou que a instituição está analisando novas evidências obtidas pelo estudo e talvez mude as suas orientações no futuro.

Já no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe que a substância seja comercializada como suplemento alimentar, pois possui propriedades terapêuticas. Por outro lado, o uso de extratos de ginkgo biloba em medicamentos é permitido (desde que o remédio seja registrado pelo órgão). A produção pode ser feita de forma industrial ou manipulada, mas é necessária a apresentação de prescrição médica em ambos os casos.

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